quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Azeredo decide renunciar para escapar do Supremo

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Assumindo papel de vítima e em tom de indignação, ex-governador Eduardo Azeredo renuncia a mandato de deputado federal; "Uma tragédia desabou sobre mim e minha família", registrou em carta-renúncia; manobra é clara: escapar do julgamento no Supremo Tribunal Federal por desvio de dinheiro público; procurador-geral Rodrigo Janot pediu 22 anos de prisão para ele; relator do caso é o ministro Luís Roberto Barroso; aposta do tucano é a de que perda dos direitos de parlamentar irá tirar caso do foro privilegiado do STF
19 de Fevereiro de 2014 às 12:04

247 – O ex-governador e deputado federal Eduardo Azeredo, do PSDB, está desenvolvendo uma manobra política para se livrar de ser julgado diretamente pelo Supremo Tribunal Federal. Ele renunciou ao mandato parlamentar na tarde desta quarta-feira 19, em Brasília, com a clara intenção de ser considerado um réu comum, sem os privilégios de um parlamentar. Isso levaria seu caso para a primeira instância, alongando no tempo qualquer decisão definitiva.

A carta de renúncia não foi encaminhada pelo parlamentar tucano, mas por seu filho Ricardo, numa decisão que visa dar uma pitada de sentimentalismo ao caso.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu pena de 22 anos de prisão para Azeredo, pelos crimes de corrupção e prática de caixa dois. O relator do caso é o ministro Luís Roberto Barroso.

- De cidadão, que deveria ter assegurado o sagrado direito de defesa, fui transformado em mero alvo político destinado a sofrer ataques para compensar delitos cometidos por outros, registrou Azeredo em texto enviado ao Congresso.

Abaixo, a carta-renúncia de Azeredo:
"Quem assume a atividade política se sujeita a, repentinamente, encarar situações dramáticas e até impensáveis, ditadas pelas mudanças de conjuntura e por ataques, pressões e interesses de adversários. As versões dadas aos fatos, sem cerimônia, estraçalham a vida pessoal como num atropelamento inesperado na travessia de uma rua. Não importa o que a pessoa é e o que já fez em favor da sociedade e dos ideais que escolheu servir.
É assim que me sinto hoje! Uma tragédia desabou sobre mim e a minha família, arrasando o meu nome e a minha reputação, construídos com zelo permanente a partir do legado exemplar que recebi dos meus saudosos pais, Renato e Ruth Azeredo -- eles próprios, pessoas que também sempre se dedicaram à vida pública e ao bem de Minas Gerais e de nosso país.
As acusações de que fui alvo pela Procuradoria Geral da República, com base em testemunhos e documentos falsos, não me pouparam. De cidadão, que deveria ter assegurado o sagrado direito de defesa, fui transformado em mero alvo político destinado a sofrer ataques para compensar delitos cometidos por outros.
A infeliz coincidência de uma agência de publicidade contratada antes mesmo de meu governo, ter se envolvido em rumoroso episódio de negociações suspeitas para fins políticos a nível federal, fez de mim um cúmplice que não fui e nunca seria em ações de que nunca participei nem participaria. As alegações injustas, agressivas, radicais e desumanas da PGR formaram a tormenta que me condena a priori e configuram mais uma antiga e hedionda denúncia da Inquisição do que uma peça acusatória do Ministério Público.
Mas, contra elas, volto a assegurar e repetir que não sou culpado de nenhum ato de peculato. Não fiz empréstimo fictício para a minha campanha de reeleição ao governo de Minas em 1998. Não fiz nem faria, por uma questão de princípio, nenhuma lavagem de dinheiro.
O governador de Minas Gerais, com 20 milhões de habitantes e mais de 500 mil funcionários entre ativos e inativos, não governa sem descentralizar, sem delegar! Injusto em que as responsabilidades de um governador são semelhantes e proporcionais às de um presidente da República!
Mas de que adianta mais eu alegar que não sou culpado? O que posso é reafirmar que estou pronto a responder em qualquer foro às acusações que me fazem. Não vou, porém, me sujeitar à execração pública por ser um membro da Câmara dos Deputados e estar sujeito a pressões políticas. Esta sanha não quer que eu prevaleça a ponderação da Justiça, mas, sim, ver, pendurado e balançando no cadafalso, o corpo de alguém exemplado para satisfazer os mais baixos apetites em ano de eleição."



Brasil 247

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