O pitoresco Olavo de Carvalho, que faz a cabeça de
expoentes do neoconservadorismo brasileiro, como Reinaldo Azevedo,
Demétrio Magnoli, Rodrigo Constantino, Luiz Felipe Pondé, Lobão e
Arnaldo Jabor, afirma que nas universidades brasileiras há quase "50% de
analfabetos funcionais"e diz que tudo é culpa do discurso "comunista e
pró-comunista" que se espalha pelo País; e ele ainda escreveu um livro
intitulado "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota"...
247 - O "escritor e filósofo"
Olavo de Carvalho, guru da nova direita brasileira, essa mais raivosa e
intolerante, saiu da toca e escreveu um artigo sobre o assassinato da
inteligência que estaria ocorrendo nas universidades nacionais. A culpa
seria do discurso comunista e pró-comunista que se espalharia pelas
instituições de ensino, onde haveria até "50% de analfabetos
funcionais". Olavo, autor do texto abaixo, escreveu também um livro
chamado "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota". Será
que ele sabe?
Assassinos da inteligência
Há décadas, o discurso pró-comunista onipresente espalha, nas mentes dos estudantes, obstáculos cognitivos estupefacientes
Olavo de Carvalho
Pensar, até um burro pensa. O que distingue a espécie humana é sua
capacidade de confrontar o pensado com o conjunto dos conhecimentos
disponíveis e regular o curso do pensamento pela escala de credibilidade
que vai do possível ao verossímil, ao provável ou razoável e, em certos
casos, à certeza.
Aristóteles já ensinava isso.
Infelizmente, no Brasil, raros opinadores têm o senso dessas
distinções. A maioria imagina que para pensar com proveito basta um
pouco de lógica formal e algum domínio dos chavões mais caros ao
coraçãozinho da plateia.
Em debate recente, o professor Igor Fuser, uma estrela do "cast"
universitário esquerdista, assegurou que "não se pode julgar um regime
pelo número das suas vítimas". Dez minutos depois, desmentia-se
fragorosamente ao alegar que a ditadura brasileira "perseguiu milhares
de pessoas" e que o número de cristãos assassinados no mundo está muito
abaixo dos 100 mil por ano --subentendendo, portanto, que a ditadura foi
um horror e que os matadores de cristãos nos países islâmicos e
comunistas não são tão maus quanto se diz.
Mas o pior não é isso. Mesmo sem esses autodesmentidos grotescos, a
afirmativa geral que os antecedeu --a mais comumente alegada por devotos
comunistas empenhados em salvar a honra dos governos mais assassinos
que o mundo já conheceu-- é perfeitamente desprovida de sentido. Para
perceber isso basta medi-la com a escala de credibilidade.
Em política, admite-se universalmente, as certezas absolutas são
raras ou inexistentes. O meramente possível reflete a liberdade da
fantasia, o verossímil é apenas questão de opinião, gosto ou
preferência. Não servem como argumentos. Resta a probabilidade razoável.
Quem quer que argumente seriamente em política procura nos convencer de
que a razão, com altíssima probabilidade, está do seu lado.
Acontece, para a tristeza dos tagarelas, que todo argumento de
probabilidade depende eminentemente do elemento quantitativo que o
fundamenta explícita ou implicitamente. Se digo que o candidato X vai
vencer as próximas eleições com uma probabilidade de zero a cem por
cento, não disse absolutamente nada. Tanto vale dizer que um governo é
igualmente malvado se não matou ninguém ou se matou milhões de pessoas.
Quando um comunista esperneia contra o que chama de "contabilidade
macabra", tem, é claro, uma boa razão para fazê-lo. Contados os
cadáveres, é impossível negar que o comunismo foi o flagelo mais
mortífero que já se abateu sobre a humanidade. Diante disso, só resta
apegar-se ao subterfúgio insano de que o macabro não reside em fazer
cadáveres e sim em contá-los.
Somando à insanidade o fingimento, a proibição de contar tem de ser
suspensa quando se fala de regimes "de direita", donde se conclui que os
400 terroristas mortos no regime militar --a maioria deles de armas na
mão-- são um placar muito mais hediondo e revoltante do que os 100
milhões de civis desarmados que os heróis do comunismo assassinaram na
URSS, na China, na Hungria, em Cuba etc.
O senso das quantidades e proporções é a exigência mais básica e
incontornável não só da conduta honesta, mas da racionalidade em geral.
Dissolvendo-o pouco a pouco na plateia, os fúseres da vida destroem não
só a moralidade pública, mas as próprias condições elementares do
funcionamento normal da inteligência humana.
Se nas universidades brasileiras há uma quota de 40 a 50% de alunos
analfabetos funcionais, isso não se deve só a uma genérica "má qualidade
do ensino", mas ao fato de que há décadas o discurso comunista e
pró-comunista onipresente espalha, nas mentes dos estudantes, doses
maciças de estimulação contraditória e obstáculos cognitivos
estupefacientes.
OLAVO DE CARVALHO, 67, filósofo e escritor, é autor do livro "O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota" (editora Record)
Brasil 247
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