13 de julho de 2013
A ira santa do blogueiro que descobriu a tentativa de sumiço do processo da Globo.
O texto abaixo é uma condensação de um artigo de Eduardo Goldenberg, publicado em seu blog, Buteco do Edu.
Assim que começaram a pipocar as primeiras notícias após eu ter
descoberto a ação penal movida perante a Justiça Federal do Estado do
Rio de Janeiro pelo Ministério Público contra a funcionária que sumira
com os autos do processo que envolvia a Receita Federal do Brasil e a
GLOBOPAR – que autuava a empresa por sonegação de impostos que, à época,
somavam cerca de 600 milhões de reais – tratei logo de, dotado de
justificado orgulho, contar a novidade a meu pai, por e-mail.
A resposta veio em tom de reprimenda:
“Cara , onde você está se metendo ………….”
Venho ao blog, hoje, não apenas por conta da repercussão absurda que
ganhou a matéria publicada no Diário do Centro do Mundo, mas para
responder a meu pai (ou a mim mesmo, esse blog sempre funcionou perfeitamente como uma espécie de divã eletrônico).
Onde estou me metendo, afinal? – e acho que a pergunta nem é cabível.
Estou exercendo um direito que é meu e é inalienável: o de me
informar, e a Globo esmera-se dia e noite no extremo oposto: sonega
(opa!) informação, distorce os fatos, mente, manipula, lobotomiza.
Quando conversei com o Kiko Nogueira, do DCM, contei a ele sobre meu
brizolismo. Eu tinha 12, 13 anos de idade – pensem nisso, em 1981/1982! –
e a figura de Leonel Brizola, desde a primeira vez que o vi,
impactou-me de tal forma que eu ia, quase escondido, à Cinelândia para
ver seus comícios, para estar perto da Brizolândia, espaço sagrado para
eleitores e simpatizantes do velho caudilho, ao lado da Câmara dos
Vereadores. E eu ia escondido porque, além de ser um pirralho, em casa
meus avós, minha bisavó, meus pais – até – não tinham lá simpatia pelo
homem a quem chamavam, freqüentemente, de “agitador”.
Pois eu gostava era daquele agito!
Lembro-me, ainda moleque, de ouvir o Brizola dizer num
comício: “Quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante
de qualquer situação, atentem… Se a Rede Globo for a favor, somos
contra. Se for contra, somos a favor!”.
Vi Brizola passar como um trator por cima de seus adversários na
eleição de 1982 para o Governo do Estado do Rio de Janeiro, quando ele
era considerado “candidato sem chances do PDT ao Palácio Guanabara” – leiam aqui Veja
contra Brizola em 1982, interessante pesquisa sobre a maneira como a
imprensa tratava (e como sempre tratou!) o maior dos homens públicos
brasileiros.
E quando venceu, veio à tona um golpe sórdido, descoberto a tempo,
engendrado pela Rede Globo, que tentava roubar votos de Brizola para
tirar de suas mãos a vitória consagradora e acachapante.
Acompanhava, extasiado – e mais à frente pude ver como não era mero
deslumbre -, sua atuação como Governador do Rio de Janeiro: cercado dos
melhores homens, Brizola revolucionou a relação da polícia com a
população pobre, marginalizada, das favelas.
De seu absoluto e irrestrito respeito aos Direitos Humanos e às
garantias fundamentais – “se a polícia não dá botinada na porta de
cobertura na Vieira Souto, não será em porta de barraco que vai dar” – é
que nasceu a sórdida mentira, adulada pela Rede Globo, de que Brizola
era conivente com o crime organizado.
Seu projeto educacional, os CIEPs, que seriam depois destruídos por
Moreira Franco, foi mais uma de suas obras que para sempre ficarão na
memória do povo do Rio de Janeiro. Nilo Batista, Darcy Ribeiro, Abdias
do Nascimento, Oscar Niemeyer, alguns dos nomes que compunham a linha de
frente de seu governo. E isso diz tudo.
Ingressei na faculdade de Direito em 1987 e em 1989 fui um dos poucos
alunos a fazer ferrenha campanha por sua eleição para Presidente da
República – a esquerda, na PUC/RJ, se dividia entre Lula e Roberto
Freire.
Foi meu primeiro voto em Leonel Brizola!
Tornei a vê-lo Governador do Rio de Janeiro em 1991, tendo vencido as
eleições em 1990 – e foi meu segundo voto em Leonel Brizola, em quem
votei outras tantas vezes.
Em 2000, deu-se o episódio que contei aqui, no texto Faz um 12, Brizola! – e foi a partir daí que conheci, pessoalmente, o velho Leonel.
Nunca – nunca! – me esquecerei de nossa primeira (de muitas) conversa
pessoalmente, na sede do PDT, na rua Sete de Setembro, no Centro.
Brizola queria porque queria que eu me filiasse ao PDT. Repetiu, algumas vezes: “Te filia ao PDT, eu abono tua ficha!”
Hoje, confesso, me arrependo tremendamente: não porque eu fosse
seguir carreira na política, mas porque eu teria, ao menos, essa
relíquia, a ficha de filiação abonada por ele.
Em 2004, a morte levou Brizola – jamais seus ideais.
E eu quero lhes fazer uma última confissão: muitas vezes, em muitas
ocasiões, em comícios, em rápidas aparições na sede do PDT, em
caminhadas durante as campanhas, cantei junto com Brizola – e com o
povo! – o hino de que ele mais gostava.
“Brava gente brasileira!
Longe vá… temor servil:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil.”
Em quase todas as vezes – como no dia de seu comovente velório, no
Palácio Guanabara – chorei quieto vendo aquele homem, um brasileiro
maiúsculo, honrado, vilipendiado a vida inteira pela Rede Globo,
cantando esses versos com brilhos nos olhos, com gana, com um amor pelo
Brasil que não vi, nunca mais, nos olhos de nenhum de nossos homens
públicos.
Pois quando eu disse ao Kiko Nogueira, já no final do nosso papo, que
eu não quero mudar o mundo, que eu só quero fazer um barulhinho, foi
por conta dessas constatações que a gente vai acumulando com o tempo: eu
queria muito mudar o mundo, mas sozinho não posso; eu quero viver minha
vida sem grandes ambições, a mesma vida “simples e digna que todos os trabalhadores brasileiros deveriam ter”,
como disse meu irmão e meu compadre, Luiz Antonio Simas; mas sempre que
puder – como foi agora, nesse caso – vou fazer das minhas, lutando
contra o dragão, para honrar tudo aquilo que aprendi com ele, Leonel de
Moura Brizola.
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