segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Em busca do equilíbrio

Mauricio Tolmasquim
MAURICIO TOLMASQUIM 
Belo Monte evitará a emissão de 18 milhões de toneladas de CO2 que seriam jogadas na atmosfera pela geração equivalente de usinas movidas a gás
O Brasil possui o terceiro maior potencial hidrelétrico do mundo, depois da China e da Rússia.
Diferentemente de Alemanha, Japão e Estados Unidos, que praticamente já aproveitaram todos os seus recursos, quase dois terços do potencial brasileiro ainda estão intocados, grande parte na Amazônia.

A exploração sustentável da Amazônia e a preservação de sua tão rica biodiversidade, um dos maiores patrimônios naturais da humanidade, impõem-se. Conservar o bioma amazônico e empreender seu uso sustentável não são absolutamente incompatíveis.

Pelo contrário. Belo Monte e outras usinas hidrelétricas podem sim ser vetor da preservação e do uso sustentável da floresta, com a inclusão social das populações que vivem em condições precárias, sem acesso a serviços públicos básicos.

O consumo per capita de energia no país ainda é muito baixo. Hoje, cada brasileiro consome cerca de 14% em comparação com o norte-americano, ou 30% em relação ao europeu. A incorporação de contingentes da população que até então não tinham acesso a bens e serviços básicos fará aumentar em 50% esse consumo em dez anos.

Para atender a demanda, será necessária expansão considerável da oferta de energia, mesmo que se promova a eficiência energética. O país não pode abrir mão de uma fonte renovável e barata como a hidrelétrica. Se, por hipótese, fossem implantadas todas as hidrelétricas que constituem o potencial da Amazônia, o somatório de seus reservatórios ocuparia menos de 0,5% de sua área total. Apenas para efeito de comparação, terras indígenas representam 24% e as unidades de conservação 27%. O reservatório da usina de Belo Monte ocupará uma área de 503 km² --apenas 0,01% da Amazônia.

Com potência de 11.233 MW, está entre os projetos com menor relação entre área do espelho d'água e potência instalada. Devido às características do rio Xingu e em razão da ausência de regulação a montante, a energia média de Belo Monte é inferior ao seu potencial passível de ser explorado. Ainda assim é suficiente para atender o consumo de 60 milhões de pessoas.

Modernamente, a implantação de projetos hidrelétricos se faz mediante uma série de condicionantes socioambientais, que se traduzem em investimentos para preservação ambiental, recuperação de matas ciliares, infraestrutura, saneamento básico e abastecimento de água, saúde e educação.

Para além dos R$ 3,2 bilhões relativos aos condicionantes, os municípios da região de Altamira e o Estado do Pará receberão, ao longo do prazo de concessão de Belo Monte, cerca de R$ 5 bilhões a título de compensação financeira.

Mesmo com a inclusão das medidas socioambientais e compensações financeiras, o custo por kWh gerado por Belo Monte ainda será extremamente competitivo, contribuindo para a modicidade tarifária, de claro interesse para a população e para a economia nacional.

Além disso, Belo Monte evitará a emissão de 18 milhões de toneladas de CO2 que seriam jogadas na atmosfera pela geração equivalente de usinas movidas a gás (ou de até 45 milhões, na comparação com a geração a carvão). Em média, o mundo emite cerca de 500 gramas de CO2/kWh. Países com emissões de gases inferiores a 100g/kWh ou têm base hidrelétrica, como Noruega e Brasil, ou têm base nuclear, como a França, ou ambas, como a Suécia.

O desenvolvimento sustentável requer o equilíbrio entre as três dimensões pelas quais deve ser avaliado um projeto --a social, a ambiental e a técnica-econômica--, e não a prevalência de qualquer uma delas. Belo Monte, na forma como está sendo implantada, demonstra que esse equilíbrio é a chave do sucesso.



Brasil 247

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