Publicado originalmente na BBC Brasil.
Popular, carismático, imprevisível, arrogante e sedento de poder.
Essas são algumas das características que analistas e líderes políticos
costumam usar para definir Leopoldo López, o mais novo inimigo público
do governo venezuelano de Nicolás Maduro.
Referência da ala radical da oposição venezuelana, López está sendo
procurado pela Justiça venezuelana. A polícia chegou a fazer buscas em
sua casa neste domingo, mas ele não estava lá.
O opositor não é visto em público desde quarta-feira, quando milhares
de estudantes sairam às ruas, liderados por ele, para exigir uma
mudança de governo.
No entanto, ele divulgou um vídeo neste domingo, dizendo ser inocente
e desafiando as autoridades a prendê-lo durante uma marcha que ele
convocou para a terça-feira.
“Não tenho nada que temer, não cometi nenhum delito, sou um
venezuelano comprometido com nosso país, como nosso povo. Se há alguma
decisão legal de me prender, estarei pronto para assumir essa
perseguição e essa decisão infame por parte do estado”, disse.
Ele é acusado de ser o autor intelectual da onda de protestos
violentos que tomou a capital do país nos últimos dias. As marchas se
tornaram mais violentas na quarta-feira, quando três homens foram mortos
durante um protesto contra o governo. Maduro acusa López de incitar a
violência, enquanto a oposição afirma que os homens foram assassinados
por milícias pró-governo.
“López ordenou que todos esses jovens violentos, treinados por ele,
destruíssem metade de Caracas e então resolveu se esconder”, disse o
presidente. “Se entregue, seu covarde!”
López se converteu na mais nova dor de cabeça do ex-candidato
presidencial e governador Henrique Capriles – líder do setor moderado da
coalizão opositora – desde que decidiu colocar em prática o plano
chamado “A saída”. Apoiado pelo movimento estudantil, o plano consiste
em intensificar a onda de protestos no país até levar o presidente à
renúncia.
“Ainda acreditam que devemos esperar até 2019 (fim do mandato de
Maduro) para sair deste regime?”, questionou López, em seu perfil no
Twitter, ao convocar os protestos.
Essa declaração foi interpretada pelo governo como um chamado a um golpe de Estado.
A escalada de violência que tem marcado o tom dos protestos nos
últimos dias preocupa aos “moderados” da oposição. Um dos membros da
Mesa de Unidade Democrática (MUD) afirmou à BBC Brasil que o setor
moderado da oposição tentou dissuadir López de sua “aventura” com os
estudantes.
Conservador, vinculado aos partidos de direita da região, López é
visto como um “maverick” – jargão político para definir quem desobedece
as linhas do partido – na avaliação do analista político Carlos Romero,
professor da Universidade Central da Venezuela. “López tem um estilo
muito personalista, pouco institucional. Ele está sempre em permanente
busca de protagonismo”, afirmou Romero.
A seu ver, a polêmica decisão de levar a população às ruas para
promover uma mudança de governo é uma manobra que tem como objetivo
“ambições pessoais”, mas que pode levar à crise toda a coalizão
opositora. “Leopoldo é um dirigente que neste momento está promovendo
danos importantes à oposição democrática”, afirmou.
Sua habilidade em promover rupturas entre aliados políticos também
foi destacada com preocupação por um conselheiro político da embaixada
dos Estados Unidos em Caracas. Em documento desclassificado de 2009
vazado pelo Wikileaks, Robin D. Meyer, qualificou a López como uma
“figura divisora da oposição, arrogante, vingativo e sedento de poder”,
diz o documento que tinha como enunciado “O problema Leopoldo”.
A historiadora Margarita López Maya caracteriza a López como um
político “audaz, ambicioso e carismático”. Em sua opinião, ele é capaz
de capitalizar os anseios da juventude que não vê saídas, se não o
protesto, como mecanismo de pressão para debilitar o chavismo.
“Levá-lo à prisão seria convertê-lo em um mártir e ele seria
catapultado a uma candidatura presidencial”, avaliou a historiadora.
Entre os jovens que estão protestando nas ruas, López é visto como um
ícone da rebelião antichavista e um potencial presidenciável. “Se ele
for preso, o movimento estudantil irá às ruas defender sua liberdade.
Compartilhamos com ele a visão de que é preciso mudar esse governo.
Vamos continuar nas ruas até a renúncia do presidente”, afirmou à BBC
Brasil o dirigente estudantil Daniel Alvarez.
Ex-prefeito do munícipio de Chacao (2000-2008), López, de 43 anos,
vem de uma das familias da elite venezuelana, ligada ao setor industrial
e petroleiro.
Como prefeito, participou ativamente dos protestos que culminaram no golpe de Estado que derrocou brevemente o governo Chávez. Desde então, não pode se desvincular do rotulo de “golpista”, atribuido pelo governo e seus seguidores.
Como prefeito, participou ativamente dos protestos que culminaram no golpe de Estado que derrocou brevemente o governo Chávez. Desde então, não pode se desvincular do rotulo de “golpista”, atribuido pelo governo e seus seguidores.
Em 2008, uma acusação de mau uso de recursos públicos, como prefeito
de Chacao, fez com que o político fosse inabilitado politicamente pela
justiça da Venezuela. Essa decisão do tribunal, impediu que lider
opositor se projetasse como potencial candidato presidencial.
Formado em Harvard, sua carreira politica começou no partido Primeira
Justiça, o mesmo de Capriles. Um racha interno o levou a abandonar o
grupo. Ele então se filiou ao partido conservador Um Novo Tempo, onde
permaneceu pouco tempo, até fundar seu atual partido Voluntad Popular.
Diário do Centro do Mundo
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