sab, 22/02/2014 - 12:10
A última pesquisa IBOPE traz duas informações relevantes – que precisam ser analisadas em conjunto para a pesquisa ser melhor compreendida. O resultado que interessa aos jornais mostra de dezembro para cá a queda na aprovação do governo Dilma Rousseff – de 43% para 39%. O resultado que não interessa é que o percentual de aprovação de Dilma Rousseff é de 55%, contra 56% em dezembro – estatisticamente o mesmo.
Significa que está mantida a mesma tendência das últimas pesquisas: o eleitor quer mudanças, mas com Dilma Rousseff.
Daí volto à questão do fim do ciclo.
No último artigo que escrevi sobre o tema, alguns de vocês julgaram
que afirmei que esgotaram-se as políticas de inclusão social. Longe
disso. O que procurei mostrar é que essas políticas são irreversíveis,
transitaram em julgado, jogaram o país em um novo patamar de cidadania.
Mas mudaram radicalmente a cara do país.
Na etapa anterior havia multidões de desassistidos cuja única demanda
era a de recursos para comer e, garantida a subsistência, tornar-se um
consumidor. O novo cidadão que emerge não tem nenhuma semelhança com o
anterior. Descobriu o consumo, a cidadania, a reivindicação, a
possibilidade de crescer. O cidadão pré-inclusão era passivo, recebia a
benesse e tornava-se grato; depois da inclusão, é cobrador de direitos.
Na etapa de inclusão, houve ferramentas eficientes criadas sob o
signo do assistencialismo e um conjunto de políticas sociais
articuladas: Bolsa Família, a coordenação dos diversos ministérios em
torno do Ministério do Desenvolvimento Social, as políticas integradas
de melhoria do salário mínimo e dos benefícios de prestação continuada,
as políticas compensatórias para minorias sociais de todos os níveis.
E foram esboçadas, também, organizações destinadas a aprofundar a
participação geral nas políticas públicas, do CDES (Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social), as diversas secretarias de inclusão
social e o esboço de conselhos de participação empresarial. Estavam
dadas, aí, as sementes para a nova etapa, que exigiria o aprofundamento
de várias dessas formas de participação.
O governo Dilma significou um retrocesso quando abriu mão desses
instrumentos de participação. Foi desoladora a maneira como
desconsiderou as conclusões das Conferências de Educação para satisfazer
as pretensões paroquias de sua Ministra-Chefe da Casa Civil, Gleise
Hoffmann, e da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. E
também o esvaziamento do CDES e dos conselhos empresariais.
Esse fenômeno ocorre no mesmo momento em que o mundo é sacudido pelos
ventos da cidadania e da participação das redes sociais. E que ocorre
um esgarçamento rápido da autoridade – entendido aí presidências da
República, poder judiciário, poder legislativo, mídia, sindicatos etc.
As pernas do novo ciclo
O novo ciclo tem duas pernas umbilicalmente ligadas. No plano social,
a cobrança cada vez maior de melhoria dos serviços públicos,
reivindicação crescente de participação nas decisões públicas. A segunda
perna é da definição de um modelo de desenvolvimento que permita
compatibilizar as políticas distributivistas com o desenvolvimento
econômico. As duas pernas são umbilicalmente ligadas.
O governo Dilma tem problemas de implementação, sim; tem problemas
sérios decorrentes da completa despolitização, do uso exclusivo da
bandeira do gerencialismo de gabinete - que atropela até os conceitos da
boa gerência.
Mas tem visão de futuro muito mais apurada que os seus competidores.
A ênfase na infraestrutura, nas parcerias público-privadas, na
inovação, nas políticas setoriais, o uso do pré-sal para políticas
públicas, o aprofundamento da inclusão, atrás dos últimos bolsões de
miséria absoluta, a criação de um ambiente econômico civilizado, nas
pernas de juros e câmbio, são princípios definidores da nova etapa.
E a oposição?
Ontem, Eduardo Campos e Aécio Neves bateram na tecla do fim de ciclo e
início de novos tempos. Mas o que propõem? Seu discurso é pré-inclusão e
suas propostas não avançam além do gerencialismo puro e simples, da
visão estática de um PIB (Produto Interno Bruto) descolada da condição
dos cidadãos ou do próprio ambiente econômico, de um fiscalismo
despregado da visão estratégica de país. No campo econômico, não
conseguiram se libertar de um neoliberalismo que já morreu com a crise
de 2008 e apenas não foi enterrado.
Mais do que tudo, é o que explica essa sensação de mudança com Dilma.
Esta semana tive oportunidade de conferir esse sentimento em uma
palestra para os revendedores de uma empresa de maquinário de limpeza.
O público era fundamentalmente conservador e anti-petista.
Depois da palestra, seguiu-se um debate aceso sobre as condições do
país, a segurança, saúde, educação, corrupção etc. O sentimento
anti-petista é nítido, assim como o sentimento pessimista em relação ao
país – revelando dois pontos em que a campanha midiática é eficiente.
Mas a campanha do anti não chegou a Dilma. Consideram o PT como o
grande obstáculo à Dilma. O discurso de ameaça às instituições não pega
mais, o da corrupção sim. No caso, de Dilma, o pecado menor da teimosia.
Mas há a sensação – muito mais nítida do que em outros tempos – que a
corrupção é um problema inerente ao modelo político brasileiro.
Para aquele público, a oposição é inexistente. O discurso de Eduardo
Campos e Aécio Neves passa a léguas de distância daquele que deveria ser
seu público preferencial.
Dilma chega às eleições dependendo apenas dos seus pontos para vencer
o campeonato. Basta entender que o país não precisa de um presidente
gerente, mas de um presidente político que saiba articular os diversos
setores do país, disponha de tempo para compreender o novo e tenha,
debaixo de si, gerentes eficientes, que transformem as propostas em
planos factíveis.
A chegada de Aloizio Mercadante à Casa Civil, acompanhado de um grupo
de economistas de boa formação, é um alento, um sopro de racionalidade.
Participar de um campeonato nacional tendo Guido Mantega como
centro-avante seria definitivamente o cúmulo da teimosia.
Blog do Luis Nassif
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