Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
Ofensas inaceitáveis a Dilma confirmam natureza predadora da "elite branca" que sempre governou o país
Marcelo Zero
Ao contrário de muitos, não me surpreendi com o comportamento selvagem da nossa elite branca no Itaquerão.
Os irreproduzíveis xingamentos
da turma vip à presidenta da república em evento transmitido para o
mundo todo envergonhariam qualquer pessoa minimamente civilizada de
outro país.
Mesmo o raivoso pessoal do Tea Party
se acanharia em fazer isso com o presidente Obama em evento público,
ainda mais se transmitido para outros países. Lá, e em outros países, há
limites políticos e éticos para o que se pode fazer. O presidente é a
encarnação da soberania do país. O presidente não pode ser humilhado às
vistas do mundo, sob pena de se humilhar o país.
Mas aqui a elite branca não tem limites. Nunca teve.
Ela se julga proprietária do
país. Eles se consideram os donos do Brasil e do poder. Eles são a Casa
Grande. O resto, o grande resto, é a Senzala.
Por certo, a elite branca que
lá estava se julgava proprietária do estádio cuja construção tanto
criticou, assim como se julga também dona da Copa que tanto a
envergonha.
Ela se julga proprietária do
Estado. Para ela, o cargo de presidente da república lhe pertence por
direito divino. Lula e Dilma são meros usurpadores, serviçais rebeldes
que têm de ser colocados em seu lugar. De preferência, com rugidos e
demonstrações de força.
Pois a elite branca é predadora.
Está historicamente acostumada a
predar o país, suas riquezas e seu meio ambiente. Está também
historicamente acostumada a predar o povo, a explorá-lo sem piedade e
sem vergonha.
A violência sempre foi a sua
marca. Colocava os escravos no tronco. Torturava, aprisionava e
esquartejava os rebeldes. Apoiava e financiava os torturadores que
massacraram Dilma e tantos outros. E, sobretudo, mantinha a maior parte
da população naquilo que Gandhi denominava de “a pior forma de
violência”, a miséria.
Tudo isso sem nenhum pudor. Sem nenhuma educação.
A elite branca não tem vergonha
de sua violência, da sua predação selvagem. A elite branca não tem
vergonha da desigualdade que produziu ao longo de 500 anos. A elite
branca não sente remorso nenhum do sofrimento e das injustiças que
causou.
A elite branca não sente
vergonha em desprezar o povo do seu país. A elite branca não sente
sequer vergonha de sentir vergonha do Brasil. Do Brasil mestiço,
não-branco, que tanto a incomoda. Do Brasil de hoje, mais igualitário e
justo, que a incomoda muito mais.
Acima de tudo, a elite branca
sente imensa raiva de um Brasil que ela não mais consegue controlar e
predar como sempre fez. Ela sente a frustração de ver que a presa está
escapando das suas garras. A Casa Grande se assusta com a ascensão da
Senzala. Alarma-se com a perda de antigos privilégios.
Só se sente à vontade nos seus
espaços privados, nos seus mundinhos exclusivos e cercados. A Casa
Grande se aperta nos pequenos espaços que lhe restaram, cercada pela
ascendente Senzala com a qual tem pavor de se misturar.
De lá, saudosa dos velhos
tempos, destila o seu ódio e seu ressentimento contra um novo país que
não mais lhe pertence. Que lhe nega até o voto.
Quando pode, no meio de seus
espaços exclusivos e “diferenciados”, e blindada pela velha impunidade
construída desde os tempos das capitanias hereditárias, volta a mostrar
as suas garras de predadora renitente e impenitente.
No Itaquerão, a elite branca
fez o que sempre fez. Mostrou, com muito ódio e sem nenhuma educação, os
caninos brancos com os quais sempre mordeu o Brasil e seu povo.
Azar dela. Vergonha dela. Não assusta mais. O Brasil já se vacinou muito contra esse ódio estéril e decadente.
Marcelo Zero é formado em Ciências Sociais pela UnB e assessor parlamentar do Partido dos Trabalhadores
Isto É
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