21 de dezembro de 2013 | 07:16 Autor: Miguel do Rosário
Prenderam Dirceu sem terem um áudio ou vídeo que comprometessem o
ex-ministro. Já os caciques do DEM foram flagrados em vídeos e
telefonemas comprometedores e continuam livres, leves e soltos. O
ex-senador e ex-mosqueteiro da ética da Veja, Demóstenes Torres, está
lá, tranquilo, recebendo seu salário. José Arruda, ex-governador do DF,
passa muito bem e pensa em se candidatar novamente. E agora, Agripino
Maia apareceu numa investigação da PF pedindo uma parcela de R$ 20 mil
referentes a uma doação prometida de R$ 60 mil.
As gravações de Maia e correligionários falando sobre caixa 2 vieram a
público em maio de 2012. Nunca deu em nada. Agora o Ministério Público
resolveu desarquivar o caso!.
*
Leia a matéria da Istoé (o site da revista está fora do ar, mas a íntegra da matéria segue abaixo):
Caixa 2 democrata
Ministério Público Federal investiga esquema envolvendo a
governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini, e o presidente do
DEM, Agripino Maia. Escutas telefônicas revelam transações financeiras
ilegais durante campanha
Por Josie Jeronimo, na Istoé.
Pequenino em área territorial, o Rio Grande do Norte empata em
arrecadação tributária com o Maranhão, Estado seis vezes maior. Mas,
apesar da abundância de receitas vindas do turismo e da indústria, a
administração do governo potiguar está em posição de xeque. Sem dinheiro
para pagar nem mesmo os salários do funcionalismo, a governadora
Rosalba Ciarlini (DEM) responde processo de impeachment e permanece no
cargo por força de liminar. Sua situação pode se deteriorar ainda mais
nos próximos dias.
O Ministério Público Federal desarquivou investigação iniciada no Rio
Grande do Norte que envolve a cúpula do DEM na denúncia de um
intrincado esquema de caixa 2. Todo o modus operandi das transações
financeiras à margem da prestação de contas eleitorais foi registrado em
escutas telefônicas feitas durante a campanha de 2006, às quais ISTOÉ
teve acesso. A partir do monitoramento das conversas de Francisco Galbi
Saldanha, contador da legenda, figurões da política nacional como o
presidente do DEM, senador José Agripino, e Rosalba foram flagrados.
A voz inconfundível de José Agripino surge inconteste em uma
das conversas interceptadas. Ele pergunta ao interlocutor se a parcela
de R$ 20 mil – em um total de R$ 60 mil prometidos a determinado aliado –
foi repassada. A sequência das ligações revela que não era uma
transição convencional. Segundo a investigação do MP, contas
pessoais de assessores da campanha eram utilizadas para receber e
transferir depósitos não declarados de doadores. Uma das escutas mostra
que até mesmo Galbi reclamava de ser usado para as transações. Ele se
queixa:“Fizeram uma coisa que eu até não concordei, depositaram na minha
conta”.
Galbi continua sendo homem de confiança do partido no Estado. Ele
ocupa cargo de secretário-adjunto da Casa Civil do governo. Em 2006, o
contador foi colocado sob grampo pela Polícia Civil, pois era suspeito
de um crime de homicídio. O faz-tudo nunca foi processado pela morte de
ninguém, mas uma série de interlocutores gravados a partir de seu
telefone detalharam o esquema de caixa 2 de campanha informando número
de contas bancárias de pessoas físicas e relatando formas de emitir
notas frias para justificar gastos eleitorais.
Nas gravações que envolvem Rosalba, o marido da governadora, Carlos
Augusto, liga para Galbi e informa que usará de outra pessoa para
receber doação para a mulher, então candidata ao Senado. “Esse dinheiro é
apenas para passar na conta dele. Quando entrar, aí a gente vê como é
que sai para voltar para Rosalba.” O advogado da governadora, Felipe
Cortez, evita entrar na discussão sobre o conteúdo das escutas e não
questiona a culpa de sua cliente. Ele questiona a legalidade dos
grampos. “Os grampos por si só não provam nada. O caixa 2 não existiu.
As conversas tratavam de assuntos financeiros, não necessariamente de
caixa 2”, diz o advogado de Rosalba.
Procurado por ISTOÉ, o senador José Agripino não nega que a voz
gravada seja dele. No entanto, o presidente do DEM afirma que as
conversas não provam crime eleitoral. “O único registro de conversas do
senador José Agripino refere-se à concessão de doação legal do partido
para a campanha de dois deputados estaduais do RN”, argumenta.
No Rio Grande do Norte, José Agripino é admirado e temido por seu
talento em captar recursos eleitorais. Até mesmo os adversários pensam
duas vezes antes de enfrentar o senador com palavras. Mas o poderio
econômico do presidente do DEM também está na mira das investigações
sobre o abastecimento das campanhas do partido. A Polícia Federal apura
denúncia de favorecimento ao governo em contratos milionários com a
Empresa Industrial Técnica (EIT), firma da qual José Agripino foi sócio
cotista até agosto de 2008. Nas eleições de 2010, o senador recebeu R$
550 mil de doação da empreiteira. Empresa privada, a EIT é o terceiro
maior destino de recursos do Estado nas mãos de Rosalba. Perde apenas
para a folha de pagamento e para crédito consignado. Só este ano foram
R$ 153,7 milhões em empenhos do governo, das secretarias de
Infraestrutura, Estradas e Rodagem e Meio Ambiente. Na crise de
pagamento de fornecedores do governo Rosalba, que atingiu o salário dos
servidores e os gastos com a Saúde, a população foi às ruas questionar o
porquê de o governo afirmar que não tinha dinheiro para as despesas
básicas, mas gastava milhões nas obras do Contorno de Mossoró,
empreendimento tocado pela EIT.
De acordo com a investigação do MPF, recursos do governo do Estado
saíam dos cofres públicos para empresas que financiam campanhas do DEM
por meio de um esquema de concessão de incentivos fiscais e sonegação de
tributo, que contava com empresas de fachada e firmas em nome de
laranjas. O esquema de caixa 2 tem, segundo o MP, seu “homem da mala”. O
autor do drible ao fisco é o empresário Edvaldo Fagundes, que a partir
do pequeno estabelecimento “Sucata do Edvaldo” construiu, em duas
décadas, patrimônio bilionário. No rastreamento financeiro da Receita
Federal, a PF identificou fraude de sonegação estimada em R$ 430
milhões.
O empresário é acusado de não pagar tributos, mas investe pesado na
campanha do partido. Nas eleições de 2012, Edvaldo Fagundes não só
vestiu a camisa do partido como pintou um de seus helicópteros com o
número da sigla. A aeronave ficou à disposição da candidata Cláudia
Regina (DEM), pupila do senador José Agripino. Empresas de Edvaldo, que a
Polícia Federal descobriu serem de fachada, doaram oficialmente mais de
R$ 400 mil à campanha da candidata do DEM. Mas investigação do
Ministério Público apontou que pelo menos outros R$ 2 milhões deixaram
as contas de Edvaldo rumo ao comitê financeiro da legenda por meio de
caixa 2.
Brasil 247
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