Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil
Edição: Graça Adjuto
Apontadas como o principal fator
que ajuda a segurar o dólar em torno de R$ 2,40, em um cenário em que
moedas de países emergentes, como a Turquia e a Argentina, têm
despencado nas últimas semanas, as reservas internacionais custam caro
para o Brasil. Em média, o governo deixa de ganhar R$ 65 bilhões por ano
com a manutenção das reservas em torno de US$ 375 bilhões.
De autoria do economista Reinaldo Gonçalves, professor titular de
economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
a estimativa considera dois fatores. O primeiro é o custo cambial, o
que o país deixa de obter ao aplicar os recursos no exterior contra o
que os estrangeiros obtêm aplicando no Brasil. O segundo é o custo
fiscal, a diferença entre o custo médio da dívida pública brasileira e a
remuneração internacional das reservas.
Na verdade, a manutenção das reservas não representa um gasto direto,
mas sim o custo de oportunidade, aquilo que o governo deixou de
conseguir ao usar os dólares que entraram no país nos últimos dez anos
para engordar as reservas. Segundo Gonçalves, o custo cambial está
estimado em R$ 16 bilhões por ano. Já o custo fiscal é ainda maior e
atinge R$ 49 bilhões por ano.
Como os valores representam uma média de vários anos, Gonçalves
adverte que atualmente o custo de manutenção das reservas está ainda
maior. “Com o aumento dos juros no Brasil e a disparada do dólar desde
meados no ano passado, o retorno dos investidores estrangeiros que
aplicam no Brasil ficou ainda maior, o que aumenta ainda mais o custo de
oportunidade”, explica o professor da UFRJ.
Desde o início da escalada do dólar, em maio do ano passado, o Banco
Central (BC) tem optado por não mexer nas reservas internacionais e
segurar o câmbio apenas por meio de operações diárias de swap
cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. De agosto a
dezembro, o BC vendeu US$ 500 milhões por dia no mercado futuro. As
injeções caíram para US$ 200 milhões diários em janeiro.
Apesar do custo elevado de o Banco Central não mexer nas reservas,
especialistas consideram essa a melhor opção para segurar o dólar. “As
reservas internacionais são como um colchão que protege o país de
ataques externos. Como são maiores que a dívida externa [atualmente em
torno de US$ 312 bilhões], elas tornam o país credor líquido externo”,
diz o professor de economia internacional da Universidade Federal
Fluminense (UFF), André Nassif.
Embora reconheça a importância de as reservas internacionais
superarem as contas externas, Gonçalves considera que esse argumento
leva em conta apenas uma parte da discussão. Ele ressalta que a dívida
externa representa uma pequena porção do passivo externo brasileiro,
atualmente em torno de US$ 1,5 trilhão. “A maior fatia do passivo
externo corresponde aos investimentos de estrangeiros no mercado
financeiro. É capital especulativo que pode fugir do Brasil a qualquer
momento”, comenta.
Segundo Gonçalves, o país acumulou reservas internacionais nos
últimos dez anos de forma passiva, mais influenciado pelas condições
favoráveis da economia internacional antes da crise de 2008 do que por
uma política ativa. “A China e o Japão acumularam reservas para ampliar o
poder na economia global e se contrapor aos Estados Unidos. O Brasil,
até agora, só formou reservas para administrar custos altos”, opina o
professor da UFRJ.
Mesmo com o custo de carregamento das reservas internacionais, André
Nassif não acredita que o problema esteja no tamanho, mas na composição
delas. “Até 2009, as reservas cresciam por causa das exportações, mas
passaram a ser sustentadas pela conta de capital, que engloba tanto os
investimentos estrangeiros diretos como as aplicações em carteira
[capital especulativo] com os rombos crescentes nas contas externas”,
pondera. “A Argentina está sofrendo muito mais do que o Brasil
justamente porque tem reservas pequenas”, completa.
Agência Brasil

Nenhum comentário:
Postar um comentário