25 de junho de 2014 | 00:14 Autor: Fernando Brito
Em plena Copa, uma notícia passa sem o impacto que deveria ter na mídia.
Talvez porque seja uma das melhores notícias que se pudesse dar.
Como este blog havia informado em novembro do ano passado,
o Governo entregou à Petrobrás, como estava autorizado pelas leis que
aprovaram o regime de partilha, aprovadas no final do Governo Lula,
quatro das seis áreas de cessão onerosa utilizadas como garantia no
processo de capitalização da empresa.
Concentradas no campo de Franco, agora chamado de Búzios, tem entre
10 e 14 bilhões de barris de petróleo recuperáveis, quase o mesmo que as
reservas provadas do nosso país. Algo como 25% mais do que Libra, o
maior campo de petróleo descoberto no mundo neste milênio.
Além de Búzios, foram entregues as áreas do entorno de Iara, Florim e
Nordeste de Tupi, que provavelmente serão unitizados (reunidos, em
linguagem do setor) em uma só área de exploração.
Fora as receitas de impostos, só de lucro líquido para o país – que
fica com três quartos do lucro, cabendo um quarto à Petrobras – o campo
renderá à educação é a saúde brasileiras algo como 700 bilhões de reais,
a preços de hoje.
É uma área capaz de, ao longo de 30 anos de produção, permitir uma
extração média de 1,3 milhão de barris diários, ou metade do que tudo o
que é produzido hoje no país.
E, curiosamente, a reação do mercado, na negociação das ações da Petrobras, derrubou o valor dos papéis da empresa.
É que isso irá, nos próximos anos, fazer a Petrobras ter de investir – e quase tudo dentro do Brasil – cerca de R$ 500 bilhões.
Ou, para os que gostam de comparações, 20 vezes tudo o que se chama
de “gastos” com a Copa. Ou 120 vezes o valor dos empréstimos do BNDES
para a construção de estádios.
São pelo menos 20 navios-plataforma, dezenas de sondas, centenas de barcos de apoio e instalações em terra.
Uma imensa máquina de distribuir receita, impostos, indústrias e serviços da cadeia de suprimento necessária.
Aos que estranharam a posição deste blog quando se tratou de leiloar o
campo de Libra, à procura de parceiros capazes de injetar capital na
exploração do campo de Libra, aí está a resposta do porque.
Era preciso “guardar” a capacidade da Petrobras de explorar estes campos ainda maiores.
E fazê-lo de forma a proteger o patrimônio nacional das tentativas,
que não terminam, de entregar essa riqueza ao capital estrangeiro.
No final de 2016, início de 2017, Búzios produzirá seu primeiro óleo
comercial e, nos dois anos seguintes, sua produção vai começar a pagar
parte deste volume de investimentos.
Em um período de sete ou oito anos depois disso, a extração alcançará
o limite de 5 bilhões de barris contratados, em condições mais
favoráveis à Petrobras, pois passam a viger as regras mais pesadas
acertadas hoje com o Governo.
Até lá, este dinheiro vai remunerar o crescimento da participação
governamental no aumento de capital da empresa, o que tornou possível
recuperar parte do pedaço da Petrobras entregue por Fernando Henrique
Cardoso, ao vender suas ações na bolsa de Nova York.
Hoje, este assunto se resumirá em pequenas e ácidas matérias nas páginas de economia dos jornais.
Em 20 anos, talvez, meus netos aprendam nos livros de escola sobre esta segunda independência – a econômica – do Brasil.
Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário