27/03/2014
(Hoje em Dia) - O Presidente Obama afirmou, em entrevista,
para a imprensa holandesa, que Kiev “não precisa escolher entre leste e oeste”,
e que é importante que o povo ucraniano tenha boas relações com a Rússia, os
EUA, e a Europa.
Os ucranianos deveriam agradecer penhoradamente esse
conselho, e lembrar que era exatamente isso que estavam fazendo antes que o
Ocidente se metesse no país.
Kiev poderia ter sobrevivido, por muito tempo, com seu
território intacto, se tivesse continuado seu movimento pendular tradicional,
inclinando-se ora para o Ocidente, ora para a Rússia, buscando obter vantagens
dos dois lados.
Ao dar ouvidos à OTAN, esticando a corda ao máximo, a ponto
derrubar o governo, os neonazistas que assumiram o poder obrigaram a Ucrânia a
queimar seus navios, sem olhar para trás.
Com isso, Kiev perdeu a Criméia, o mercado russo para seus
produtos, o dinheiro prometido por Putin, e muito mais.
Depois de botar fogo na fogueira, o Ocidente - como se pode
ver pelas declarações de Mr. Obama, está, apesar da retórica agressiva somada a
“sanções” praticamente inócuas, tentando salvar a cara enquanto pensa em um
jeito de se afastar do atoleiro
ucraniano.
Kiev deve 170 bilhões de euros, e precisa de 50 milhões de
metros cúbicos de gás, todos os dias, para tocar a economia e não congelar.
Mesmo que fosse possível convencer a população europeia a
pagar a conta, quando ainda sofre com as graves consequências da crise
econômica, ainda haveria a questão do gás.
O engenheiro enviado pelos EUA para estudar a situação, disse
que seria possível assegurar sete milhões de metros cúbicos de gás, até o fim
do ano, desviando parte do gás russo fornecido à Europa, o que representaria
apenas 14% da demanda ucraniana, para enfrentar um inexorável inverno, que,
neste ano, como em todos os outros, vai chegar.
E isso, se a UE pudesse prescindir desse gás, que teria de
ser pago pelos ucranianos, ao mesmo preço de mercado cobrado por Moscou dos
próprios europeus.
Ao dizer que Kiev não precisa escolher, necessariamente,
entre Leste e Oeste, depois de tê-la empurrado contra Putin, os EUA estão
lavando, olimpicamente, as suas mãos, como se nada tivessem a ver com a
situação.
O seu recado, e o da OTAN, para os ucranianos, é o mesmo que
o Coronel Pedro Tamarindo deu aos seus soldados, ao abandonar a Coluna de
Moreira César, na Guerra de Canudos: em tempo de Murici, cada um cuide de si.
O que pode servir de advertência, para aqueles que, a exemplo
de parte do exército de famintos, órfãos e refugiados da Primavera Árabe, se
deixam seduzir pelas sinuosas sereias do Ocidente.
Elas não trazem Liberdade ou Prosperidade. Seu objetivo é
destruir e fragmentar, com o seu canto – como fizeram nos Balcãs, no Iraque, no
Afeganistão, no Egito e na Líbia, a unidade e a estabilidade – desde que não
tenha armas atômicas - de qualquer nação que possa vir a ameaçar seus
interesses no futuro.
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