Do RTP
Como foi manipulada uma fotografia de guerra
Damir Sagolj, Reuters
A fotografia, tirada em 2003, nos
primeiros dias da guerra do Iraque, correu mundo para documentar a
humanidade dos invasores norte-americanos. Afinal, a criança que aparece
nos braços do militar era a sobrevivente de uma família que acabava de
ser morta pelas tropas dos EUA.
O repórter fotográfico bósnio Damir Sagolj era um dos jornalistas"embedded" nas
tropas norte-americanas que entraram no Iraque em 20 de Março de 2003.
Mas essa relação sempre equívoca com a tropa anfitriã não o impediu de
legendar conscienciosamente a imagem que acabava de captar.
Assim, Sagolj explicou na legenda que o fuzileiro do corpo médico
Richard Barnett sustentava nos braços uma menina iraquiana, cuja família
acabava de ser morta pelo fogo de tropas norte-americanas. A família
parecia fugir de perseguidores locais, em direcção às tropas dos EUA, e
estas abriram fogo, sem fazer perguntas.
Apesar da legenda explicativa que acompanhava a imagem, a imprensa
tablóide logo viu nela uma oportunidade de ouro para documentar o
escrúpulo humanitário das tropas invasoras. Barnett tornou-se para muita
dessa imprensa um símbolo do "bom soldado americano". Segundo Sagolj, a
revista People, com uma tiragem de 20 milhões de exemplares,
ligou para ele a perguntar o que sabia de Barnett e se este tinha
filhos. Mas a mesma revista não se interessava nada por saber a história
da fotografia e o que tinha acontecido naquele dia, 29 de Março.
A história não tinha nada de secreto e o fotógrafo há vários anos que
a conta a quem queira saber. Mas pouca opinião publicada quis
debruçar-se sobre o assunto.
Agora, como relata um artigo do diário francês Le Monde,
o tema foi alvo de atenção no festival de fotojornalismo Visa, em
Perpignan, cujo director, Jean-François Leroy, comentou a propósito: "O
fotógrafo não fez em momento algum propaganda americana com essa foto.
Para mim, ele fez o seu trabalho. Será que os media fizeram o seu
trabalho? Nem sempre".
Blog do Luis Nassif
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