O submundo a que gosta de se referir Aécio Neves — responsável,
segundo ele, pela disseminação de boatos acerca de sua pessoa — é uma
resposta padrão a tudo o que ele não controla.
Não que Aécio não esteja acostumado a operar num submundo. O fogo
cruzado entre ele e Serra, através de dossiês, tráfico de influência e
outras práticas, gerou alguns dos capítulos mais sujos da vida pública
nacional.
O hoje clássico artigo “Pó pará, governador”, publicado no Estadão
por um jornalista ligado a Serra, e uma coluna do próprio José Serra na
Folha, no dia em que Aécio anunciou sua pré-candidatura, são lembretes
eloquentes desse tipo de operação. O texto foi citado por Fernando
Barros e Silva no Roda Vida. “O debate sobre o consumo de cocaína no
Brasil pode e deve ser uma pauta em 2014”, escreveu JS, o Profeta da
Mooca.
A inabilidade e o desconforto de Aécio em lidar com questões
incômodas fez com que adotasse essa tática de 1) atribuir os “ataques” a
uma entidade fantasiosa, mas com apelo populista; e 2) desqualificar e
intimidar quem ouse tocar em assuntos fora da pauta combinada.
Funcionou por um tempo. Aécio sempre teve a imprensa mineira na mão e não achou, provavelmente, que teria maiores problemas.
Há um interessante documentário de Marcelo Baeta sobre as pressões e
acordos de seu governo com a mídia local. Uma das histórias é a de Marco
Nascimento, ex-diretor da Globo em MG, que produziu uma reportagem
sobre o crack no bairro de Lagoinha, em Belo Horizonte. A matéria passou
no Jornal Nacional.
A repercussão foi enorme. Nascimento conta que passou a receber
telefonemas de Andrea Neves, uma espécie de Golbery do irmão, braços
direito e esquerdo, aliada e eminência parda. Para resumir: Nascimento
foi demitido pouco depois, evidentemente que sob uma alegação técnica.
(Há vários outros casos — alguns, eventualmente, pândegos. Um
jornalista mineiro me contou que Aécio, depois de uma briga com a
namorada, mandou avisar o jornal O Estado de Minas que preparasse um
“flagrante” da reconciliação numa praça. A foto do pseudopaparazzo foi
feita e saiu na primeira página. Houve uma crise porque o retrato
deveria ter sido publicado na coluna social, o que daria menos bandeira
de que foi encomenda).
O vídeo de Baeta foi acusado pelo pessoal de Aécio de — surpresa —
“coisa difundida pelo PT na internet”. Desde 2006, portanto, é
basicamente o mesmo subterfúgio. Quando você tem tudo sob controle, num
estado em que sua família manda e desmanda há décadas, fica mais fácil.
Mas a fila andou. Não é apenas em suas propostas que Aécio não viu o
tempo passar. É um erro de cálculo brutal achar que o Brasil é uma
extensão de sua fazenda. É muita arrogância, inépcia — ou a mistura de
ambos — pensar que questões como a das drogas ficariam restritas a uma
noite no Mineirão com o estádio fazendo coro (infelizmente, pegaria mal
dar sumiço naquele povo todo).
A noção de submundo de Aécio Neves terá de passar a incluir,
obrigatoriamente, seus “amigos”, colegas de partido e, principalmente,
ele mesmo e sua turma.
Diário do Centro do Mundo
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