Falando com um pessedebista histórico sobre o terreno doado por José Serra para a Globo no Brooklyn, ele lembrou de duas decisões que estranhou assim que Serra assumiu a prefeitura de São Paulo em 2005: a primeira foi mudar o banco onde os salários dos funcionários eram depositados. Do Banco do Brasil para o Itaú.
A segunda é mais complicada, continua nebulosa e vai para a lista de fatos que ajudam a deixar ainda mais inexplicável a imagem de Serra de “bom gerente”: sua decisão de fazer a Ponte Estaiada, sobre o Rio Pinheiros.
A obra é, hoje, o cenário do SPTV. Na época, aventou-se a possibilidade de ter havido pressão da Globo para que ela fosse construída. Foi licitada na administração de Marta Suplicy (2001-2005) por 147 milhões de reais.
Poucos dias após ser eleito, Serra suspendeu tudo e desceu a lenha na iniciativa. “Quiseram fazer uma coisa faustosa, cara. Esse negócio de estaiada foi só para vaidade, só para gastar dinheiro. Não ajuda o trânsito e custa uma fortuna. Se tivermos tempo e condições, mudaremos o projeto”, disse.
Bem, houve mudanças, mas no sentido contrário do que ele falava. Dos 147 milhões originais, o custo total passou para cerca de 300 milhões. Só a paralisação ordenada por Serra rendeu 2,2 milhões para a empreiteira OAS como multa.
Chegou a haver um pedido de CPI para apurar as irregularidades em torno dos “cepacs” — títulos para se construir além do limite definido pelo zoneamento e que se constituem num fundo para financiar obras previstas nas operações urbanas — utilizados nas obras. Não foi adiante.
A ponte foi inaugurada em 2008 por Gilberto Kassab, sucessor de Serra. Foi batizada de Octávio Frias de Oliveira. JS a saudou como “um grande marco”. Os moradores de barracos da região receberam um cheque-despejo de 5 mil reais e um abraço. Os milhões a mais tiveram destino desconhecido, o trânsito continua péssimo e, todos os dias, os apresentadores do SPTV dão notícias com ela ao fundo.
Na festa de abertura, Maluf estava lá, mas Marta Suplicy não foi convidada. José Serra se elegeu governador depois, mas hoje não há ponte que salve sua carreira política do buraco onde se encontra.
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