O comportamento de nossas oposições é, às vezes, francamente
infantil. Parece-se com as crianças pequenas que gostam de atazanar os
coleguinhas maiores com chutes, beliscões e xingamentos. E que choram
quando os grandes reagem e lhes dão um chega pra lá.
Acabamos de presenciar uma dessas situações. Nos últimos dias, o que
mais se ouve são as queixas oposicionistas contra o protagonismo adotado
por Dilma Rousseff em seu pronunciamento a respeito das questões
energéticas e da redução das tarifas de eletricidade.
As oposições não gostaram do discurso. Seja na nota oficial do PSDB,
seja nos editoriais da imprensa oposicionista ou nas “análises” dos
entendidos recrutados por elas, disseram-se indignadas com o conteúdo e a
forma da manifestação.
O mínimo que afirmaram é que, ao convocar cadeia nacional de rádio e
televisão para anunciar as posições do governo, a presidenta havia se
aproveitado das prerrogativas do cargo e feito campanha em favor da
reeleição.
Supor que Dilma tenha resolvido se pronunciar em busca de dividendos
eleitorais é ignorar quem ela é. Aqueles que a conhecem sabem: em
condições semelhantes, ela diria exatamente o mesmo, ainda que não
cogitasse se candidatar a nada. Sabem também que seria improvável que
ela permanecesse indefinidamente calada, ouvindo o que andou ouvindo.
Quando o grande plano das oposições para voltar ao Planalto
fez água, elas passaram a se dedicar a outra estratégia. A
espetacularização do julgamento do “mensalão” não causou os danos que
esperavam na imagem do PT, como ficou evidente à luz de seu desempenho
na última eleição e perante o favoritismo dela e de Lula nas pesquisas
sobre a sucessão em 2014.
O antipetismo teve de mudar o alvo.
As oposições parlamentares e extraparlamentares dirigiram suas
baterias contra Dilma, querendo desmoralizar o governo. Tudo se tornou
pretexto para acusá-lo. A elas, a rigor, nunca importou a razão de cada
crítica, se o avaliavam mal por considerá-lo ignorante, incompetente,
corrupto ou qualquer outra coisa. O que buscavam era sempre ter uma
denúncia para incomodá-lo.
Bateram no governo sem parar. Os articulistas e comentaristas da
“grande mídia” fizeram a festa, espicaçando-o pelo que fazia, pelo que
deixava de fazer e pelo que nem estava em seus planos. O retardo das
chuvas de verão veio a calhar. Sentiram o gosto da vitória que poderiam
ter sobre a presidenta, que se orgulha de conhecer o setor elétrico. E
acreditaram que se desforrariam: após o vexame do apagão tucano, o PT
amargaria o seu.
A presidenta cumpriu com seu dever ao falar diretamente ao País.
Depois de três meses de bombardeio negativo, em que os esclarecimentos
dos responsáveis mereceram espaço minúsculo na mídia, cabia a ela
apresentar a versão do governo.
O pronunciamento foi em tom político, coisa que não é comum em Dilma, que prefere falar de maneira técnica.
Dá-se o caso que o tema já estava politizado e que seria
difícil tratá-lo de outra maneira. Para esclarecer o que pensava, ela
tinha de dizer por que discordava da oposição.
Não deixam de ser curiosas as expectativas que alguns setores da
sociedade têm em relação ao PT e suas lideranças. O que consideram
normal nos políticos da oposição torna-se pecado quando vem de um
petista.
Os pesos e as medidas são completamente diferentes para os dois lados.
Receber e não declarar recursos para fazer campanha? Nomear
correligionários para cargos públicos? Indicar aliados para funções na
administração? Tudo isso é regra no sistema político brasileiro. Mas
estaria proibido ao PT, que deveria amarrar as mãos e assistir aos
adversários fazerem o que apenas a ele é vetado.
Dar a outra face quando atacado? Nenhum faz isso, a começar por
alguns dos mais ilustres representantes do oposicionismo, que são
incensados quando se mostram duros e até vingativos (ou alguém se
esqueceu de quem é e como atua José Serra?). Mas Dilma teria a obrigação
de apanhar calada.
O fato é que ela não é assim. E é bom que deixe isso claro desde o
início do ano, que deve ser parecido a janeiro no denuncismo. Com sua
grande popularidade e o apoio quase unânime do País, é bem provável que
tenha de voltar aos meios de comunicação. Quando a provocarem além do
normal.
E não vai adiantar fazer beicinho.
Carta Capital
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