Pesquisa interna do Planalto aponta que 60% dos
brasileiros considera que a organização da Copa do Mundo e a qualidade
dos jogos têm sido "boas ou ótimas"; Folha de S. Paulo já atribui à
imprensa estrangeira as previsões negativas sobre o Mundial; "Mau-humor
de parte dos brasileiros com Dilma Rousseff será repensado", prevê
Eduardo Guimarães, em análise no Blog da Cidadania
Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania
No primeiro caderno da última edição dominical da Folha de São Paulo
(22/6), uma matéria surpreendente: “Prenúncio de que a Copa seria o fim
do mundo não aguentou 3 dias”. Assinada pelo colunista Nelson de Sá, a
matéria surpreende qualquer um que lê a imprensa brasileira por ter
“empurrado” para a imprensa estrangeira um pecado da imprensa
brasileira. O colunista atribui à imprensa estrangeira as previsões
negativas sobre a Copa no Brasil.
O caradurismo não é só desse jornalista, mas do próprio jornal – um
mea-culpa sobre a cobertura da organização da Copa de 2014 seria
imperativo diante daquela que, de fato, está sendo a “Copa das Copas”. E
não só pela boa organização do evento, mas pelo que se vê em campo.
A infraestrutura tem funcionado tão bem quanto a que seria esperável
em qualquer país do dito “Primeiro Mundo”, os jogos são emocionantes, o
nível técnico tem sido altíssimo, o futebol latino-americano vai se
impondo sobre o do resto do mundo, levando incontáveis nações das
Américas a um verdadeiro orgasmo desportivo.
Eis o que ninguém previu. Ou melhor, eis o que aqueles que previram
não puderam dizer devido a uma literal censura da grande imprensa a
qualquer ponderação sobre os exageros que estavam sendo cometidos pela
imprensa e por partidos de oposição de direita e de esquerda, os quais
enganaram os brasileiros com afirmações falsas sobre o financiamento da
Copa e sobre problemas corriqueiros em qualquer grande evento.
Como foi previsto neste blog por incontáveis vezes, os profetas do
apocalipse deram com os burros n’água. Aqui sempre foi dito que a Copa
começaria, tudo estaria pronto e funcionando e que os que previam o
contrário ficariam com a brocha na mão.
Não é por outra razão que na mesma Folha de São Paulo, escondida na
coluna “Painel”, uma notinha de apenas uma frase, mas que tem um
potencial político imenso, revela que chegou a hora de Dilma capitalizar
seu bom trabalho. Abaixo, o texto da Folha
De virada
Assessores do Planalto estão exultantes com pesquisa interna
que afirma que 60% dos brasileiros consideram a Copa boa ou ótima até
agora
Mesquinharia da Folha. A pesquisa interna do Planalto mostra muito
mais. Informações obtidas pelo Blog via contatos telefônicos dão conta
de que esses 60% dos brasileiros não dizem que “a Copa é que tem sido
boa ou ótima até agora”. Essa maioria diz que a ORGANIZAÇÃO da Copa e a
qualidade dos jogos é que têm sido “boas ou ótimas”.
Qual o efeito eleitoral disso? Na avaliação do Planalto, é
expressivo. Tão expressivo que a Folha detectou e, visando se distanciar
do alarmismo que promoveu ao lado de outros grandes meios de
comunicação, publicou essa reportagem de Nelson de Sá, na tentativa vã
de fazer seus leitores de besta ao empurrar-lhes a versão de que o
catastrofismo desportivo-organizacional partiu do exterior e não daqui
mesmo, do Brasil.
A matéria em questão foi econômica ao relatar as análises que estão
sendo feitas em toda parte do mundo sobre a capacidade do país de
organizar um evento desse calibre. Uma das matérias da imprensa
estrangeira citadas pela Folha é de autoria de Sam Borden,
correspondente esportivo do diário norte-americano The New York Times na
Europa. No último dia 17, Borden qualificou a Copa no Brasil como
“sucesso incrível” em artigo que ironiza o noticiário sobre o evento,
chamando-o de “previsão do dia do juízo final”.
O Blog traduziu alguns trechos do artigo de Borden. Confira, abaixo.
