5 de abril de 2014 | 13:08 Autor: Miguel do Rosário
As coisas vão ficando mais claras.
As últimas informações de que dispomos já nos permitem uma avaliação
mais precisa sobre o montante investido pela Astra para iniciar suas
operações na refinaria de Pasadena. Alguns dados já eram de domínio
público. Mas faltavam algumas peças no quebra-cabeça. Por exemplo,
quanto a Astra havia pago pelos estoques de Pasadena, quando iniciou o
processo de aquisição da refinaria, em meados de 2004?
- US$ 42,5 milhões pelas ações da companhia (fonte: relatório da NPM/CNP).
- US$ 55 milhões pelos estoques (fonte: consultora Jefferies & Cafezinho).
- US$ 300 milhões na Astra trading (Valor).
- US$ 84 milhões em investimentos em maquinários (fonte: Globo).
- US$ 55 milhões pelos estoques (fonte: consultora Jefferies & Cafezinho).
- US$ 300 milhões na Astra trading (Valor).
- US$ 84 milhões em investimentos em maquinários (fonte: Globo).
Total: US$ 481,5 milhões.
Quase todos os links acima são abertos, com exceção do Valor, de
maneira que reproduzo um trecho da matéria que fala dos US$ 300 milhões
investidos pela Astra na trading de Pasadena.
“Conforme o acordo de acionistas, ao qual o Valor teve acesso, o
prêmio de 20% valeria tanto para os 50% restantes do ativo refinaria,
avaliado em março de 2006 por US$ 378 milhões, como para a trading, que tinha preço
de referência inicial de US$ 300 milhões, que era o “capital
comprometido” pela Astra no negócio até a assinatura do acordo.”
Esses números nos levam a duas conclusões: 1) nenhuma empresa
investiria quase meio bilhão de dólares numa “sucata”. 2) Tome sempre
muito cuidado com o que lê.
E olha que nem estou considerando possível incorporação das dívidas da refinaria pelo novo dono.
Aliás, o blog da Petrobrás, até então parado qual um cadáver, parece ter mexido um dedinho
do pé, como uma pessoa em coma que tenta mostrar que está vivo.
Postagem de ontem revela que as refinarias no Brasil controladas pela
estatal bateram um novo recorde mensal de produção, processando 2,151
milhões de barris. O volume foi 12 mil barris superior ao recorde,
anterior, de julho de 2013.
Agora precisamos saber a produção, o faturamento e o lucro de Pasadena nos últimos dois anos. Reportagem da Folha
apurou que ela registrou boas margens de lucro no período. O
ex-presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, também afirmou que a
refinaria dá lucro. A própria Graça Foster, presidente da estatal, que
geralmente é lacônica em tudo que se refere a dados da empresa, já
declarou que Pasadena está processando a pleno vapor. Queremos conferir
isso direitinho, preto no branco. Até porque a imprensa agora começou a
somar gastos de Pasadena com serviços e obras ao custo de aquisição, o
que é um delírio total, servindo apenas para fazer sensacionalismo.
Começam a surgir notícias do tipo: “custo de pasadena pode ter sido
ainda maior”, etc.
Pasadena tem faturamento bruto talvez superior a US$ 1 bilhão. Suas
despesas, naturalmente, são altas, mas devem ser abatidas de seu
faturamento. Isso é óbvio. Quanto mais rápido, a Petrobrás trazer dados,
evitará a consolidação de ideias preconceituosas, baseada em
informações distorcidas, contra a estatal.
Outra coisa que está ficando mais clara é a natureza estratégica da
localização de Pasadena, no canal de Houston. Agora que a China começou a
construir uma outra passagem oceânica no Panamá, ligando Atlântico e
Pacífico, a região do Golfo do México ganhará uma importância
geopolítica ainda maior. Um relatório recente
de uma agência de energia do governo americano diz que as margens das
refinarias no país cresceram muito nos últimos meses e devem continuar
crescendo durante bastante tempo, impulsionadas pelo aumento da demanda
interna e pelas novas fontes de suprimento no Texas e no golfo.
Não seria uma ironia curiosa se Pasadena, pintada como sucata,
inútil, mau negócio, de repente se tornasse um dos ativos
estrategicamente mais importantes da Petrobrás no exterior?
Tijolaço
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