terça-feira, 25 de março de 2014

PT ajudou a condenar o Dirceu

Quem mais teme a liberdade de Dirceu ? O Barbosa ou o PT ?

Não deve parecer estranho que a nota oficial do Diretório Nacional do PT, da semana passada, tenha sido tão discreta ao defender o José Dirceu, condenado à prisão perpétua pelo Presidente Joaquim Barbosa.

Aliás, o PT jamais mencionou pelo nome os companheiros condenados.

O PT defendeu os condenados do mensalão com o constrangimento de quem é obrigado a proteger o genro chantagista.

(Ou não foi o PT que demitiu e depois readmitiu o Delúbio ? Não foi o PT que tirou o Genoino da Presidência ? E trata o Dirceu como se fosse chefe de ONG ?)

E por que ?

Porque o PT fez, como a UDN, uma interpretação moral do mensalão, ou melhor, da AP 470.

O PT ficou com vergonha de seus líderes.

O Tarso Genro, o José Eduardo Cardozo, o zé do Dantas, esses, então, só não celebraram porque seria um erro político fatal.

O PT jamais enfrentou o Supremo.

E jamais enfrentou o Supremo na arena em que o Supremo julgou a liderança petista: na arena política.

Dirceu, Genoino e João Paulo foram condenados sem prova.

E Delúbio cometeu um crime eleitoral, já prescrito, o de Caixa 2.

O PT ganhou a eleição de 2002 e dois de seus principais aliados estavam quebrados: o PTB de Roberto Jefferson, e o PL de José Alencar.

O que ia fazer o Dirceu ?

Renunciar à vitória e não deixar o Lula governar ?

Ele fez o que TODOS os partidos brasileiros fazem– com exceção, é claro, do imaculado PSDB: mandou o Delúbio recorrer ao Caixa 2.

Clique aqui para ler sobre como se governa no Brasil: em “parece que o Governo Dilma quer se ferrar com a CPI”.

O PT corria o risco de levar e não governar.

O que esteve em jogo no Supremo foi se o PT tinha o direito de governar, mesmo depois de ganhar a eleição.

Quando o Ministério Público Federal, sob a batuta do inesquecível Antonio Fernando – depois advogado de Daniel Dantas – denunciou “Ali Babá e os 40 ladrões”, para regozijo do PiG (*), quis dizer assim: se o Lula botar a cabeça pra fora, a gente pega o Ali Babá !

O Supremo queria, nessa ordem: a cabeça do Dirceu, Genoino, Gushiken e João Paulo.

Depois, a do Lula e da Dilma.

Foram trucidados três presidentes do PT – Gushiken, Dirceu e Genoino e um Presidente da Câmara, o João Paulo, na linha direta de sucessão do Presidente.

(Gushiken foi absolvido à beira da morte, sem ouvir a retratação do Pizolatto – clique para ler “fala, Pizzolato, fala !”).

O objetivo do Supremo não era “restaurar a moralidade”!

Era decepar o PT.

E conseguiu.

Com a ajuda do PT.

Porque o PT – a “UDN de tamancas”, segundo o Darci Ribeiro – se deixou conduzir pela cantilena moralista.

E o que estava em jogo era o PODER !

Não era Ética, a Ética do Gilmar Dantas (**).

A nota do Diretório revela que o PT não entendeu a relevância da queda do crime de quadrilha, nos embargos infringentes.

O Joaquim Barbosa e o Ataulfo Merval de Paiva (***) entenderam perfeitamente.

É porque sem o crime de quadrilha não tem domínio de fato.

Sem a quadrilha, o Dirceu dominava o que ?

Que quadrilha ?

A de São João ?

A queda do crime de quadrilha desmancha a lógica de toda a condenação dos petistas.

E é por isso que a revisão criminal se torna inevitável.

O que pode permitir, eventualmente, que Dirceu reassuma o controle político do PT, formalmente, mais cedo do que se pensa.

O Barbosa entendeu a natureza do julgamento muito mais do que o PT.

Barbosa entendeu que o gesto desafiador do Dirceu – e do Genoino – , com os punhos cerrados, erguidos, atingia o estômago do processo.

Eu não fui condenado – e muito menos derrotado, diz o gesto.

E é por isso que Barbosa deixará Dirceu na masmorra enquanto for tolerável.

Até o ponto em que não contribuir para reforçar a imagem de mártir que já cobre Dirceu.

Pouco antes de ser preso, um dos condenados disse ao ansioso blogueiro:

“Eles acham que vão nos derrotar, nos abater ? Eles não entendem do que somos feitos. Nós somos quadros. Nós somos de Partido. Nós vamos fazer o que fazemos até a morte. Nós não temos compulsória aos 70 anos.”

Dirceu pode estar na rua, em regime aberto, por volta de novembro.

Quem mais teme esse momento não é o Barbosa, que já terá ido embora.

É o PT.


Paulo Henrique Amorim



(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Clique aqui para ver como notável colonista da Globo Overseas Investment BV se referiu a Ele. E aqui para ver como outra notável colonista da GloboNews e da CBN se referia a Ele. O Ataulfo Merval de Paiva (***) preferiu inovar. Cansado do antigo apelido, o imortal colonista decidiu chamá-lo de Gilmar Mentes. Esse Ataulfo é um jenio. O Luiz Fucks que o diga.

(***) Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura – dos membros da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins do Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse. Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”, por seus notórios méritos jornalísticos,  estilísticos, e acadêmicos, em suma. Registre-se, em sua homenagem, que os filhos de Roberto Marinho perceberam isso e não o fizeram diretor de redação nem do Globo nem da TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que Merval é, provavelmente, o personagem principal de seu romance “O Brasil”.
 
 
 
Conversa Afiada

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