19 de dezembro de 2013 | 16:48 Autor: Fernando Brito
Como disse ontem aqui, foi o pacote tecnológico – ao lado do preço e
custo operacional – o que definiu a escolha do Grippen NG como
equipamento para o início do reaparelhamento da Força Aérea Brasileira.
Como o Grippen NG é um projeto ainda em aberto – diferentemente dos
F-18 e Rafale, aparelhos “terminados” – os compromissos dos suecos
começam no desenvolvimento do aparelho que voa hoje, a expectativa
brasileira é absorver o conhecimento que esta etapa requer, numa
cooperação que envolve cláusulas de produção local de peças que, por
contrato, não poderão ser fabricadas em outros países, tornando o Brasil
sócio dos Grippen que vierem a ser comprados por outros países.
Num tempo em que força militar e tecnologia se confundem quase que
totalmente, este não pode ser considerado um aspecto meramente
econômico, mas de poder bélico.
Mas outras considerações também foram levadas em conta.
Uma delas, mencionei ontem: são equipamentos que exigem pouquíssima
pista de pouso, o que facilita sua dispersão, em duplas ou até
isoladamente, no caso de uma ameaça com capacidade balística de atingir
alvos a grande distância e com alta precisão, o suficiente para produzir
estragos pesadíssimos a uma esquadrilha que, em momentos de eventual
necessidade, tivesse de permanecer baseada em uma ou poucas bases.
A outra é a concepção do tipo de ameaça que pode ser feita ao Brasil.
Nos anos 80, a mentalidade militar brasileira ainda tinha o secular
vício de prever a possibilidade de combate de fronteira, especialmente
com a Argentina. Tanto que seu interesse de cooperação militar voltou-se
para o caça AMX, de ataque ao solo, que funcionaria como apoio a
missões de blindados e tropas terrestres.
Hoje, as preocupações militares intracontinentais são voltadas para
os dois países que desenvolveram mais rapidamente seu poderio militar:
Colômbia e Venezuela.
A Colômbia, como resultado de sua política de ceder bases militares
aos Estados Unidos, tem acesso a inteligência, vigilância por satélites e
equipamentos modernos. Numa guerra de fronteiras, e de selva, portanto,
tem a vantagem de possuir um efetivo praticamente igual ao do Exército
Brasileiro, ao redor de 180 mil homens, o que é uma enormidade para um
país com apenas 25% da população brasileira.
O outro é a Venezuela, cujo principal vetor ofensivo são os modernos
Sukoi-30, não tem uma estrutura militar que indique qualquer estratégia
ofensiva sobre países da região: seu exército não chega a 40 mil homens e
suas preocupações são com um eventual ataque americano, o que explica
seu investimento em aviões moderníssimos e na compra de submarinos e
mísseis que negocia com os russos.
Já o Brasil, em termos de aviação de caça de longo alcance, sempre
concentrou seus recursos na região de Brasília, o que permitiria
alcançar tanto as fronteiras do sul quanto as amazônicas, além da óbvia
missão de proteger a capital federal.
Hoje, porém, a compreensão dos militares brasileiros está
considerando as áreas mais cobiçadas e vulneráveis do país estão na
plataforma continental rica em petróleo e na faixa litorânea, cuja
desorganização com ataques militares tornaria o país virtualmente
indefeso.
A ameaça considerada nestes exercícios é a de um ataque aeronaval,
combinando todo o tipo de armas embarcadas: aviões e mísseis.
E a defesa possível contra isso é a vulnerabilidade dos vetores
navais que os conduzem a ataques aéreos pontuais, efetuados por
aeronaves que partam de pontos relativamente próximos à costa,
diminuindo o tempo de voo e de reação à sua detecção remota ou por
submarinos que possam, pela sua natureza furtiva, representar ameaça a
vasos de guerra invasores.
O reequipamento das Forças Armadas brasileiras, como se vêm, não é
apenas uma escolha deste ou daquele aparelho por sua qualidade
tecnológica ou operacional “de per si”.
Leve em conta o tipo de agressão que um país com um imenso litoral riquissimo em petróleo pode sofrer.
E a capacidade de dissuasão, pelo risco de resposta, que a ela pode se opor.
Tijolaço
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