sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Definição de defesa aérea muda conforme mudam as ameaças

19 de dezembro de 2013 | 16:48 Autor: Fernando Brito
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Como disse ontem aqui, foi o pacote tecnológico – ao lado do preço e custo operacional – o que definiu a escolha do Grippen NG como equipamento para o início do reaparelhamento da Força Aérea Brasileira.

Como o Grippen NG é um projeto ainda em aberto – diferentemente dos F-18 e Rafale, aparelhos “terminados” – os compromissos dos suecos começam no desenvolvimento do aparelho que voa hoje, a expectativa brasileira é absorver o conhecimento que esta etapa requer, numa cooperação que envolve cláusulas de produção local de peças que, por contrato, não poderão ser fabricadas em outros países, tornando o Brasil sócio dos Grippen que vierem a ser comprados por outros países.

Num tempo em que força militar e tecnologia se confundem quase que totalmente, este não pode ser considerado um aspecto meramente econômico, mas de poder bélico.

Mas outras considerações também foram levadas em conta.

Uma delas, mencionei ontem: são equipamentos que exigem pouquíssima pista de pouso, o que facilita sua dispersão, em duplas ou até isoladamente, no caso de uma ameaça com capacidade balística de atingir alvos a grande distância e com alta precisão, o suficiente para produzir estragos pesadíssimos a uma esquadrilha que, em momentos de eventual necessidade, tivesse de permanecer baseada em uma ou poucas bases.

A outra é a concepção do tipo de ameaça que pode ser feita ao Brasil.

Nos anos 80, a mentalidade militar brasileira ainda tinha o secular vício de prever a possibilidade de combate de fronteira, especialmente com a Argentina. Tanto que seu interesse de cooperação militar voltou-se para o caça AMX, de ataque ao solo, que funcionaria como apoio a missões de blindados e tropas terrestres.

Hoje, as preocupações militares intracontinentais são voltadas para os dois países que desenvolveram mais rapidamente seu poderio militar: Colômbia e Venezuela.

A Colômbia, como resultado de sua política de ceder bases militares aos Estados Unidos, tem acesso a inteligência, vigilância por satélites e equipamentos modernos. Numa guerra de fronteiras, e de selva, portanto, tem a vantagem de possuir um efetivo praticamente igual ao do Exército Brasileiro, ao redor de 180 mil homens, o que é uma enormidade para um país com apenas 25% da população brasileira.

O outro é a Venezuela, cujo principal vetor ofensivo são os modernos Sukoi-30, não tem uma estrutura militar que indique qualquer estratégia ofensiva sobre países da região: seu exército não chega a 40 mil homens e suas preocupações são com um eventual ataque americano, o que explica seu investimento em aviões moderníssimos e na compra de submarinos e mísseis que negocia com os russos.

Já o Brasil, em termos de aviação de caça de longo alcance, sempre concentrou seus recursos na região de Brasília, o que permitiria alcançar tanto as fronteiras do sul quanto as amazônicas, além da óbvia missão de proteger a capital federal.

Hoje, porém, a compreensão dos militares brasileiros está considerando as áreas mais cobiçadas e vulneráveis do país estão na plataforma continental rica em petróleo e na faixa litorânea, cuja desorganização com ataques militares tornaria o país virtualmente indefeso.
A ameaça considerada nestes exercícios é a de um ataque aeronaval, combinando todo o tipo de armas  embarcadas: aviões e mísseis.

E a defesa possível contra isso  é a vulnerabilidade dos vetores navais que os conduzem a ataques aéreos pontuais, efetuados por aeronaves que partam de pontos relativamente próximos à costa, diminuindo o tempo de voo e de reação à sua detecção remota ou por submarinos que possam, pela sua natureza furtiva, representar ameaça a vasos de guerra invasores.

O reequipamento das Forças Armadas brasileiras, como se vêm, não é apenas uma escolha deste ou daquele aparelho por sua qualidade tecnológica ou operacional “de per si”.

Leve em conta o tipo de agressão que um país com um imenso litoral riquissimo em petróleo pode sofrer.

E a capacidade de dissuasão, pelo risco de resposta, que a ela pode se opor.



Tijolaço

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