6 de setembro de 2013
Por mais que a mídia tenha se esforçado, ele não conseguiu virar um ‘heroi do povo’.
E eis que o caso do Mensalão chega a seu clímax. De todos os
personagens da trama, o mais extraordinário é, por razões óbvias,
Joaquim Barbosa.
Com seu jeito bruto e tosco, com suas palavras duras e inclementes
contra os réus, ele rapidamente se converteu num heroi do 1% — o
diminuto grupo de privilegiados que tem sua voz nas grandes empresas de
mídia.
O maior esforço das empresas de mídia, em relação a JB, foi tentar
convencer as pessoas de que elas genuinamente admiravam o “menino pobre
que mudou o Brasil”. Ou, numa expressão, o “homem justo”.
Não foram bem sucedidas nisso: a sensação que ficou, com o correr dos
dias, é que aquela admiração é fingida. Joaquim Barbosa foi e é
conveniente para o 1%, mas as informações que foram surgindo sobre ele
tornam difícil qualquer tipo de admiração que não seja simulada.
Fora da fantasia do “homem justo”, não é fácil admirá-lo na vida
real. JB não tem notório saber, não se expressa com charme e clareza,
não escreveu livros ou artigos dignos de nota.
Também não é fácil admirar um alpinista profissional que é capaz de
abordar – aborrecer, na verdade — alguém num aeroporto para tentar cavar
uma promoção.
E nem parece digno de aplausos quem, numa entrevista, cita um
episódio ocorrido há quase quarenta anos – a reprovação no Itamaraty —
com a raiva desagradável que temos de alguma coisa ocorrida há dias.
O 1% triunfou no uso de Joaquim Barbosa para que defendesse seus
interesses no julgamento do mensalão. Ele se revelou excepcionalmente
suscetível à adulação da mídia. Ninguém parece ter acreditado tanto na
admiração da mídia por JB quanto o próprio JB.
O fracasso do 1% foi na tentativa de fazer de JB um “heroi do povo”,
alguém capaz de conquistar a presidência da república nas urnas e zelar
pela manutenção de seus privilégios com o uniforme de “menino pobre”.
Este fracasso se deu, em grande parte, por força da internet. Nos
sites independentes, as informações sobre o real Joaquim Barbosa
permitiram compor um perfil bem diferente daquele difundido pelas
companhias jornalísticas.
A relação promíscua com a mídia (notadamente com a Globo, que deu
emprego a seu filho não por filantropia, naturalmente), o apartamento
comprado em Miami com o uso de uma pequena trapaça para evitar impostos –
coisas assim acabaram desconstruindo o perfil montado por jornais e
revistas, ao se tornarem públicas pela internet.
Nas pesquisas presidenciais, seu nome aparece com números
acachapantemente baixos e decepcionantes para quem tem sido tão
promovido.
Se Joaquim Barbosa estivesse nos corações e nas mentes dos chamados
99%, ele estaria brilhando nas pesquisas. Seria um contendor poderoso
para 2014, na pele do “homem que acabou com a corrupção”.
Mas não.
Por mais que a mídia tenha se esforçado para fazer de JB um “heroi do
povo”, ele já é amplamente reconhecido como um representante daquele
grupo predador que fez do Brasil um recordista mundial em desigualdade –
o 1%.
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