Da garantia do apagão de energia feita na virada
de 2012 para 2013, que não ocorreu, à previsão do estouro nas contas
públicas, que, na verdade, bateram recorde positivo, projeções funestas
para economia brasileira não se materializaram; colunistas da mídia
familiar como Eliane Cantanhêde e Miriam Leitão erraram todas as suas
previsões negativas; economistas como Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco,
defenderam o desemprego como instrumento de controle da inflação, mas
equipe econômica não acatou sugestão e manteve inflação na meta com
regime de pleno emprego; vaticínio de fracasso nas concessões, formulado
por André Esteves, do BTG Pactual, também foi desmentido pelos fatos
Marco Damiani 247
- Com uma inflação que não deve chegar a 6% em 2013, dentro da meta
estabelecida pelo Banco Central de até 6,5%, o ano vai se encerrando sem
a crise prognosticada pelos oráculos da mídia familiar,
incessantemente, nos últimos doze meses.
Além da taxa de variação
de preços sob controle, resultados na geração de empregos e no superávit
primário bateram recordes históricos. As vendas do comércio no Natal
cresceram pelo 11º ano consecutivo. O índice de confiança empresarial
medido pela CNI também registra alta. Além disso, o programa de
concessões de setores de infraestrutura à iniciativa privada, como
aeroportos, estradas e o campo de Libra, do pré-sal, superaram até mesmo
as mais otimistas expectativas do governo – quanto mais aquelas feitas
por observadores que apostavam contra o seu sucesso.
Identificada com esses
resultados da economia, o que igualmente ocorreria (e até mais
acentuadamente) se fossem colhidas decepções, a presidente Dilma
Rousseff fecha o ano com a popularidade de seu governo e de si própria
em alta. Até mesmo a mídia estrangeira, que pediu em mais de uma edição,
por meio da revista The Economist, a cabeça do ministro da Fazenda,
Guido Mantega, teve de se dobrar aos fatos.
A mesma Economist, no mês
passado, registrou que “finalmente a conjuntura está mudando” para o
Brasil, com elogios aos leilões de concessões de infraestrutura. Nesta
sexta-feira 27, após mais um leilão bem sucedido para a exploração de
uma rodovia federal, o The Wall Street Journal escreveu que Dilma “está
em alta”.
Este tipo de autocrítica
de quem errou e reconhece o erro não se vê na mídia familiar e
tradicional do País. Por aqui, tantas foram as barbeiragens em
avaliações e previsões feitas pelos chamados analistas e especialistas,
sempre apoiados por economistas considerados de primeira grandeza, que
reconhecer os deslizes seria, na prática, um exercício de autoflagelação
coletiva.
Capítulo a capítulo, 247 mostra agora o que foi dito e o que, de fato, aconteceu:
1 – O apagão que não houve
O ano de 2013 começou com
garantias expressas de figurões da mídia, como a colunista Eliane
Cantanhêde, do jornal Folha de S. Paulo, de que o Brasil viveria um
apagão de energia. Não adiantou o governo, por meio de ministros,
técnicos e da própria presidente Dilma assegurar que os reservatórios
estavam no nível de segurança, apesar de baixos. Rebatia-se, com a
arrogância típica da antiga grande imprensa, que as autoridades estavam
simplesmente mentindo para o público.
O que se viu, no entanto,
foi uma grande ‘barriga’ – nome dado a erros crassos de jornalistas –
dos articulistas. O apagão não veio, as luzes foram mantidas acesas e só
o que começou a piscar foi o prestígio de publicações e escribas em
razão das pesadas cargas de desinformação lançadas sobre os leitores.
2. A inflação que não disparou
À medida em que o
fantasma do apagão de energia nem saiu do armário, os proclamados
especialistas procuraram outra assombração. Nada melhor, àquela altura,
para amedrontar o público, do que o dragão da inflação – simbolizado, em
capas ridículas de Veja e Época, nas altas sazonais do tomate.
Jogando como se fizessem
profecias que se auto realizariam, notáveis como a colunista Miram
Leitão, de O Globo, baixaram suas cartas na certeza de que a meta de
6,5% do Banco Central seria estourada logo depois da metade do ano.
Litros de tintas e rolos inteiros de papel foram gastos com essas
previsões. Num gesto extremo, certo de que as labaredas já começavam a
soprar pelas ventas do dragão, o economista-chefe e sócio do banco Itaú
Unibanco, Ilan Goldfajn, pediu, em mais de um artigo publicado no jornal
O Estado de S. Paulo, que as autoridades provocassem o “esfriamento” da
economia. Goldfajn deixou claro que, para ele, somente o desemprego
poderia frear a demanda e, assim, normalizar os preços dos mais
diferentes produtos.
Ninguém na administração
federal e na iniciativa privada, para sorte dos trabalhadores
empregados, deu ouvidos ao lobby desenvolvido por Goldfajn.
O que se tem agora,
quando 2013 chega ao fim, é um recorde histórico na geração de empregos,
que foi a maior do País desde 2002. E, ainda, o que há é uma taxa de
inflação projetada que não chegará aos 6%, permanecendo abaixo da meta
de até 6,5% estabelecida pelo Banco Central.
