Suposto esquema de propinas que atravessou vários
governos do PSDB em São Paulo e que teria envolvido ao menos US$ 50
milhões, diz revista
por Redação
— 21/07/2013
Marcelo Camargo / Agência Brasil
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que espera "rigor nas investigações
"A revista IstoÉ deste fim de semana traz como
matéria de capa reportagem sobre um propinoduto criado para desviar
milhões das obras do Metrô e da Companhia de Trans Metropolitanos (CPTM)
no estado de São Paulo. O esquema, montado durante os governos do PSDB,
envolveria o pagamento de propinas a autoridades ligadas a tucanos.
A denúncia parte do recente acordo feito pela
multinacional alemã Siemens com o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), no qual, em troca de imunidade civil e criminal, a
companhia revelou como ela e outras empresas se articularam para formar
cartéis que atuavam nas licitações públicas no setor de transporte sobre
trilhos. Mesmo sendo alvo de investigações desde 2008, nada foi feito
pelo governo estadual para que a prática criminosa parasse, e as
empresas envolvidas continuaram a disputar e ganhar licitações.
A publicação teve acesso a um depoimento de junho de 2008 de um
funcionário da Siemens da Alemanha, cujo nome é mantido em sigilo. Ele
revela detalhes de um esquema de desvio de dinheiro público que teria
envolvido, pelo menos, US$ 50 milhões dos cofres do estado. Segundo o
relato, a companhia alemã, após vencer uma licitação, subcontratava
outra empresa para simular serviços e, assim, realizar o pagamento de
propina.
Isso teria acontecido, por exemplo, em junho de
2002, durante o governo de Geraldo Alckmin, quando a Siemens obteve o
contrato para manutenção preventiva de trens da série 3000 da CPTM e
subcontratou a MGE Transportes. Conforme planilha de pagamentos da
Siemens obtida pela IstoÉ, a companhia germânica pagou à subcontratada
R$ 2,8 milhões até junho de 2006, sendo que R$ 2,1 milhões foram sacados
na boca do caixa por representantes da MGE para serem distribuídos a
políticos e diretores da CPTM. “Durante muitos anos, a Siemens vem
subornando políticos, na sua maioria do PSDB, e diretores da CPTM”, diz o
funcionário.
Segundo o depoimento, estariam envolvidos no
esquema o diretor da MGE, Ronaldo Moriyama, Carlos Freyze David e Décio
Tambelli, respectivamente ex-presidente e ex-diretor do Metrô de São
Paulo; Luiz Lavorente, ex-diretor de Operações da CPTM, e Nelson
Scaglioni, ex-gerente de manutenção do metrô de São Paulo. Ainda de
acordo com o depoimento, uma das transações contou com a participação
dos lobistas Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira, por meio de suas
respectivas empresas Procint E Constech e de offshores no Uruguai,
Leraway Consulting S/A e Gantown Consulting S/A. No caso em questão, a
propina teria sido paga porque a Siemens, em parceria com a Alstom,
venceu a licitação para implementação da linha G da CPTM, o que
incluiria uma comissão de 5% para os lobistas, conforme contrato ao qual
a revista teve acesso, e de 7,5% a políticos do PSDB e a diretores da
área de transportes sobre trilhos.
Entre os nomes que apareceram na investigação dos
promotores está o de Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas
do Estado (TCE) nomeado por Mário Covas, e que, no período em que as
propinas teriam sido negociadas, trabalhava diretamente com o
governador. Marinho foi prefeito de São José dos Campos e participou da
coordenação da campanha eleitoral de Covas em 1994, tendo sido chefe da
Casa Civil do governo paulista de 1995 a abril de 1997. Promotores de
São Paulo e da Suíça identificaram uma conta bancária pertencente a
Marinho que teria sido abastecida pela francesa Alstom e o ministério
público conseguiu bloquear cerca de US$ 1 milhão depositados.
Duas das principais integrantes do cartel apurado
pelo Cade, Siemens e Alstom, faturaram juntas até 2008 R$ 12,6 bilhões
em contratos com o governo de São Paulo. Atualmente, além da
investigação do Cade, há 15 processos no Ministério Público a respeito
do esquema -- aqui a reportagem original.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que espera "rigor nas investigações" e cobrará o dinheiro que tenha sido desviado dos cofres públicos.
Carta Capital
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