Criminosos ligados ao jogo do bicho fizeram
campanha e podem ter contribuído até financeiramente para a eleição do
prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, do PSDB; é o que informa reportagem
do jornal Diário do Pará, a partir de diálogos ocorridos, em 2012,
entre o empresário João Monteiro Vidal, mais conhecido como "Jango", e
vários interlocutores, entre eles o presidente do diretório municipal do
PSDB de Belém, Fabrício Gama; os diálogos foram grampeados pela polícia
durante as investigações que culminaram na operação "Efeito Dominó",
realizada em setembro do ano passado; quase 50 pessoas foram presas
durante a operação
247 - Criminosos ligados ao jogo do bicho
fizeram campanha e podem ter contribuído até financeiramente para a
eleição do prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, do PSDB. É isso o que se
pode concluir dos diálogos ocorridos, em 2012, entre o empresário João
Monteiro Vidal, mais conhecido como "Jango", e vários interlocutores,
entre eles o presidente do diretório municipal do PSDB de Belém,
Fabrício Gama. Segundo a polícia, "Jango" era um dos comandantes do
Parazão, a central de apostas que reunia as principais bancas de bicho
de Belém. Nos diálogos, ele pede votos para Zenaldo, aparenta comandar
propaganda de rua em favor do tucano e, junto com Fabrício, comemora a
eleição do novo prefeito. A informação é do jornal Diário do Pará.
Os diálogos de "Jango" com outros supostos bicheiros e com Fabrício
Gama foram grampeados pela polícia durante as investigações que
culminaram na operação "Efeito Dominó", realizada em setembro do ano
passado. Quase 50 pessoas foram presas durante a operação, entre elas
"Jango" e o empresário carioca Luizinho Drumond, que, segundo a polícia,
era sócio oculto do Parazão.
"Jango", Luizinho e os demais supostos chefes da jogatina da cidade
estão sendo processados criminalmente por exploração do jogo do bicho,
formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, crime contra a economia
popular. "Jango" é presidente da escola de samba Rancho Não Posso Me
Amofiná. Luizinho Drumond é patrono da escola de samba Imperatriz
Leopoldinense, do Rio de Janeiro, que homenageou o Pará no carnaval de
2011, no primeiro ano de governo de Simão Jatene (PSDB). Coincidência ou
não, Fabrício é agora o presidente da Liga das Escolas de Samba do
Grupo Especial de Belém, anteriormente presidida por Waldir Fiock,
também preso na operação Dominó, sob a acusação de integrar o comando do
Parazão.
Alguns dos diálogos grampeados pela polícia revelam uma relação muito
amistosa entre "Jango" e Fabrício, que chega a tratar "Jango" como "meu
padrinho". Em uma ocasião, Fabrício tenta tranquilizar "Jango",
afirmando que não era verdadeira uma pesquisa que apontava o psolista
Edmilson Rodrigues à frente de Zenaldo Coutinho, na disputa pela
Prefeitura de Belém. Em outra ocasião, enquanto comemora a eleição de
Zenaldo por 100 mil votos de diferença, "Jango" diz a Fabrício possuir
um galpão que serviria para "algum tipo de projeto", possivelmente, da
prefeitura.
Em mais um telefonema, quando Fabrício se encontrava, segundo ele,
"em uma inauguração com o governador", Jango e um amigo dele garantem
que o bairro do Jurunas vai eleger Fabrício deputado estadual. E há um
diálogo para deixar qualquer um de orelha em pé. Nele, "Jango",
impaciente, dá ordens a Fabrício: "Vem logo aqui agora, agora! É pra
vires pra cá agora, agora!". E afirma: "Tô esperando vocês aqui já, com o
negócio". O "aqui" era a casa de "Jango". E o "negócio", qual seria?
E mais: os diálogos deixam impressão de que aquela não foi a única
visita de Fabrício à casa de "Jango". Ao contrário: aparentemente, foram
vários os encontros entre os dois – um deles, logo depois de Fabrício
deixar a companhia de Zenaldo e Jatene, que haviam acabado de jantar.
Além disso, pelas conversas de "Jango" com outros interlocutores, até
mesmo Zenaldo e Jatene deram uma passada na casa do suposto bicheiro,
que os aguardava ansiosamente, durante a campanha eleitoral.
Ao fundo de uma gravação ouve-se a propaganda de Zenaldo, oriunda de
carro-som. Em outro telefonema, Jango manda um interlocutor se deslocar
rapidamente à sua casa. "O Zenaldo tá vindo aqui na porta de casa agora,
com o Jatene", diz "Jango". "Por isso que eu te liguei. Daqui a uns 10
minutos; é pra vir pra porta agora".
Outras conversas mostram "Jango" pedindo votos para Zenaldo, como um
verdadeiro cabo eleitoral. Uma delas é com um cidadão de nome "Nelson"
ou "Relson" – possivelmente, Relson Lima Souza, que, segundo a polícia,
era quem entregava aos comandantes do Parazão o dinheiro lucrado com a
jogatina - que era dividido em percentuais correspondentes às cotas de
cada qual no "empreendimento". Na conversa, "Jango" pergunta se Relson
está trabalhando "pesadamente" na campanha de Zenaldo. Relson responde
que sim e torce pela eleição do tucano. "Se Deus quiser, a porrada vai
ser grande mesmo", diz ele.
Brasil 247
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