The New York Times
Na Copa do Mundo, previsão do dia do juízo final dá espaço a pequenos soluços no Brasil
San Borden
17 de junho de 2014
Um estádio não ficaria pronto a tempo. Outro não ficaria
pronto nunca. Protestos violentos iriam ameaçar os fãs e estragar tudo.
Greve no aeroporto e no metrô deixariam milhares de visitantes sem
transporte.
Essas e outras previsões do dia do juízo final foram
preocupações perpétuas nos dias que antecederam a Copa do Mundo no
Brasil, mas, após quase uma semana inteira de jogos, a situação no maior
país da América do Sul dificilmente pode ser considerada sombria.
Para os fãs que gostam de gols que enchem os olhos,
resultados surpreendentes e futebol elegante, este campeonato, até
agora, tem sido um sucesso incrível. Os jogos são apaixonantes, e o
drama dos jogos tem sido perfeito para a televisão.
[...]
[...]
Há que dizer que ninguém pode realizar um grande evento
esportivo como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas sem alguns problemas.
Este ano, em Sochi, na Rússia, os jogos de inverno tiveram invasão de
cães vira-latas, hotéis incompletos, ou inexistentes. Em 2004, os jogos
de verão em Atenas tiveram greves de trabalhadores, contratempos com a
infraestrutura, e histeria em uma infinidade de lugares. O parque
olímpico onde ocorreram os jogos de Londres em 2012, uma semana antes
ainda estava em obras.
Diante dessa realidade, certamente o Brasil merece mais indulgência.
[...]
[...]
A gama de problemas tem sido grande. Alguns tiveram que ver
com acabamento da construção, como fios elétricos visíveis no estádio do
São Paulo ou a instalação de aparelhos de ar-condicionado e carpete
horas antes do apito inicial, em Cuiabá, ou 30% dos porteiros do estádio
de Brasília, que não apareceram para trabalhar, criando impasse do lado
de fora das catracas.
Alguns foram cosméticos, como a grama queimada no estádio de
Manaus, que obrigaram a organização do estádio a pintar o gramado com
tinta verde.
Nada disso foi definitivamente prejudicial para o evento. Os
jogos puderam ocorrer dentro das previsões. Mas a cada dia ocorreram
problemas cujo potencial não pôde ser previsto. No domingo, em Porto
Alegre, por exemplo, o sistema de som do Estádio falhou com as equipes
já em campo, deixando os jogadores de França e Honduras, que esperavam
pelos hinos nacionais de seus países, enfurecidos.
[...]
[...]
Para ser justo, a sorte é sempre um fator nesses espetáculos.
Qualquer grande evento pode ter um deslize imperceptível, como o NFL
aprendeu em 2013, quando o Super Bowl foi adiado por quase uma hora
depois de um apagão que mergulhou o Superdome, em Nova Orleans, na
escuridão. Em comparação, o problema com as luzes no estádio de São
Paulo durante o jogo de abertura da Copa do Mundo foi um problema menor.
[...]
[...]
Como sempre ocorre, a preocupação com a logística foi
discutível. Em geral, as condições para realização dos jogos têm sido
excelentes. Em cidades como Natal e Salvador – onde os campos sofreram
chuva excepcionalmente pesada -, ficou comprovada a qualidade dos
sistemas de drenagem. Em última análise, esta é a prioridade mais
importante, pois as condições para realização dos jogos são o que
geralmente definem o legado histórico de um evento.
[...]
[...]
A pesquisa interna do Palácio do Planalto citada (de forma incompleta
e tímida) pela Folha faz todo sentido. Basta um mínimo de reflexão para
entender. A menos que a maioria dos brasileiros seja composta de
lunáticos, todos estão fazendo o “link” entre o que foi previsto e o que
está acontecendo.
Ora, se foi previsto “juízo final” e, muito pelo contrário, o que se
vê é uma festa linda que está encantando não só o Brasil, mas o mundo,
no mínimo o mau-humor de parte dos brasileiros com Dilma Rousseff será
repensado. Os mais inteligentes perceberão que ela foi alvo de tremenda
injustiça, encetada, obviamente, por uma politicagem rasteira e de viés
eleitoreiro. Os brasileiros não são injustos. Ao menos a maioria de nós,
não é.
Brasil 247
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