Ex-presidente dedica máximo empenho para proteger
regime constitucional do país vizinho; nota de apoio expedida pelo
Mercosul ao governo de Nicolás Maduro foi articulada por Lula; nesta
segunda-feira 20, na qualidade de maior liderança da esquerda
latino-americana, ele desembarca em Havana para conversas com Raúl e,
claro, Fidel Castro; Cuba seria o país mais afetado pela queda do regime
chavista que, conforme despacho da agência Reuters, vai perdendo o
controle sobre grupos paramilitares que apoiam o governo; quatro mortes,
centenas de prisões e caos em Caracas e no interior do país levantam
dúvidas sobre sustentação de Maduro; Barack Obama, que teve diplomatas
expulsos, dispara palpites de Washington; Lula pode salvar a herança de
Hugo Chávez?
247 – O ex-presidente Lula está envolvido de
corpo e alma, como é do seu estilo, na talvez mais difícil missão
diplomática que já se impôs. Ele quer salvar o regime constitucional da
Venezuela, chavista e à esquerda no quadro político global,
especialmente na América do Sul. Lula foi o principal articulador da
nota do Mercosul em apoio ao governo do presidente Nicolás Maduro, numa
decisão discutida com o presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, no
Palácio Presidencial, em Motevideo, na segunda-feira 17.
Como noticiou 247, eles trataram de organizar a resistência da
esquerda ao que consideram ser um possível rompimento constitucional a
partir de numerosas manifestações de rua em todo o país. Temem que o
recrudescimento da violência civil desperte apetites golpistas, como
sempre acontece na dividida Venezuela.
Nesta segunda-feira 24, dando seguimento a seu roteiro de chefe da
esquerda latino-americano e seu principal líder político, Lula aos
Castro, Raúl e Fidel, em Cuba, avaliar todos os ricos para o regime
socialista no caso de fim abrupto do chavismo. Qual seria a reação
americana à ilha de Fidel? Alguma chance de crescimento repentino da
oposição interna? Como compensar o governo de Raúl pela perda anunciada
de milhões de barris de petróleo nas relações comerciais? E, por último
mas não menos importante, o que a sabedoria dos Castro prevê como efeito
para o Brasil em meio à crise do regime bolivariano.
A situação de Nicolás Maduro vai sendo duramente fustigada não apenas
pela oposição, com seus comícios e manifestações de rua, mas também
pela ação de grupos paramilitares que se dizem fiéis ao governo e ao
chavismo. Em despacho de Caracas, Agência Reuters anota que presidente
estaria perdendo o controle sobre a ação desses grupos de mascarados
violentos. Foi com um tiro disparado de uma motocicleta, como é
característica dessas falanges. Numa manifestação, a miss Turismo
Genêsis Camona, de 22 anos, foi morta com um tiro disparado por um homem
em uma motocicleta.
O governo prendeu o chefe dos manifestantes, Leopoldo Lopez. A
Fiscalía, equivalente ao Ministério Público brasileiro, pode pedir a
prisão dele pelo crime de organização da delinquência, o que poderia
render pena de 10 anos de prisão.
Dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama manda recados. Ele
disse que o governo Maduro "não está sabendo ouvir o povo da Venezuela",
depois de três diplomatas expulsos do país sob acusação de conspiração.
A partir do encontro com Mujica, Lula fez chegar ao Mercosul o desejo
de que uma nota de solidariedade ao "governo constitucional" da
Venezuela fosse divulgada pelos países membros. O intento foi
conseguido, mas a frustração de Lula, até aqui, é com a tímida,
praticamente inexistente, reação oficial do governo brasileiros aos
acontecimentos. Não se deu a conhecer nenhuma palavra do chanceler ou
uma nota do Palácio do Itamaraty, quanto mais do Palácio do Planalto ou
da presidente Dilma Rousseff. Uma tuitada.
Não é a primeira vez que os Castro assistem a uma crise política na
Venezuela. Eles são craques em avaliar possibilidades e efeitos, com
informações frescas de dentro do regime, a partir do diálogo com o
próprio Maduro. Com Hugo Chávez, porém, havia mais estabilidade, ainda
que os tempos de seus governos tenha sido turbulentos.
O sucesso Maduro assumiu o governo em meio a denúncias de que teria
perdido a eleição para Capriles, mas até mesmo pela solidariedade de
país do subcontinente, tomou posse - e passou a fazer das suas. O
ex-caminhoneiro que tem visões de Hugo Chávez semana sim semana não,
acelerou nas trombadas que o antigo presidente gostava de dar com a
mídia do país, considerada golpista pelo regime. Quinze dias atrás,
Maduro, na prática, interrompeu o fornecimento de papel jornal, com
brutal elevação de tarifas de importação. A provocação desaguou numa
série de manifestações estudantis, reprimidas com violência pelas forças
de segurança. Nesse meio, grupo paramilitares voltaram a se organizar,
promovendo arruaças em suposta defesa do governo.
Entre o fogo dos paramilitares encapuzados e as multidões de
oposicionistas que estão nas ruas, Nicolás Maduro não tem para onde
correr neste momento. Se perder o controle do exército, ele precisará de
muita solidariedade internacional para se manter no poder sem a
convocação de eleições ou concessões do tipo uma assembleia nacional
constituinte. O momento, no entanto, é tão conturbado, que nenhum
diálogo é possível agora.
Será que Lula pode salvar a Venezuela do caos e evitar um efeito dominó sobre a esquerda da América Latina?
Brasil 247
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