Na cadeira mais alta do Supremo, conduzindo o
desfecho da AP 470, ministro Ricardo Lewandowski resgata modos e
posturas perdidos na gestão de Joaquim Barbosa; sem gritos, bate-bocas
ou sobressaltos, sessão histórica da quinta-feira 13 teve ritmo, clareza
e, especialmente, respeito entre contrários; tudo do que pouco se viu
nos últimos tempos; não por acaso, o próprio Barbosa só apareceu por lá
no fim
247 – Quanta diferença! O presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, permitiu que o vice-presidente
Ricardo Lewandowski encontrasse espaço ontem, na sessão que encerrou o
julgamento da AP 470, para dar uma aula de como se conduz com
celeridade, clareza e, sobretudo, respeito entre contrários a mais alta
corte do país. É que Barbosa só apareceu no fim, permitindo com a sua
ausência que Lewandowski assumisse os trabalhos desde o início.
O que se viu, então, foi um contraste radical com a tensão imposta
por Barbosa, desde os tempos em que se pronunciava como relator,
explodida em diferentes momentos da gestão do atual presidente. Dedos em
riste, vociferações, tapas na mesa, vozes sobrepostas, caras feias,
enfim, todas as cenas que eletrizaram os espectadores ao vivo e da TV
Justiça durante o chamado julgamento do mensalão ficaram de fora do
roteiro de ontem.
O ministro Ricardo Lewandowski seguiu a fidalguia de seu estilo
pessoal para levar em frente uma sessão sem unanimidade, de resultado
que, portanto, não agradou a todos – a absolvição de dois réus acusados
de lavagem de dinheiro --, mas que transcorreu sobre carretéis. Todos os
juízes se expressaram, o debate fluiu e, em lugar do estímulo a um
fogaréu de vaidades, a condução do vice na presidência estimulou o voto
breve de leitura acompanhado pela anexação das justificativas por
escrito.
Só na marcha batida de ontem o Supremo tem uma chance de reduzir sua
demanda reprimida. Como sustenta o ministro Marco Aurélio Mello, no mais
alto nível da jurisdição os juízes, acredita-se, têm preparo suficiente
inclusive para votar de improviso, em razão do conhecimento de causa
adquirido por anos de prática jurídica.
Com Joaquim Barbosa o jeito é outro.
Promotor de origem, o feitio dele é acusatório, como se viu durante
todo o julgamento da AP 470. Se a marca do indicador esticado cai bem
para um acusador, o mesmo não vale para quem tem a função de ser um
magistrado. Alimentando dissensões, chegando a desqualificar colegas e,
no momento mais baixo, ao ser derrotado na votação dos primeiros
embargos infringentes, colocando em suspeição a própria composição do
Supremo, Barbosa deu um show ao contrário. Chegou maior ao Supremo do
que sairá – ou ao cabo do seu mandato, ou apressando o final para seguir
carreira política.
Sobre os novos tempos que se anunciam no Supremo sem Barbosa e seu
conjunto de distorções, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou:
- Nós deixamos de ser o homem cordial de que falava Sérgio Buarque de
Hollanda e agora viramos muito agressivos. Acho que tínhamos de voltar a
um tempo de um pouco mais de delicadeza.
Brasil 247
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