Esses são fatos que
suplantaram os argumentos dos defensores do desemprego como ferramenta
anti-inflacionária, como também fez Persio Arida, do BTG Pactual.
3. Os empresários que continuam otimistas
Nos últimos três meses, a
moda nas páginas econômicas dos chamados jornalões foi abrir espaço
para quem dizia que a paciência dos empresários com o governo federal
estava por um triz. Mais especialmente que, num coletivo organizado e
furioso, os capitães da indústria, do comércio e dos serviços estariam
irritados e distantes da presidente Dilma.
Neste final de ano,
porém, pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou
otimismo para 2014. Em diferentes manifestações, empresários
demonstraram que não tinham problemas de relacionamento com Dilma ou
agentes do governo. Benjamin Steinbruch, da CSN, ao longo do ano, e
Abílio Diniz, da BRF Foods, na semana passada, jogaram água fria nos
vitupérios pessimistas, garantindo que, na indústria, o nível de
reclamação sobre o governo nem de longe é o sonhado pela oposição.
4. Concessões foram um sucesso
Em meados do ano, o
banqueiro carioca André Esteves, do BTG Pactual, ganhou o espaço nobre
de entrevistas da revista Veja para dizer que estava impossível “vender”
o Brasil a investidores internacionais. Após dizer, no curso do governo
Lula, que o Brasil vivia seu melhor momento em 500 anos de história,
Esteves, um dos homens mais ricos do País, reclamava da vida e, em
particular, dos leilões de concessão de infraestrutura então em montagem
pelo governo. Na sequência dessa ação de anti-propaganda, outro sócio
de Esteves, o ex-Vale Roger Agnelli, também foi aos microfones à
disposição para atacar o novo marco regulatório do setor de mineração.
Ambos caíram no vazio.
Depois do ping-pong de Esteves, o que se viu foi o espetáculo dos
leilões de concessões acontecer de maneira transparente – e fulgurante –
diante do público. A partir da batida do martelo do campo de Libra, do
pré-sal, em outubro, que resultou em bônus de R$ 15 bilhões para o caixa
do governo, a administração federal leiloou aeroportos e estradas com
forte rebaixamento de pedágios e altos pagamentos pela exploração dos
equipamentos. Caiu por terra todo o mau agouro dos que apostavam no
fracasso. Como disse o Wall Street Journal, em razão do bem sucedido
programa de concessões, a presidente Dilma fecha 2013 “em alta”.
5. Superávit é recorde em 2013
Como todas as apostas em
assuntos comezinhos da economia haviam fracassado, os arautos do caos
passaram a pregar que um importante pilar macroeconômico estava
corroído. De acordo com esses ‘analistas’, as contas públicas
mergulhariam, em 2013, num rombo de profundidade assustadora. Tão fundo e
tão escuro, que seria capaz de tragar para dentro de si todos os
resultados favoráveis conquistados contra a inflação e a favor do
crescimento sustentado do País.
Outra vez, porém, ficou
claro que o papel aceita tudo, inclusive a veiculação da desinformação.
Números oficiais divulgados nesta sexta-feira 27 pelo Ministério da
Fazenda mostram que o superávit primário (que mede receitas menos
despesas, antes dos gastos com juros) alcançou R$ 28,8 bilhões em
novembro, chegando a um saldo acumulado no ano de R$ 62,4 bilhões. Com
as projeções para dezembro, as contas públicas fecharão no azul acima da
meta de R$ 73 bilhões, estabelecida pelo governo. Mais esta vez, quem
jogou contra a banca do ministro Guido Mantega se deu mal.
6. Tempestade perfeita já se dissipa
Mesmo com os fracassos de
previsões conservadoras sucedendo-se um a um ao longo do ano, houve
ainda quem, nas últimas semanas, jogasse suas fichas no seguinte ponto:
ok, 2013 passou, mas esperem para ver o tamanho da encrenca que nos
aguarda em 2014.
O articulista Demétrio
Magnolli, um ex-esquerdista que caiu nas graças da mídia familiar,
resgatou a expressão Tempestade Perfeita para, nas páginas do
quatrocentão O Estado de S. Paulo, procurar disseminar o medo sobre o
futuro próximo. O problema, para ele, é que seu vaticínio às avessas não
colou nem apenas por alguns dias.
O professor Delfim Netto,
um dos economistas mais respeitados do País à direita e à esquerda,
repôs a discussão em seu lugar correto ao afirmar, em artigo no jornal
Valor Econômico, que o governo, por meio de ações críveis à sociedade e
aos investidores, continua tendo todas as condições para conduzir sem
sobressaltos a economia brasileira no próximo ano. Para Delfim, não há
nenhuma tempestade, nem perfeita nem mais que perfeita, no horizonte.
Para corroborar essa avaliação, o Fed avalia que a economia dos Estados
Unidos já apresenta fortes sinais de recuperação, o que tiraria do céu
de qualquer temporal sua nuvem mais importante. Quem vê a economia
global sem paixões ideológicas enxerga até chuvas e garoas para 2014,
mas nenhuma tempestade perfeita está no radar de organismos como a União
Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.
Em 2014, muitos outros
capítulos da história econômica contemporânea do Brasil serão escritos. O
que se espera é que com mais sustentação na realidade. A ficção,
afinal, é para literatos.
Brasil 247
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