O coronel da reserva do Exército Paulo Malhães, considerado um dos mais
ativos agentes da repressão e tortura durante a ditadura militar, embora
tenha confessado, ontem, no depoimento à Comissão Nacional da Verdade
(CNV), que também tem seus momentos de “recaída” e pena dos familiares
dos desaparecidos, tudo indica está empenhado em confundir, ou em
aumentar a tortura e angústia da família do ex-deputado Rubens Paiv
Depois de ter confessado em entrevistas ao jornais O Globo e O Dia, que havia comandado a operação de sumiço final dos restos mortais do ex-deputado Rubens Paiva, jogados ao mar, no depoimento à CNV, ontem, o coronel voltou atrás. No depoimento ele admitiu que torturou, matou e ocultou cadáveres de presos políticos na ditadura militar. Mas negou ter comandado a operação de sumiço dos restos de Paiva. Disse que sabe que o corpo foi jogado em um rio da Região Serrana fluminense e se negou a dar mais detalhes do que sabe. Alegou ter o dever de proteger militares que foram seus colegas ou superiores.
Limitou-se a explicar que fez a confissão ao O Globo e ao O Dia por
pena da família Paiva, para confortá-la, consolá-la, por ela estar “há
38 anos procurando o corpo”. Está há 43, coronel Malhães. O deputado foi
levado de casa dia 20 de janeiro de 1971 para o DOI-CODI, assassinado
entre esta data e o dia 22 daquele mês e desde então consta como
desaparecido político. Mas a família, a mídia e as comissões da verdade
já levantaram tudo, sabem em detalhes o que ocorreu e só não conseguem
localizar os despojos de Rubens Paiva.
O que levou o coronel Malhães a recuar?
O coronel confessou sua face humana, mas ao mesmo tempo declarou à
CNV não saber quantos combatentes da ditadura torturou e matou na
repressão e que não se arrepende de nada do que fez porque acha que
estava certo. “Com tantos anos de advocacia, eu me choquei com a
descrição da mutilação de dedos e arcadas dentárias para desaparecer com
os corpos”, afirmou José Carlos Dias. “Eu não diria que ele foi
corajoso. É um exibicionista, um sádico”, acrescentou o ex-ministro da
Justiça e integrante da CNV.
Mas, o que levou o coronel a voltar atrás? Acovardou-se, levou uma
prensa de seus pares, sofreu ameaça? Com o novo depoimento do coronel
ontem, o Jornal Nacional, da Rede Globo, por exemplo, procurou ouvir o
Ministério da Defesa. Ouviu o mesmo mantra repetido há 50 anos, desde o
golpe de 1964: as Forças Armadas não falam a respeito.
Também em depoimento à CNV, Inês Etienne Romeu, única presa política
que sobreviveu entre as dezenas que passaram pela Casa da Morte, o
centro de tortura que funcionou em Petrópolis, identificou seis
militares como torturadores. Ela reconheceu imagens (fotos) dos seis
homens e os identificou como integrantes do centro clandestino de
tortura, mantido pelo Exército em Petrópolis a partir de 1971 e até
1974.
Mais uma leva de torturadores da Casa da Morte identificados
Os agentes reconhecidos são Freddie Perdigão Pereira; Rubens Paim
Sampaio; Ubirajara Ribeiro de Souza; Rubens Gomes Carneiro; Luiz
Cláudio de Azeredo Vianna; e Antonio Fernando Hughes de Carvalho. Até a
apresentação das fotos, Inês havia identificado, por meio de imagens,
dois outros agentes da casa da Morte: Amílcar Lobo e Ubirajara Ribeiro
de Souza.
Inês Etienne Romeu, antes audiência pública da Comissão da Verdade do Rio, no Arquivo Nacional.
Inês Etienne Romeu, antes audiência pública da Comissão da Verdade do Rio, no Arquivo Nacional.
“A Casa da Morte elevou os desaparecimentos a uma política de Estado,
operada pelo Exército”, disse o coordenador da comissão, Pedro Dallari.
“Foi uma estrutura de Estado concebida para a grave violação de
direitos humanos.”
Ao menos seis desaparecidos políticos teriam sido assassinados na
Casa da Morte, segundo a CNV: Carlos Alberto Soares de Freitas; Mariano
Joaquim da Silva; Aluizio Palhano Pedreira; Heleny Telles Ferreira
Guariba; Walter Ribeiro Novais; e Paulo de Tarso Celestino da Silva.
Coronel Malhães atuou lá
No depoimento à CNV, ontem, o coronel Malhães assumiu ter atuado na
Casa da Morte. Ele defendeu a tortura como método de interrogatório e
descreveu a mutilação de corpos para evitar que fossem identificados. “A
tortura é um meio. Se o senhor quer saber a verdade, o senhor tem que
me apertar”, disse ao ex-ministro da Justiça José Carlos Dias. “Naquela
época não existia DNA. Quais são as partes que podem identificar um
corpo? Arcada dentária e digitais”, afirmou, justificando às mutilações
de cadáveres dos presos políticos mortos.
Ele chamou os presos de “terroristas” e garantiu não ter nenhum
arrependimento das mortes. “Essas pessoas eram guerrilheiras. Não eram
pessoas normais. Não foram presas porque jogavam bola de gude”, disse.
Blog do Zé Dirceu
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