Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
Roberto Freire mostra que consegue superar-se ao atacar Dirceu
A nova contribuição de Roberto Freire para atualizar sua biografia consiste em pedir o bloqueio das doações destinada a José Dirceu.
Vamos combinar: é uma covardia absoluta atacar um cidadão preso.
Dirceu não tem como defender-se, não pode dar entrevista nem explicar seu ponto de vista a ninguém.
Vítima de uma denúncia infame, sem pé nem cabeça, desmontada pela direção do presídio, Dirceu é mantido há 90 dias sob regime fechado, embora tenha direito legítimo ao regime semiaberto,
conforme já foi reconhecido pelo ministro Rciardo Lewandovski.
Embora não se pratique a tortura na Papuda, como acontecia nos tempos em que o pai de Tuminha -- novo amigo do deputado -- reinava no DOPS, basta ter alguma sensibilidade para se reconhecer
que Joaquim Barbosa aplica aos condenados da AP 470 um regime de
terror.
Os direitos estão suspensos, o perigo pode vir de qualquer lugar e
aquilo que que deveria ser o traço máximo da Justiça -- a
previsibilidade -- já deixou de existir.
O que se quer é a execução social dos prisioneiros, que devem ser
reduzidos a condição de seres manipuláveis e disponíveis, sem
consciência nem vontade própria.
As doações mostram que esse esforço é inútil.
Para desespero de quem imaginou que os prisioneiros seriam levados
ao ostracismo -- como o próprio Joaquim cobrou da imprensa -- a campanha
confirma que eles têm base social e reconhecimento.
Com todas as diferenças que se possa imaginar, as doações de 2014
lembram a reação dos militantes do PT em 2005, quando 312 000 filiados
participaram da escolha da nova direção do partido, surpreeendendo
aqueles que apostavam na derrocada final da legenda depois da denúncia
de Roberto Jefferson e das CPMIs do Congresso.
O ataque a Dirceu comprova, por outro lado, que Roberto Freire
conseguiu superar-se. Perde referencias, abandona o próprio passado.
Não é tudo por dinheiro, como aqueles infelizes nos programas de
auditório. É tudo para aparecer na mídia. Tudo. Até a coragem dos
covardes, que batem em indefesos.
Dias atrás se alinhou a Romeu Tuma Jr para pedir uma investigação
sobre a insinuação de que Luiz Inãcio Lula da Silva teria sido
informante da ditadura.
Fernando Henrique Cardoso deixou claro, numa entrevista ao Manhathan Conection, que está fora desse jogo sujo.
Mas Roberto Freire mergulhou na lama sem receio de manchar sua biografia.
Porque toda pessoa que tenha participado da resistencia a ditadura
sabe que insinuações sobre personagens da luta contra o regime -- Lula é
só o último exemplo entre tantos -- destina-se a acobertar os
verdadeiros carrascos, os que comandavam a tortura e as execuções.
Já era sintomático, semanas atrás, que Roberto Freire tenha apelado a Comissão da Verdade para apurar o papel de Lula.
Era muito mais fácil e decente pedir que se apurasse, prioritariamente, o papel de Romeu Tuma, pai, homem de confiança dos militares, cujo papel no aparelho repressivo, em São Paulo, foi embranquecido e passado a limpo, a tal ponto que no fim da vida era tratado como amiguinho -- e até como
democrata -- pelos desavisados, ingenuos e interesseiros. Bastava uma
conversinha com vozes do porão para se saber de outras coisas.
A farsa, a fraude, o absurdo reside nisso. Para acobertar um papel vergonhoso e lamentável durante o regime militar, procura-se espalhar a calúnia, a mentira, sobre pessoas contra as quais não há fato algum. Toda vez que fez uma insinuação sobre Lula, seu filho (ajudado por Roberto Freire) deu um lustro na estátua do próprio pai.
Compreende-se que um filho faça isso. Até que anuncie um segundo
volume com novas besteiras. Todo mundo precisa ganhar vida e nunca
faltarão amiguinhos sem pudor para dar auxílio e divulgação. Amor filial
existe.
E amor próprio?
Um deputado comunista, que perdeu vários companheiros nas masmorras onde Tuma agia como um gerente -- que jamais ajudou a localizar um desaparecido, nunca
deu uma pista para condenar um torturador -- não deveria portar-se de
modo tão vergonhoso.
Também não deveria, agora, agredir quem não tem como se defender.
Isto É
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