22 de dezembro de 2013 | 12:38 Autor: Fernando Brito
Um pequeno parágrafo no meio de uma reportagem publicada pela Reuters explica a disposição dos Estados Unidos em “transferir tecnologia” ao Brasil caso este comprasse os F-18 Super Hornet.
“Nos níveis de produção atuais, o Super Hornet sairia de linha em
2016, e os F-15 dois anos depois. A Boeing e seus fornecedores vinham
contando com acordos militares no exterior para ampliar a vida dos dois
aviões, mas as pressões orçamentárias estão atrasando os fechamentos de
contrato em alguns mercados cruciais, além de reduzir compras nos
Estados Unidos.”
Claro que os F-18 estão muito longe de serem caças obsoletos. Ao
contrário, são aviões poderosos, testados em operação e ofereciam,
certamente um nível de confiabilidade.
Mas sua saída de linha em 2016 indica que a Boeing desistiu de
qualquer aprimoramento na linhagem de uma família de caças que foi posta
em operação, na sua primeira versão, em 1999.
Rarissimamente se lê isso em nossa imprensa.
Na verdade, a produção dos F-18 terminaria em 2015, mas uma encomenda
australiana prolongou por um ano a desativação. Os australianos, porém,
terão acesso ao F-35A, sucessor do F-18 e do F-22 Raptor. O F-35A é um
avião stealth, invisível aos radares, cuja tecnologia, é obvio, o EUA não estão dispostos a partilhar.
O Conference of Defense Association, um instituto canadense, publica que, como o governo americano recusou as propostas da Boeing em desenvolver atualizações nos Super Hornet para concentrar recursos no aprimoramento e produção do F-35A, a empresa decidiu por cancelar estes planos.
O Navytimes.com diz que a Marinha dos EUA vai retirar de serviço, progressivamente, os F-18 a partir de 2025.
É por isso que você está encontrando matérias dizendo que a perda da
concorrência no Brasil preocupou muito os americanos. A venda dos F-18 é
importante para que mantenham postos de trabalho em suas linhas de
montagem e a cadeia de suprimentos dos quais eles dependem.
Além, é claro, de equipar com um equipamento do qual conhece todas as
vulnerabilidades o único país que rivaliza, nas América, com os
próprios EUA em matéria de potencial de território e população, embora
estejamos a anos-luz em matéria de tecnologia. Mas isso é hoje, não
dentro de 30 anos, que é o ciclo de vida útil previsto para a aeronave.
Há 30 anos, a China também era destaque apenas no pingue-pongue.
Por isso, a decisão de optar pelos Grippen NG, um avião ainda em
desenvolvimento, cuja adaptação para usos específicos ainda está em
aberto, não foi uma imprudência motivadas por razões ideológicas – não
comprar dos americanos – mas uma escolha tecnológica.
Não quer dizer que os Grippen NG sejam, hoje, aviões melhores que os Super Hornet. Mas o que podem ser, no horizonte de décadas que equipamentos militares desta natureza têm pela frente.
A Kombi também foi um veículo maravilhoso, confiável, utilíssimo e,
em certa época, insuperável para as finalidades para as quais foi
concebida.
Quem comprou uma há dez anos já sabia que era uma opção limitada no tempo, embora pudesse ser correta para certos usos.
Mas não para enfrentar diretamente veículos mais modernos e, sobretudo, mais modernizáveis.
Em tecnologia, existe o termo “hi-lo”, para designar o que é ainda atual, testado, mas limitado em desenvolvimento.
O F-18 ainda é high, mas seu futuro é low.
A opção brasileira foi inquestionavelmente movida pelo desejo de dominar e desenvolver tecnologia.
E preparar-se para algo que é inevitável na aviação militar: o
desenvolvimento de aeronaves furtivas, de baixíssima detecção ao radar.
Tem riscos maiores do que escolher um caça, como o Super Hornet, testadíssimo e bem-sucedido ao longo de sua vida de avião de combate?
Sim, é claro.
Quem não queria correr riscos comprou uma Kombi.
Tijolaço
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