A perseguição é lógica. Afinal, foi por obra, empenho, articulação e graça de Dirceu que Lula chegou a Presidente da República.
O Conversa Afiada reproduz, através do Portal Vermelho, texto de Hildegard Angel, extraído de seu blog.
Antes, amigo navegante, vale a pena ler o que já disse Hildegard sobre o assunto: “Hildegard e o “Mentirão” do STF”.
Vamos ao texto:
Hildegard Angel: Nunca no Brasil um homem sofreu tal linchamento
Ao fim da
transmissão, na última quinta-feira [5], da sessão no STF [Supremo
Tribunal Federal], Maria Alice Vieira, a colaboradora braço direito de
José Dirceu, anunciou que todos os presentes ali reunidos no salão de
festas do prédio do ex-Chefe da Casa Civil estavam convidados para
retornar na próxima quarta-feira [11] e, juntos, assistirem novamente à
próxima sessão, que provavelmente deverá julgar os Embargos
Infringentes, assim todos esperam.
Por Hildegard Angel*, em seu blog
Havia
no ar uma certa sensação de alívio. Alguém atrás de mim comentou: “Mais
uma semana!”. O que entendi como “mais uma semana de esperança”.
O irmão de José Dirceu, Luís, que naquela manhã teve um mal estar cardíaco e precisou ser atendido numa clínica, veio me cumprimentar e agradecer o apoio, “em nome da família”. Gesto inesperado e tocante, de quem estava claramente emocionado.
O irmão de José Dirceu, Luís, que naquela manhã teve um mal estar cardíaco e precisou ser atendido numa clínica, veio me cumprimentar e agradecer o apoio, “em nome da família”. Gesto inesperado e tocante, de quem estava claramente emocionado.
José Dirceu é o que a
literatura define como “homem de fibra”. Impressionante como se manteve e
se mantém de pé, ao longo de todos esses anos, mesmo atacado por todos
os lados, metralhado por todas as forças, todos os poderosos grupos de
mídia, os políticos seus detratores, todas as forças da elite do país,
formadores de opinião de todos os segmentos e matizes, de forma maciça e
ininterrupta, massacrante.
De modo como jamais se viu uma pessoa
nesta nação ser ofendida, ele vem sendo acossado, desmoralizado, num
processo de demolição continuada, sem deixarem pedra sobre pedra,
esmiuçando-se cada milímetro de sua intimidade, devassando, perseguindo,
escarafunchado e, sem qualquer evidência descoberta, juízes o condenam
proferindo frases do tipo “não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou
condená-lo porque a literatura jurídica me permite”. Nem mesmo o mais
reles criminoso foi satanizado de tal forma ou sofreu linchamento tão
perverso.
Com tal carga a lhe pesar sobre os ombros, ele não os curva. Às vezes mais abatido, outras aparentemente decepcionado, contudo sempre em combate, preparando-se para o momento seguinte. Não se queixa, não acusa, não lamenta, nem cobra a ausência de apoio daqueles que, certamente, deveriam o estar respaldando. É discreto. Não declina nomes. Nunca deixa transparecer quem está próximo dele, quem não. Um eterno militante de 68, que jamais despiu a boina.
Com tal carga a lhe pesar sobre os ombros, ele não os curva. Às vezes mais abatido, outras aparentemente decepcionado, contudo sempre em combate, preparando-se para o momento seguinte. Não se queixa, não acusa, não lamenta, nem cobra a ausência de apoio daqueles que, certamente, deveriam o estar respaldando. É discreto. Não declina nomes. Nunca deixa transparecer quem está próximo dele, quem não. Um eterno militante de 68, que jamais despiu a boina.
“Família”,
antes da reunião daquela tarde, em seu prédio, com os companheiros que o
apoiam nessa via crucis penal, para juntos assistirem à transmissão da
TV Justiça, ele almoçou em casa com suas três ex-mulheres, filhas,
irmãos, uma confraternização familiar necessária para quem poderia, dali
a algumas horas, escutar o pior dos resultados.
E lá estávamos nós, aguardando sua chegada, falando baixo, sem grande excitação no ambiente, enquanto um técnico ajeitava, no laptop, o projetor das imagens da TV que seriam exibidas na parede.
A diretora de cinema Tata Amaral fez uma preleção sobre seu filme “O grande vilão”, um documentário sobre esse período da vida de Dirceu, “o homem mais perseguido da história da República”, e distribuiu termos de autorização de uso de imagem para que os presentes, que assim o desejassem, assinassem. Pelo que percebi, todos assinaram.
