seg, 24/02/2014 - 12:23
Sugerido por Carlos Rajão
Do Repórter Brasil
Submetidos a jornadas de mais de 11
horas por dia, eles eram funcionários de terceirizada contratada sem
licitação, segundo a fiscalização
Por Stefano Wrobleski
A Companhia Energética de Minas Gerais
(Cemig) foi responsabilizada por fiscais do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) pela submissão
de 179 trabalhadores a condições análogas às de escravos em Belo
Horizonte (MG). A primeira fiscalização na empresa aconteceu em julho de
2013 e foi acompanhada também pela Polícia Federal.
A caracterização de
escravidão foi resultado de intensa investigação que levou mais de seis
meses, com análise de documentos e tomada de depoimentos das vítimas.
Além de submeter trabalhadores à escravidão, a Cemig – empresa de
economia mista controlada pelo governo do Estado de Minas Gerais – é
acusada também de terceirização ilegal e contratação de empresas sem
licitação. Procurada pela Repórter Brasil, a empresa enviou posicionamento negando as acusações.
O relatório de fiscalização servirá de
base para a ação do Ministério Público do Trabalho. Nesta quinta-feira
(20), a procuradora Luciana Marques Coutinho destacou, em apreciação prévia,
que não é o primeiro problema trabalhista envolvendo a Cemig. “O
resultado da ação fiscal realizada em 2013, além de comprovar os fatos
narrados nas ações civis públicas já ajuizadas, ou seja, a ilicitude da
terceirização e a absurda precarização do trabalho dos terceirizados,
revela um incremento ou piora do quadro”, escreveu.
“A submissão dos trabalhadores a
situações inadmissíveis de labor, seja em razão da jornada extenuante,
não registrada nos controles de jornada e paga ‘por fora’ ou
extra-folha, seja em função da inexistência de garantias mínimas e
básicas de trabalho, como o fornecimento de água potável e instalações
sanitárias nas frentes de trabalho, ou ainda em razão do exercício de
atividade altamente perigosa sem treinamento/capacitação adequados, para
mencionar apenas algumas das irregularidades afirmadas no relato
fiscal, se encaixa no conceito de trabalho análogo à escravidão”.
Cozinha de alojamento dos trabalhadores da Cemig estava em péssimas condições
Trabalho escravo urbano
Os 179 empregados trabalhavam no reparo e construção da rede elétrica da Cemig e estavam submetidos a jornadas exaustivas sistemáticas. Segundo o auditor fiscal Marcelo Gonçalves Campos, que coordenou a operação, era comum os trabalhadores passarem mais de onze horas por dia em serviço. Além disso, o descanso entre jornadas era abaixo do permitido na legislação trabalhista e os empregados não tinham nenhum dia de descanso semanal. Quando a carga de trabalho excedia os limites legais, era comum o pagamento de valores “por fora”.
Além de submetidos a jornadas
exaustivas, os trabalhadores não tinham água potável, banheiros ou lugar
para comer. “Se nós fazemos essas exigências no meio rural, temos
também que exigir o cumprimento dessas obrigações no meio urbano”,
ressaltou o auditor.
Dentre os 179 trabalhadores, 82 eram
migrantes e estavam alojados em condições degradantes. As sete casas
onde os que não eram de Belo Horizonte viviam estavam sujas, não
dispunham de armários e tinham entulho e lixo acumulados em áreas
comuns.
“Quando fomos conversar com os trabalhadores, eles relataram dificuldades de viajar para casa por conta da jornada”Jefferson Leandro Silva, diretor do Sindieletro
A denúncia da situação a que os
trabalhadores estavam submetidos chegou ao MTE através do sindicato da
categoria. De acordo com Jefferson Leandro Silva, diretor do
Sindieletro, um dos empregados suicidou-se em seu alojamento em
fevereiro de 2013. “Quando fomos conversar com os trabalhadores, eles
relataram as dificuldades de trabalho e a dificuldade de viajar para
casa por conta da jornada”, contou. Segundo ele, os colegas explicaram
que esse foi o motivo do suicídio.
Terceirização ilegal
De acordo com o auditor fiscal Marcelo Gonçalves Campos, a Cemig dificultou o resgate dos trabalhadores e se negou a pagar as verbas rescisórias devidas. ”Tentamos até o limite”, afirmou o auditor, que, para tentar garantir o direitos dos empregados, encaminhou farta documentação ao MPT.
Na nota em
que nega ter submetido trabalhadores à escravidão, a Cemig afirmou que
“prestou todas as informações solicitadas e tomou as medidas cabíveis
diante das irregularidades apontadas”, listou um histórico de
providências tomadas para tentar solucionar o caso e responsabilizou a
CET Engenharia Ltda., empresa terceirizada, pela situação a que o grupo
acabou submetido.
Os trabalhadores tinham relação de emprego formalizada com a CET. Em 2009, a empresa já tinha firmado um termo com o MPT se
comprometendo a corrigir diversos dos problemas apontados desta vez e a
cumprir com a legislação trabalhista, sob pena de multa. De acordo com o
Sindieletro, a CET Engenharia anunciou que
será fechada depois de ter sido autuada por trabalho escravo, em
dezembro de 2013. No entanto, o advogado da empresa, Eduardo Sousa,
disse à Repórter Brasilque “houve redução na prestação de serviço com a
Cemig, mas nada ligado com o caso”. Ele disse não saber sobre um
possível fechamento da empresa. A informação vai de encontro com uma
declaração da Cemig, que disse ter suspendido a CET Engenharia do
Cadastro de Fornecedores da empresa.
Tanto os fiscais quanto a procuradora
responsável pelo caso consideraram a terceirização destes trabalhadores
ilegal com base na súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho e,
por isso, responsabilizaram a Cemig pelas infrações. Eles avaliaram
que, subordinadas a ordens da administração da companhia, os empregados
desempenhavam a mesma atividade-fim da companhia ao trabalharem na
reparação e construção da rede elétrica da companhia. A Cemig não se
posicionou sobre esta acusação.
Blog do Luis Nassif
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