A compra dos aviões Gripen NG significam um salto na indústria de defesa nacional; ou em um erro histórico? Aqui (http://tinyurl.com/m4z5sv8) a defesa do Gripen; aqui (http://tinyurl.com/mqtjfkh) o ataque.
As duas posições - contra e a favor -
podem ser entendidas a partir da maneira como cada debatedor encara o
contrato. Um representa a visão de "cliente"; outro, a visão estratégica
de defesa.
O "cliente" quer a melhor máquina,
independentemente do preço e das chamadas externalidades positivas. A
visão estratégica visa criar as melhores condições para o
desenvolvimento tecnológico interno.
Quando o Brasil adquiriu os Tucanos,
coube à Embraer a assimilação da tecnologia, que lhe foi de plena valia
no desenvolvimento posterior dos seus aviões comerciais. Tornou-se um
player internacional e um fabricante de aviões de treinamento militar.
Agora, o acordo com a SAAB-Scania lhe
permitirá acesso à tecnologia supersônica, assim como o das demais
empresas de defesa que se envolverão com os projetos.
***
Em um dos seminários do Projeto Brasil,
sobre a indústria de defesa e sobre a licitação FX, o respeitabilíssimo
Brigadeiro Sérgio Ferolla deu o diagnóstico definitivo:
- Se fosse do governo, em vez de comprar
aviões de fora investiria toda esse dinheiro no desenvolvimento de um
avião nacional. O que interessa é o domínio da tecnologia, e não possuir
a última máquina de guerra.
Há duas maneiras de desenvolver
tecnologia: investindo esforços próprios e recorrendo à reengenharia; ou
cortando etapas através de acordos internacionais bem elaborados.
Em ambos os casos, o Estado se vale de
dois poderes de indução: financiamentos para pesquisa e poder de compra.
No caso de parcerias, corta-se caminho e ganha-se tempo.
***
O fato do Gripen não ser um projeto
acabado, não é desvantagem. Pelo contrário: permitirá não apenas a
participação brasileira no desenvolvimento de áreas críticas, com os
suecos aportando seu conhecimento de supersônicos, como também da
propriedade intelectual. E tudo saindo do financiamento da SAAB-Scania
para a compra dos aviões.
Além disso, visará tornar o Brasil uma base de produção para a exportação de aviões.
***
E aí se entra na questão dos nichos de mercado a serem explorados.
O Gripen parece o mais adequado para
países emergentes. Não tem o alcance e a potência dos F-18, Rafale ou
Sukoy, armamentos caros e pensados para guerras convencionais entre
potências militares. Pelas descrições, é leve, barato, tanto no preço
quanto na manutenção, flexível e adequado para países pobres ou
emergentes, o melhor nicho para produtos tecnológicos brasileiros.
Suponha o contrato com a Boeing ou a
Dassault. Alguém imaginaria que a mera assimilação de partes da
tecnologia permitiria ao Brasil competir nos mercados de caças de
primeira linha? É evidente que não.
No máximo, daria alguma flexibilidade na
manutenção dos jatos ou na implementação de alguns sistemas tropicais -
a exemplo do que fez Israel com os Mirages franceses.
Há que se aguardar o detalhamento do
acordo. Pelos anúncios até agora efetuado, foi um lance maior no
desenvolvimento de uma tecnologia de defesa.
Blog do Luis Nassif
Nenhum comentário:
Postar um comentário