segunda-feira, 17 de março de 2014

Denúncia de “regalias” de Dirceu reflete o desespero da mídia

16 de março de 2014 | 12:30 Autor: Miguel do Rosário
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Além de ser capa da Veja, Dirceu também aparece diariamente no jornal O Globo, sempre numa reportagem negativa e mentirosa sobre “regalias”. Hoje, domingo de seu aniversário não podia ser diferente. Na página 10, a reportagem traz o título que já diz tudo: “Dirceu faz aniversário sob suspeita de regalia”.

Até onde vai a pequenez dos homens? 

Os barões da mídia conseguiram cumprir seu objetivo: prenderam Dirceu. Nesta sexta-feira, os jornalões estamparam enormes manchetes falando que o mensalão chegou ao fim. Folha, Globo, Estadão trouxeram infográficos gigantescos, daqueles que jamais fizeram para o trensalão ou para o mensalão tucano.

Só que o mensalão não acabou. Os jornais ficaram viciados nesse tipo de história. Não basta prender os petistas. É preciso humilhá-los até se tornarem poeira.
Suponho, todavia, que a mídia passou muito da medida. 

Dirceu é um homem agora com quase 70 anos, preso na Papuda. Onde a nossa mídia quer chegar com essa perseguição dentro do presídio?
Nunca se viu isso nem com bandidos ou traficantes famosos. 

A Veja faz uma reportagem de capa para “denunciar” que Dirceu tinha uma unha encravada?
Na verdade, a imprensa incorre numa contradição absolutamente ridícula.
Como se pode achincalhar, na grande mídia, um cidadão que está preso, ou seja, que não pode responder, e ao mesmo tempo dizer que ele tem “regalias”? 

Como se pode omitir a informação que Dirceu está encarcerado ilegalmente em regime fechado, pois deveria estar cumprindo o regime semi-aberto, que é a sentença definida pelo próprio Judiciário, e afirmar que Dirceu tem “regalias”?

Ao agir com tanta arbitrariedade, a mídia transforma José Dirceu num mártir. A mesma coisa vale para Genoíno. Até Delúbio Soares, que foi um dos nomes mais pisoteados, porque era quem efetivamente lidava com dinheiro, está recuperando prestígio, diante da violência midiática contínua de que é vítima. 

Não importa a profundidade com que a mídia procura enterrar esta semente; ela voltará a germinar e a buscar o céu e a liberdade.
Alguns barões da mídia já deveriam ter percebido que não se deve esticar uma corda além de suas capacidades físicas. Ela vai arrebentar. 

A violência da mídia contra o PT se tornou patológica, doentia. E qual o resultado? Num dos anos mais difíceis para o partido, porque lideranças carismáticas foram condenadas e presas, após um julgamento que inúmeros juristas consideraram político, e que jovens vieram as ruas protestar contra tudo e todos, o PT foi a legenda que mais ganhou filiados.
E agora, analistas da própria grande imprensa prevêem que o PT amplie sua bancada no Congresso para mais de 100 deputados. 

O mundo real se distancia cada vez mais das ficções políticas da mídia. Esta esqueceu algumas lições simples do que poderíamos chamar de “economia da justiça”. Em sua obsessão por baixar o preço de Dirceu, a mídia apenas está deixando-o mais acessível a mais gente.
O povo não entende direito o que aconteceu no mensalão, até porque a mídia jamais quis explicar. Mas o entendimento de que há uma perseguição, tornada cada vez mais ridícula, na medida em que o homem já está preso e não pode se defender, e agora se aproxima dos 70 anos de idade, isso é fácil de assimilar. 

A revolta contra essa perseguição faz muito mais do que as críticas aos erros da Ação Penal 470. Ou melhor, confirma estes erros, na medida em que, se houvesse uma condenação justa, a mídia não precisaria apelar para essa tentativa de criar um “pós-julgamento” e uma condenação “extra”, além daquela que os réus já estão cumprindo. 

A perseguição à Dirceu reflete o desespero da mídia para não perder o controle sobre a narrativa da Ação Penal 470. Ao se apegar em assuntos tão “profundos”, como a denúncia de que Dirceu comeu um lanche do Mac Donalds dentro do presídio (segundo uma fonte “em off”), a mídia tenta abafar as críticas crescentes à conduta do ministro Joaquim Barbosa.
No entanto, apenas adia uma tendência inevitável: a sociedade considerar o julgamento do mensalão uma grande farsa. 



Brasil 247

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