E lá estávamos nós, aguardando sua chegada, falando baixo, sem grande excitação no ambiente, enquanto um técnico ajeitava, no laptop, o projetor das imagens da TV que seriam exibidas na parede.
A diretora de cinema Tata Amaral fez uma preleção sobre seu filme “O grande vilão”, um documentário sobre esse período da vida de Dirceu, “o homem mais perseguido da história da República”, e distribuiu termos de autorização de uso de imagem para que os presentes, que assim o desejassem, assinassem. Pelo que percebi, todos assinaram.
Dirceu
cumprimentou um por um, agradecendo a presença de todos. Parecia calmo
ao chegar. E calmo permaneceu até o final. Quando se despediu de mim,
José Dirceu disse, elogiando: “O ministro Barroso estava certo, quando
defendeu a suspensão da sessão até a próxima semana”.
Ele se referia à argumentação do ministro Luis Roberto Barroso, que, para garantir aos advogados plena defesa dos réus, usou a frase “seria gentil e proveitoso dar aos advogados a oportunidade de apresentar memoriais”. Ponderação que o presidente Joaquim Barbosa acolheu muito a contragosto.
Na próxima semana, estaremos lá todos com você de novo, José Dirceu. Acredito em sua inocência. Acredito em Mentirão, não em Mensalão, que para mim existe muito mais para desqualificar a luta dos heróis e mártires da ditadura militar do que para qualquer outra coisa. Mais para justificar o apoio dado pela direita reacionária de 1964 – as elites e a classe média manipulada – ao totalitarismo que massacrou nosso país, tolheu nossa liberdade e nosso pensamento, dizimou valores, destruiu famílias, acabrunhou, amedrontou, paralisou, despersonalizou e tornou apático o povo brasileiro por duas décadas.
Ele se referia à argumentação do ministro Luis Roberto Barroso, que, para garantir aos advogados plena defesa dos réus, usou a frase “seria gentil e proveitoso dar aos advogados a oportunidade de apresentar memoriais”. Ponderação que o presidente Joaquim Barbosa acolheu muito a contragosto.
Na próxima semana, estaremos lá todos com você de novo, José Dirceu. Acredito em sua inocência. Acredito em Mentirão, não em Mensalão, que para mim existe muito mais para desqualificar a luta dos heróis e mártires da ditadura militar do que para qualquer outra coisa. Mais para justificar o apoio dado pela direita reacionária de 1964 – as elites e a classe média manipulada – ao totalitarismo que massacrou nosso país, tolheu nossa liberdade e nosso pensamento, dizimou valores, destruiu famílias, acabrunhou, amedrontou, paralisou, despersonalizou e tornou apático o povo brasileiro por duas décadas.
E
como alvo maior desse processo de desqualificação reacionária, que
ressurge como um zumbi nostálgico assombrando o país, foi eleito José
Dirceu, o qual, como bem analisa o cineasta Luiz Carlos Barreto, cometeu
o grave delito de colocar no poder um sindicalista das classes
populares, o Lula.
Pois foi por obra, empenho, articulação e graça de José Dirceu que Luís Inácio Lula da Silva chegou a Presidente da República. E chegou com um projeto político de sucesso, bem estruturado, com um discurso certo, que alçou Luís Inácio não só a um patamar diferenciado de Estadista em nossa História, como também a um conceito internacional jamais alcançado por um Chefe de Estado brasileiro.
Grande parte disso tudo pode ser creditada (ou, segundo interpretação de alguns, debitada) a José Dirceu.
Motivos não faltaram nem faltam para essa obsessão de tantos por destrui-lo.
Pois foi por obra, empenho, articulação e graça de José Dirceu que Luís Inácio Lula da Silva chegou a Presidente da República. E chegou com um projeto político de sucesso, bem estruturado, com um discurso certo, que alçou Luís Inácio não só a um patamar diferenciado de Estadista em nossa História, como também a um conceito internacional jamais alcançado por um Chefe de Estado brasileiro.
Grande parte disso tudo pode ser creditada (ou, segundo interpretação de alguns, debitada) a José Dirceu.
Motivos não faltaram nem faltam para essa obsessão de tantos por destrui-lo.
*
Hildegard Angel é jornalista. Filha da estilista Zuzu Angel e irmã do
ex-militante político Stuart Angel Jones – ambos mortos durante a
ditadura militar brasileira
Clique aqui para ler “Wanderley: Mensalão tem de ser revisto”.
E aqui para ler “Dirceu a Edu: ‘Luta pela Justiça’.”
Clique aqui para ler “Wanderley: Mensalão tem de ser revisto”.
E aqui para ler “Dirceu a Edu: ‘Luta pela Justiça’.”
Conversa Afiada
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