Assumindo papel de vítima e em tom de indignação,
ex-governador Eduardo Azeredo renuncia a mandato de deputado federal;
"Uma tragédia desabou sobre mim e minha família", registrou em
carta-renúncia; manobra é clara: escapar do julgamento no Supremo
Tribunal Federal por desvio de dinheiro público; procurador-geral
Rodrigo Janot pediu 22 anos de prisão para ele; relator do caso é o
ministro Luís Roberto Barroso; aposta do tucano é a de que perda dos
direitos de parlamentar irá tirar caso do foro privilegiado do STF
247 – O
ex-governador e deputado federal Eduardo Azeredo, do PSDB, está
desenvolvendo uma manobra política para se livrar de ser julgado
diretamente pelo Supremo Tribunal Federal. Ele renunciou ao mandato
parlamentar na tarde desta quarta-feira 19, em Brasília, com a clara
intenção de ser considerado um réu comum, sem os privilégios de um
parlamentar. Isso levaria seu caso para a primeira instância, alongando
no tempo qualquer decisão definitiva.
A carta de renúncia não foi
encaminhada pelo parlamentar tucano, mas por seu filho Ricardo, numa
decisão que visa dar uma pitada de sentimentalismo ao caso.
O procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, pediu pena de 22 anos de prisão para Azeredo, pelos
crimes de corrupção e prática de caixa dois. O relator do caso é o
ministro Luís Roberto Barroso.
- De cidadão, que deveria
ter assegurado o sagrado direito de defesa, fui transformado em mero
alvo político destinado a sofrer ataques para compensar delitos
cometidos por outros, registrou Azeredo em texto enviado ao Congresso.
Abaixo, a carta-renúncia de Azeredo:
"Quem assume a atividade
política se sujeita a, repentinamente, encarar situações dramáticas e
até impensáveis, ditadas pelas mudanças de conjuntura e por ataques,
pressões e interesses de adversários. As versões dadas aos fatos, sem
cerimônia, estraçalham a vida pessoal como num atropelamento inesperado
na travessia de uma rua. Não importa o que a pessoa é e o que já fez em
favor da sociedade e dos ideais que escolheu servir.
É assim que me sinto hoje! Uma
tragédia desabou sobre mim e a minha família, arrasando o meu nome e a
minha reputação, construídos com zelo permanente a partir do legado
exemplar que recebi dos meus saudosos pais, Renato e Ruth Azeredo --
eles próprios, pessoas que também sempre se dedicaram à vida pública e
ao bem de Minas Gerais e de nosso país.
As acusações de que fui alvo
pela Procuradoria Geral da República, com base em testemunhos e
documentos falsos, não me pouparam. De cidadão, que deveria ter
assegurado o sagrado direito de defesa, fui transformado em mero alvo
político destinado a sofrer ataques para compensar delitos cometidos por
outros.
A infeliz coincidência de uma
agência de publicidade contratada antes mesmo de meu governo, ter se
envolvido em rumoroso episódio de negociações suspeitas para fins
políticos a nível federal, fez de mim um cúmplice que não fui e nunca
seria em ações de que nunca participei nem participaria. As alegações
injustas, agressivas, radicais e desumanas da PGR formaram a tormenta
que me condena a priori e configuram mais uma antiga e hedionda denúncia
da Inquisição do que uma peça acusatória do Ministério Público.
Mas, contra elas, volto a
assegurar e repetir que não sou culpado de nenhum ato de peculato. Não
fiz empréstimo fictício para a minha campanha de reeleição ao governo de
Minas em 1998. Não fiz nem faria, por uma questão de princípio, nenhuma
lavagem de dinheiro.
O governador de Minas Gerais,
com 20 milhões de habitantes e mais de 500 mil funcionários entre ativos
e inativos, não governa sem descentralizar, sem delegar! Injusto em que
as responsabilidades de um governador são semelhantes e proporcionais
às de um presidente da República!
Mas de que adianta mais eu
alegar que não sou culpado? O que posso é reafirmar que estou pronto a
responder em qualquer foro às acusações que me fazem. Não vou, porém, me
sujeitar à execração pública por ser um membro da Câmara dos Deputados e
estar sujeito a pressões políticas. Esta sanha não quer que eu
prevaleça a ponderação da Justiça, mas, sim, ver, pendurado e balançando
no cadafalso, o corpo de alguém exemplado para satisfazer os mais
baixos apetites em ano de eleição."
Brasil 247
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