Existe um jornalismo fast-food que se limita a seguir todo movimento
de manada, a apresentar visões extraordinariamente simplistas da
realidade ou a exercitar a opinião (leiga) sobre assuntos da maior
profundiade.
Em todos esses casos, valem-se do expediente da "autoridade" - no
caso, a possibilidade de sua opinião, por mais primária que seja, saia
publicada em jornais de alta circulação ou em jornais de TV.
Esse movimento teve início no pós-redemocratização e está
estreitamente ligado ao florescimento dos âncoras de rádio de TV e seus
bordões de fácil alcance - tipo "isto é uma vergonha".
Sempre valeu para rádio e TV, mas não tinha espaço entre formadores
de opinião - categoria na qual se enquadravam os jornais, antes da
deblacle dos últimos anos.
Um dos mais fáceis recursos de marketing consiste em juntar um
conjunto de temas negativos para concluir que tudo está negativo - ou o
inverso.
Por exemplo, junto a tortura a quatro réus acusados de um crime aqui,
com um ato de vandalismo ali, algumas tragédias sanitárias acolá e
passo ao leitor a percepção de que aqueles fragmentos de realidade se
constituem no todo.
Ora, países, estados, cidades, grandes empresas, são organizações
complexas, das quais se pode extrair centenas de exemplos positivos e
negativos.
Poderia falar do evento da SBPC em Recife, da euforia dos jovens com a
redescoberta da política, da ascensão da nova música brasileira, dos
resultados da indústria naval, do trabalho excepcional de ONGs e OSCIPs
em parceria com o setor público, da universidade do MST, da recuperação
pontual das bolsas e dizer que o país é uma maravilha.
O tal país terminal ou pujante não é o país real: é aquele que existe
na cobertura da mídia, na cabeça do jornalista, no cérebro de quem não
consegue enxergar além do retrato em branco e preto do momento.
É o marketing da notícia, uma opção que os jornais escolheram para se tornarem irrelevantes junto à opinião pública que conta.
Blog do Luis Nassif
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