O que está em jogo realmente na defesa fanática e ortodoxa de uma
taxa Selic maior como instrumento para reduzir a inflação, um maior ou
menor crescimento do PIB ou o modelo desenvolvimentista? O modelo.
Querem mudá-lo a todo custo. Para nossos adversários - e basta ler os
editoriais dos jornais da direita conservadora para chegar a esta
conclusão - é preciso mudar o modelo.
Não querem apenas subir os
juros para reduzir a inflação. Até porque o dragão da maldade já dá
sinais de recuo. Não nos iludamos, o que está em jogo é nosso projeto
politico de desenvolvimento nacional e não apenas uma questão de
politica monetária e/ou da autoridade e autonomia do Banco Central.
Para
nossa oposição - vide o programa do PSDB em rede de TV semana passada e
as declarações do senador Aécio Neves (PSDB-MG) -, temos que cortar
gastos e aumentar os juros. Em outras palavras induzir, levar o país a
uma recessão, logo agora que o PIB trimestral saltou de 0,3% para 0,6% e
a inflação vem caindo.
O discurso e a proposta da oposição, lato
sensu, não têm a mínima lógica. Eles oferecem ao nosso povo uma única
opção: a de perder o valor de seu salário sempre, pelo desemprego e a
recessão, ou pela desvalorização do dólar ou pelo aumento dos juros e
corte dos gastos.
Mas a valorização do dólar
pode levar ao aumento das exportações e a diminuição das importações,
ao crescimento da indústria e do emprego e da renda. Já o corte de
gastos e o aumento dos juros valorizando o real nos levarão apenas a um
passado, a um dejá vú...
Corte de gastos e o aumento dos juros são sinônimos de retrocesso
Não
se pode voltar a ortodoxia religiosa do tripé juros, câmbio e
superávit. Voltar seria como se os últimos 10 anos não existissem. Seria
apagar no Brasil o crescimento sustentável do emprego e da renda, do
salario mínimo e do salário desemprego, dos benefícios da Previdência,
da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), do Bolsa Família e demais
programas sociais - enfim, anular o crescimento sustentável do país na
última década.
Estaríamos simplesmente apagando o aumento
extraordinário do crédito e a ascensão de dezenas de milhões de
brasileiros à cidadania; a redução da pobreza; a política industrial e o
papel dos bancos públicos; a política de inovação e educacional - o
ProUni, o FIES (financiamento a estudantes), as escolas técnicas e a
expansão das universidades; a política externa e a integração
sulamericana; o PAC e um de seus principais programas, o Minha Casa,
Minha Vida; o aumento do investimento público em energia, petróleo e
gás; e o pré-sal e o novo marco regulatório do setor.
Não podemos
retroceder também na distribuição de renda, no papel do Estado e dos
bancos públicos, no aumento do crédito e nas políticas anticíclicas, na
defesa de nossa indústria e da economia popular, na soberania enfim que
o Brasil conquistou ao ocupar seu lugar no mundo e não depender mais do
FMI, de ordens do capital financeiro.
Não se pode propor que abramos mão do mercado interno
Nossa
oposição diz que o crescimento não pode se dar a partir do consumo e do
mercado interno, do crédito e dos gastos públicos, mas sim a partir do
investimento. E clama contra o Custo Brasil. Mas, quando o nosso governo
reduz os juros (o custo maior de nossa economia, basta ver nosso
serviço da dívida interna e os spreads cobrados pelos bancos), o custo
da energia e os impostos da produção, dos investimentos, e da
exportação, quando nosso governo aprova políticas de defesa comercial e
cambial, de estímulo ao conteúdo nacional e à inovação, esta mesma
oposição diz que não basta. Isso, quando não se opõe, como fez com a
redução da tarifa de energia.
Nossos oposicionistas gritam que é
preciso investir mais, mas na prática propõem reduzir os investimentos
públicos e privados, e até mesmo a demanda, ao defenderem sempre e em
quaisquer circunstâncias a alta dos juros, com os resultados que
conhecemos em todo mundo: recessão e desemprego.
Mesmo a alegação
correta de que os custos do trabalho e de logística nos tiram
competitividade, esconde a verdadeira questão no mundo hoje, que é a
desvalorização administrada do câmbio pelos nossos competidores, e o
real valorizado. Sem falar do nosso maior custo, o financeiro, o que
pagamos de juros da dívida interna que querem porque querem subir e
subir para domar a inflação já em queda e dentro da meta mais a banda.
Todos os países do mundo reduziram os juros
As
exceções são o Brasil, o Egito e Gana. Tirando a China, que cresceu
1,6%, o Japão e a Coreia, que cresceram 0,9%, países como os Estados
Unidos cresceram no 1º trimestre do ano como o Brasil, 0,6%. No Reino
Unido e em Portugal o crescimento foi de 0,3%; e na República Federal da
Alemanha e na Holanda, 0,1%. Já na própria União Europeia, o PIB foi
negativo, de – 0,1%; na França de -0,2%; e na Itália e na Espanha, de
-0,5%. Sem falar na dívida pública e no déficit da maioria desses
países, e no desemprego na Europa e EUA.
Há uma queda do
crescimento (de altos índices) em praticamente todos os países,
começando pela China, Rússia, Índia e mesmo a área da Ásia-Pacifico.
Desconhecer essa realidade e o impacto da recessão europeia, da queda do
comércio mundial, e da guerra cambial em nossa economia, mais o impacto
do declínio de nosso comércio com a Argentina só pode ter uma
finalidade: escamotear, com fins políticos, os problemas enfrentados
pelo nosso país e o nosso governo.
Não há solução a curto prazo
para nossos problemas de infraestrutura e inovação e o governo vem
fazendo a lição de casa nessas áreas. Jamais se investiu tanto na
infraestrutura do país. Agora, com a retomada dos leilões de petróleo e
gás, com o programa de concessões e com o apoio cada vez maior à
inovação, demos um passo importante para exatamente aumentar os
investimentos e a produtividade.
Não há solução mágica para aumentar os investimentos
Eles
vêm crescendo paulatinamente, tanto os públicos quanto os privados, sem
falar no aumento ano a ano do Investimento Direto Externo (IDE). Mas
propor resolver essas questões abandonando o rumo e o modelo que mudou o
Brasil nesses últimos 10 anos é um suicídio e uma volta a um passado
que a maioria dos brasileiros seguramente rejeitará e repudiará.
Ao
contrário do que propõem nossos adversários - a direita conservadora
que sempre governou, e os que sempre ditaram regras aos governos,
começando pelos barões da mídia -, o que nós precisamos é consolidar o
modelo de desenvolvimento nacional que por três vezes nosso povo apoiou
nas urnas. É a única forma de enfrentar a crise que o mundo atravessa e
não cair no mesmo abismo que a Europa vive de desemprego e recessão, sem
resolver seus problemas da dívida pública e dos déficits fiscais.
Blog do Zé Dirceu
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