Saiu na coluna do Jânio de Freitas, na Folha de S.Paulo ontem, assim:
A comemoração de 20 anos do Plano Real foi uma homenagem à
injustiça. O plano só existiu porque Itamar Franco estava determinado a
arriscar tudo contra a inflação. Antes de Fernando Henrique chegar à
Fazenda, Itamar destituiu dois ministros, Paulo Haddad e Gustavo Krause,
por relutarem em lançar um projeto anti-inflação radical, mais um
(ministro da Fazenda), Eliseu Resende, por falta de condições políticas
para a tarefa.
(No ato comemorativo no Senado 2ª feira pp.) Fernando Henrique só
lembrou Itamar Franco para falar do convite que lhe entregou o
Ministério da Fazenda, e a versão é, no mínimo, imprecisa. Foi ainda a
persistência de Itamar que fez Fernando Henrique afinal desengavetar o
plano, que já estava pronto há quase um semestre.
E disso veio a outra injustiça da comemoração. André Lara Resende
só foi citado no discurso de Fernando Henrique em cambulhada com uma
fieira de nomes, presentes até quem não colaborou – ainda bem – sequer
com vírgulas no projeto. André Lara, uma inteligência criativa, foi o
artífice do plano, com a colaboração também imaginosa de Pérsio Arida.
Mágoa de Itamar
Pois é, é só vocês lembrarem que o Real é de 1994 e que o
ex-presidente Itamar Franco morreu 17 anos depois (2011), um poço de
amargura, sempre se lamuriando que tivera a coragem de lançar e bancar o
Plano, usurparam-lhe o mérito e os louros sempre foram atribuídos a
outros. Itamar nunca perdoou, queixava-se abertamente.
Guardadas as proporções, a história lembra um pouco outra do
presidente Fernando Henrique Cardoso, que passou boa parte da vida
dizendo que foi exilado depois de 1968 pela ditadura militar. Até que na
campanha eleitoral de 1994, sua falecida mulher, Ruth Cardoso, numa
edição da revista Veja em que ela foi capa, disse que não gostava disso e
que eles não foram exilados, mas sim autoexilados.
O que é fato: FHC foi preso, encapuzado, torturado durante a ditadura
– o que por si só já é uma atrocidade cometida contra ele – e cassado
em sua cátedra na USP, decidiu partir para o exterior onde morou vários
anos – inicialmente no Chile -, mas não o fez obrigado pelo regime
militar, compulsoriamente, como milhares de outros brasileiros.
Atitudes de um ex-presidente, FHC, que uma vez no programa do Jô
Soares admitiu não saber o que é maior nele, se a inteligência ou a
vaidade.
(Foto: arquivo Agência Brasil)
Blog do Zé Dirceu
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