Constitui verdade acaciana afirmar que é ruim a
imagem dos políticos no Brasil. Até as criancinhas do grupo o sabem e,
aliás, compartilham a opinião. Não é idiossincrasia nossa, tampouco
decorre de alguma peculiaridade da evolução política brasileira. Mundo
afora o mesmo ocorre em países ricos e pobres, de democracia mais ou
menos consolidada. Os políticos andam em baixa em todos os lugares.
Mas o fenômeno assume aqui feições
características. Passamos 20, dos últimos 50 anos, sob uma ditadura, que
se instaurou com o pretexto de extirpar a corrupção e a subversão. Seus
alvos imediatos foram os partidos e as lideranças políticas, acusadas
de uma ou outra. Os generais se fantasiavam de os mais honestos e
respeitadores das leis, e melhores como administradores. Durante o
autoritarismo, político era quase sinônimo de corrupto e incompetente.
Mesmo que já
tenham transcorrido três décadas desde a redemocratização, os ecos
daquele período ainda estão vivos. Uma parte ponderável de nossa
sociedade foi formada em uma cultura que olhava com repúdio aqueles que
se dedicavam à política. Muitos entre os mais jovens aprenderam com seus
pais a desconfiar deles e a menosprezá-los.
Em junho, nas manifestações de rua da
classe média conservadora, os bordões que se ouviam expressavam tais
sentimentos. É claro que são muitos os exemplos de políticos que só
pensam em ganhar dinheiro ilicitamente, locupletar-se e se eternizar no
poder. Assim como são inúmeros os casos de incompetência. O problema
brasileiro é, no entanto, maior que no resto do mundo? Terá se agravado
recentemente?
Pelo que se conhece da experiência internacional e de
nossa trajetória, parece que nem uma coisa nem outra. Tivemos, por
exemplo, um presidente que sofreu impeachment, mas o mesmo
aconteceu nos Estados Unidos. Nossos partidos foram acusados de se
financiar de maneira irregular, algo, porém, que volta e meia ocorre em
democracias maduras, como a Alemanha e a França. E nem temos famílias
reais que traficam influência, como a Espanha e a Holanda.
Dizer que a corrupção e a incompetência
dos políticos brasileiros aumentaram nos últimos anos é simples
ignorância ou ação política deliberada. Ao contrário do que pensa o
cidadão pouco informado, os mecanismos de controle do uso dos recursos
públicos são mais eficazes hoje que no passado e são melhores as safras
mais recentes de administradores em municípios, estados e União. Ao
contrário de ter piorado, avançamos nesse aspecto.
Então, o que ocorre? Por que a grita
contra “os políticos”? Por que diminui a aprovação de prefeitos,
governadores e da presidenta? Por que sobem nas pesquisas de intenção de
voto para a próxima eleição presidencial apenas os candidatos não
políticos e caem os candidatos de verdade? Por que as estrelas das
últimas pesquisas foram Marina Silva e Joaquim Barbosa, que nem sequer
partido têm?
Nossa vida política é curiosa. No segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso, o País ficou em sobressalto permanente: uma
crise cambial aguda, trocas atabalhoadas de presidentes do Banco
Central, denúncias de que autoridades econômicas passaram informações a
bancos particulares, a ameaça de um calamitoso apagão elétrico, a
inflação voltando a ser voraz. Tudo em um governo suspeito de ter
comprado votos na Câmara dos Deputados para conseguir permanecer no
poder.
Onde estava a
“grande mídia”? O que escreveram os colunistas que hoje se proclamam
indignados? Onde estavam os ministros da Suprema Corte? E a
Procuradoria-Geral da República? E a classe média “manifestante”?
Quietos e calados.
No fundo, tudo o que querem, desde quando
começaram a gritar de um ano para cá, é derrotar o “lulopetismo”. Mas
não sabem dosar a munição. Atingem o conjunto do sistema político e
abrem o caminho para aventuras de alto risco. Resta-nos lembrar que a
maioria do eleitorado brasileiro até finge que vota em gente que não é
do ramo. Quem não se recorda da dianteira de Celso Russomanno na eleição
municipal de São Paulo, em 2012? Ou de Ratinho Junior em Curitiba? Mas
quem foi que ganhou nas duas cidades?
Na hora de escolher alguém para um cargo
executivo importante, o eleitor pensa com seriedade. A menos que o
impeçam, é o que fará em 2014.
Carta Capital
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