Agência internacional de notícias avalia que
aumentaram as chances de reeleição com um início de Copa do Mundo que
supera expectativas; "A organização da Copa do Mundo no Brasil está
longe de ser perfeita, mas vem ocorrendo de forma muito mais tranquila
do que muitos esperavam, aumentando as chances para a reeleição da
presidente Dilma Rousseff em outubro", diz o texto; leia a reportagem do
correspondente Brian Winter
Por Brian Winter
SÃO PAULO (Reuters) - A organização da Copa do Mundo
no Brasil está longe de ser perfeita, mas vem ocorrendo de forma muito
mais tranquila do que muitos esperavam, aumentando as chances para a
reeleição da presidente Dilma Rousseff em outubro.
Os preparativos para o torneio foram abalados por atrasos e gastos
excessivos em estádios, e por inúmeros projetos de infra-estrutura
inacabados.
A indignação pública sobre essas questões somada a uma economia fraca
alimentaram protestos nas ruas e azedaram o humor geral dos brasileiros
nos últimos meses.
Esses problemas não desapareceram de forma mágica quando o Brasil
abriu a Copa com uma vitória sobre a Croácia na última quinta-feira. No
entanto, os receios de grandes colapsos logísticos em estádios e
aeroportos superlotados até agora têm sido infundados.
Protestos contra o governo eclodiram em várias cidades e alguns se
tornaram violentos, mas a maioria reuniu apenas algumas centenas de
pessoas e as manifestações parecem estar encolhendo a cada dia.
Dilma amarrou seu destino à Copa do Mundo, defendendo a realização do
evento no país como uma oportunidade de mostrar o recente progresso
econômico do Brasil para o mundo.
Um desastre poderia prejudicar significativamente suas chances de
reeleição em outubro, especialmente num momento em que seu principal
adversário está chegando mais perto da presidente nas pesquisas de
intenção de voto.
Há ainda muitas chances para falhas antes da final da Copa no Rio de
Janeiro em 13 de julho, mas todos os 12 estádios já foram testados e
aparentemente superaram as baixas expectativas de brasileiros e dos
cerca de 600 mil torcedores estrangeiros que estão no país.
"Eu estava com medo de sermos humilhados por nós mesmos ... mas foi
bem", disse João Veiga Moraes, vendedor de seguros em São Paulo, que
vestia a camisa da seleção brasileira ao se dirigir ao trabalho na manhã
desta terça-feira. "Todo mundo parece estar feliz."
Mesmo o que parecia à primeira vista como um revés humilhante para
Dilma, quando ela foi repetidamente vaiada e xingada no jogo de abertura
em São Paulo, parece estar trabalhando a seu favor.
O espetáculo de milhares de brasileiros entoando "Ei, Dilma vai tomar
no c... " gerou uma reação generalizadada e, provavelmente, irá se
tornar um tema recorrente na campanha de Dilma.
Em um país com uma das maiores distâncias do mundo entre ricos e
pobres, líderes do PT têm retratado a multidão como membros de uma elite
da cidade grande irritados com os programas de assistência social e
outros avanços econômicos recentes feitas pelas classes mais baixas.
Em um evento de campanha na sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva presenteou-a com uma rosa branca e lamentou o "ato
cretino".
"Esta campanha está correndo o risco de ser uma campanha violenta, em
que a elite brasileira está conseguindo fazer o que nós nunca
conseguimos, que é despertar o ódio entre as classes", disse Lula.
POSSÍVEL IMPACTO NAS URNAS
Dilma foi um pouco mais conciliadora, mas disse que não iria se
intimidar e que as agressões verbais não eram nada em comparação com a
tortura que ela sofreu durante o regime militar no início da década de
1970.
Alguns líderes de partidos da oposição dizem reservadamente que o
alívio em relação à abertura da Copa e a simpatia gerada pelos
xingamentos poderiam dar um impulso à Dilma nas próximas pesquisas
eleitorais.
O candidato do PSDB, Aécio Neves, inicialmente justificou a reação da
multidão, ao dizer que era "um sinal do que está acontecendo no
Brasil". Mais tarde, ele fez uma declaração no Facebook dizendo que as
manifestação "não deveriam ultrapassar os limites do respeito pessoal".
"O episódio estádio foi um presente" para Dilma, disse um funcionário
PSDB, acrescentando que o ocorrido estava desviando a atenção da
economia em desaceleração e inflação anualizada acima de 6 por cento.
Mas a realização do torneio apresenta algumas falhas. Os problemas
vão desde as longas filas nos aeroportos e nas entradas dos estádios,
roubos de fãs estrangeiros e até mesmo uma infestação de cupins no hotel
da equipe uruguaia.
Mas, no conjunto, os problemas não parecem ser muito piores do que em
outros grandes eventos esportivos recentes ao redor do mundo, disseram
visitantes e jornalistas.
Até agora, tem sido um torneio particularmente emocionante com vários jogos memoráveis e muitos gols fazendo os fãs felizes.
Ainda assim, o Brasil ainda pode enfrentar repercussões negativas de seus preparativos precários para a Copa.
Muitos eleitores ainda estão irritados com os bilhões de reais gastos
para sediar o torneio em um país onde os hospitais e as escolas são
muitas vezes de má qualidade.
A atenção deve mudar após a Copa para os novos estádios milionários
em lugares como Manaus e Cuiabá, onde o futebol atrai poucos milhares de
torcedores.
Além disso, ao decretar feriados nas cidades em dias de jogo a fim de
garantir um trânsito menos intenso e uma logística mais tranquila, o
governo pode estar sufocando ainda mais uma economia que deverá crescer
apenas 1 por cento neste ano.
O humor do público também pode piorar se a seleção brasileira não for
capaz de atender às expectativas de conquistar o hexacampeonato, um
recorde e a primeira vitória da Copa do Mundo em casa.
Isso pode explicar por que as autoridades brasileiras, que ganharam
uma reputação de autocongratulação durante a ascensão do país ao longo
da última década, estão tão caladas publicamente até agora.
Questionado no domingo se a Copa tem sido uma vitória para o governo,
o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, disse: "Acho que atendemos às
expectativas."
"Tivemos alguns problemas pequenos, mas nada que possa constituir um
grande problema", disse ele à Reuters. "Os torcedores estrangeiros têm
sido bem-recebidos. Os aeroportos estão funcionando."
"Temos muitos jogos ainda para jogar."
Brasil 247
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