Capa da publicação mostra um Joaquim
Barbosa vislumbrando eventual futuro político e pede que seu "exemplo"
não seja esquecido; internamente, revista volta a bater na tecla de que o
Brasil precisa de "exemplos"; no entanto, ele deixa o Supremo Tribunal
Federal depois de ter violado uma jurisprudência consagrada nos
tribunais superiores e criado "insegurança jurídica", segundo palavras
do próprio procurador-geral da República; Barbosa, de fato, não deve ser
esquecido, mas pelos erros e não por supostos acertos
247 -
Em 1989, a revista Veja lançou ao País um exemplo. Era o então
governador de Alagoas, Fernando Collor, apresentado à sociedade como "o
caçador de marajás". Mais recentemente, a revista da família Civita
repetiu a dose com Joaquim Barbosa, vendido ao público como "o menino
pobre que mudou o Brasil".
Nesta semana, "o menino
pobre" anunciou sua saída do Supremo Tribunal Federal. Irá curtir a Copa
do Mundo e a aposentadoria precoce em Miami, paraíso dos novos-ricos
latino-americanos. Deixou a suprema corte porque estava completamente
isolado nos meios jurídicos. Em sua sanha persecutória ao ex-ministro
José Dirceu, criou uma jurisprudência nova sobre trabalho externo de
condenados ao regime semiaberto e foi repreendido pela Ordem dos
Advogados do Brasil e pela procuradoria-geral da República, que o acusou
de criar "insegurança jurídica".
Portanto, nos meios
jurídicos, Barbosa foi um péssimo exemplo – talvez, um dos piores de
pessoas que já ocuparam altos cargos na magistratura. Foi alguém que
colocou os interesses do personagem Joaquim Barbosa, eventual candidato a
algum cargo público no futuro, acima da lei.
No entanto, esse mesmo
personagem volta a ser celebrado na revista Veja deste fim de semana. "E
agora, Joaquim?", questiona a revista, no título da capa, lembrando que
"o Brasil não pode deixar que seu exemplo seja esquecido".
Internamente, a publicação dos Civita volta a lembrar que "o Brasil
precisa de exemplos".
Bom ou mau exemplo?
Como juiz, Barbosa,
claramente, não teve uma conduta exemplar. Como cidadão, menos ainda.
Revelou-se, no Supremo Tribunal Federal, um agressor em série (leia mais
aqui),
atacando praticamente todos os seus colegas em momentos distintos. Mas,
à revista Veja, interessa criar a mitologia do herói justiceiro que,
pela primeira vez, teve a coragem de punir poderosos.
Curiosamente, o exemplo
do passado é hoje um dos grandes inimigos de Veja. Na mesma edição em
que exalta Barbosa, a revista ataca o senador Fernando Collor (PTB-AL),
que, há poucas semanas, obteve a confirmação, em última instância, de
que a revista terá que indenizá-lo em mais de R$ 1 milhão (saiba mais aqui).
Na coluna Radar, Collor é
apontado como um "sempre enrolado" personagem, que teria dívidas de
campanha não pagas. Numa reportagem interna, chamada "No estilo do
'duela a quien duela'", novo disparo de Veja. Ou seja: o exemplo de
ontem virou o inimigo de hoje, a quem a revista foi condenada a
indenizar.
O mito de Joaquim
Barbosa, no entanto, é muito mais perigoso. Sem apreço pela democracia, a
revista exalta um personagem que já demonstrou uma incrível capacidade
para suprimir garantias constitucionais e pisotear direitos individuais.
Num ponto, no entanto, a revista tem razão. O exemplo de Barbosa não deve ser esquecido.
O mau exemplo.
Brasil 247
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