sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

PROVOCADORES DE ALUGUEL

Paulo Moreira Leite
 
 
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".


A baderna paga a R$ 150 demonstra o fracasso de quem não tem capacidade de atrair a população para suas ideias


A notícia de que dirigentes de alguns partidos de esquerda não-petista decidiram pagar R$ 150 para garantir presença em seus protestos políticos  não é grave. É deprimente.  
 
Se é imoral comprar votos numa eleição, eu acho ainda mais condenável comprar presença em manifestação. 
 
É prova de um grande fracasso político. 
 
Apenas lideranças incapazes de formular propostas para atrair uma parcela significativa população para  seus projetos têm necessidade de fazer isso. 
 
Claro que nossa história está recheada de cabos eleitorais profissionais e que a maioria dos partidos com alguma estrutura -- e mesmo organizações pequenas -- tem lã seus  funcionários pagos. Já fui a vários comícios, de vários partidos, onde a massa presente era composta de funcionários públicos forçados a bater palma. É vergonhoso, é desagradável, mas não é disso que estamos falando.
 
Estamos diante de pessoas que são arregimentadas -- e pagas -- para cometer atos de provocação.
 
É possível travar um debate legítimo com uma pessoa que comete atos de violência.
Ela pode estar convencida de uma ideia errada -- mas há um debate a ser feito. Você pode queimar a garganta falando sobre a conjuntura, a relação de forças, os valores democráticos, o diabo. 
 
Outra coisa é enfrentar alguém que é pago para fazeruma provocação.  
 
O que se faz? Paga-se R$ 200 para o cara mudar de ideia? 
 
É claro que essa situação serve de estímulo a um coral conservador contra a democracia, a favor da criminalização dos movimentos sociais e, não se enganem, contra a luta política em geral.
O alvo final é a democracia.  
 
Veja o absurdo: a morte de Santiago Andrade, provocada por um rojão arremessado por um capanga -- o nome está errado? é forte?  -- contra um cinegrafista que poderia ter tido a vida salva se lhe tivessem dado equipamento adequaqdo, ameaçou criar uma crise política real.
 E era tudo teatro, artifício. encenação -- apenas o sangue era de verdade.  
 
Há outro ponto curioso para se observar. 
Como ficou claro em junho de 2013, a baderna e mesmo a violência dos protestos chegaram a receber estímulos -- dentro de certo limite -- por parte da oposição ao governo Dilma. A razão era óbvia. Estes movimentos ajudavam a desgastar o governo Dilma, associavam o Planalto com a ideia de baderna, o que poderia se transformar num motivo a mais para se tentar mudar o voto do eleitorado em 2014. 
 
Resta saber o que vai acontecer agora. 
Como aconteceu em outras eleições, partidos de esquerda planejam lançar candidatos próprios em 2014.
É  claro que, sem nenhuma chance real de vitória, todos serão preservados -- na medida do possível -- em sua função de roubar votos à esquerda do governo, ajudando a oposição conservadora em seu esforço estratégico de garantir uma eleição em dois turnos. Todos estão unidos na bandeira Não vai Ter Copa, lembram? 
 
Todos têm o direito de apresentar propostas e defender suas ideias. Mas a provocação e o embuste não fazem parte de métodos aceitáveis de disputa política. 
 
O fundo da questão é este.
 
 
 
Isto É

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