Partido dos Trabalhadores comemora
nesta segunda-feira mais um aniversário, vivendo emoções contraditórias;
seu deputado mais votado nas últimas eleições, João Paulo Cunha
(PT-SP), está preso, assim como José Dirceu, o dirigente que foi o maior
líder da legenda, depois de Lula; a despeito do momento difícil,
partido aposta todas as suas fichas na reeleição da presidente Dilma
Rousseff e ainda sonha com a conquista do "triângulo das Bermudas" da
política brasileira, com candidatos fortes em São Paulo, Minas Gerais e
Rio de Janeiro; depois de um massacre tão intenso, o PT conseguirá sair
mais forte das próximas eleições?
Paulo Emílio -
Nesta segunda-feira 10, o Partido dos Trabalhadores comemora mais um
aniversário. E prepara uma grande festa, em São Paulo, para comemorar os
34 anos de sua fundação. Lula, que viaja para os Estados Unidos para um
encontro com o ex-presidente americano Bill Clinton, não estará
presente. Todas as atenções estarão voltadas para a presidente Dilma
Rousseff que, a oito meses das eleições presidenciais deste ano, ostenta
boas condições de se sagrar vitoriosa – talvez em primeiro turno.
A despeito disso, o PT
vive o momento mais difícil de sua trajetória. Ontem, em Ribeirão Preto,
o ex-presidente Lula afirmou que os petistas estão "tristes pelos
companheiros presos". E não são quaisquer companheiros. Um deles, o
deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que foi o parlamentar mais votado da
legenda em 2010. Outro, José Dirceu, o principal líder da legenda desde a
fundação, depois de Lula. Além deles, o ex-presidente José Genoino, em
prisão domiciliar, e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, no semiaberto.
Mais do que festa, o
momento exige uma reflexão profunda sobre o momento atual vivido pela
legenda. Em pouco mais de dez anos, o partido elegeu dois presidentes –
um deles reeleito – e provocou ao mesmo tempo uma profunda transformação
no País, com políticas sociais e econômicas que retiraram milhões de
brasileiros da miséria.
No entanto, o PT não
encontrou um modelo de governabilidade satisfatório. Se, nos primeiros
anos do governo Lula, as alianças com partidos pequenos redundaram no
chamado escândalo do "mensalão", hoje o partido vive às turras com seus
principais aliados, especialmente o PMDB, sempre dispostos a cobrar um
preço mais alto pelo apoio. Diante dos erros e acertos cometidos não é
preciso que o PT se reinvente, mas é necessário que reflita e se
reencontre, especialmente com aqueles que lhe outorgaram o direito de
administrar o seu futuro: o povo.
Política de alianças
Embora a presidente Dilma
Rousseff seja herdeira do capital político do presidente Lula e tenha
intensificado as ações sociais – vide o programa Mais Médicos, por
exemplo – é preciso que o PT reflita sobre a encruzilhada na qual se
encontra. Tentando a reeleição, Dilma vem buscando acomodar a base
aliada ofertando cargos e, ainda assim, enfrentando resistências do
maior partido que gravita em torno de seu governo e que ameaça
rebelar-se a qualquer momento: o PMDB. Mesmo tendo Michel Temer na
vice-presidência e o controle de boa parte dos ministérios, a legenda
pressiona o governo por mais e mais cargos. No caso de negativas, a
ameaça é clara como o sol. Caso não consiga, o partido poderá não
fornecer o apoio desejado pelo PT em torno da reeleição de Dilma
Rousseff.
Ao mesmo tempo, a
disposição do PT de se sacrificar pelos aliados será testada em 2014,
nas eleições estaduais. Pela primeira vez em sua história, o partido
sonha em conquistar o chamado "triângulo das Bermudas" da política
nacional. Tem candidaturas fortes em São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro, com Alexandre Padilha, Fernando Pimentel e Lindergh Farias. E é
no Rio, governado pelo PMDB, justamente o nó mais complicado a ser
desatado – os peemedebistas garantem que, sem o apoio a Luiz Fernando
Pezão, Dilma terá dificuldades para montar seu palanque no estado. Dos
três candidatos, Lindbergh é o que hoje apresenta maiores dificuldades
para deslanchar.
Em nome das alianças, o
PT decidiu apoiar o PMDB em estados como o Pará, com Helder Barbalho,
Alagoas, com Renan Filho, e Amazonas, com Eduardo Braga. Terá candidatos
próprios nos estados que já governa, como o Distrito Federal, de Agnelo
Queiroz, o Rio Grande do Sul, de Tarso Genro e a Bahia, onde Jaques
Wagner apoiará o secretário Rui Costa. No Piauí, o senador Wellington
Dias é favorito para voltar ao poder, enquanto, no Mato Grosso do Sul, o
também senador Delcídio Amaral tem boas chances. Numa disputa mais
dura, a ex-ministra Gleisi Hoffmann tentará conquistar o Palácio Iguaçu,
no Paraná, hoje em poder do tucano Beto Richa.
Nesta festa dos 34 anos
de criação do Partido dos Trabalhadores, o partido estará dividido entre
os sonhos daqueles que pretendem se manter ou conquistar o poder e o
drama dos que ficaram pelo caminho. Na sua história recente, o PT sempre
demonstrou que o pragmatismo falou mais alto do que a solidariedade.
Mas a efeméride deve também servir para que a legenda reflita sobre os
acontecimentos, conquistas e derrotas que marcaram a sua história ao
longo dos tempos. Somente assim, será possível que o partido responda a
uma das perguntas fundamentais para definir o se futuro: Qual PT o PT
quer ser?
Brasil 247
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