11 de julho de 2013
É abjeto o silêncio da mídia, dos políticos e do governo num caso tão extraordinário.
Existe um escândalo dentro escândalo do caso Globo versus Receita Federal.
É a omissão da mídia, dos políticos e do governo. Todos estão se
fazendo de mortos, numa cumplicidade mórbida, como se não estivesse
ocorrendo nada.
A tarefa de lutar por um Brasil melhor, neste caso, está limitada, até aqui, a esforços épicos de blogues independentes.
Os fatos são espetaculares.
Vejamos.
A Receita, como primeiro noticiou o blog O Cafezinho, flagrou a Globo
numa trapaça fiscal.
Documentos vazados por uma fonte da Receita
mostram que a Globo tratou a compra dos direitos da Copa de 2002 como se
fosse um investimento no exterior para fugir aos impostos brasileiros.
Isso se chama sonegação. E sonegação é corrupção.
A empresa se utilizou, na manobra, de um paraíso fiscal, recurso
predileto de sonegadores no mundo todo. Não à toa, os governos dos
países adiantados decidiram impor um cerco terminal aos paraísos
fiscais, porque o dinheiro sonegado destrói a saúde dos cofres públicos e
impõe uma injustiça monstruosa à sociedade.
Em dinheiro de 2006, a Globo devia 615 milhões de reais à Receita.
Isso são seis vezes o que a Globo definiu como o maior caso de corrupção
da história do Brasil, o Mensalão.
Pressionada, a Globo, depois de tergiversar, admitiu que tivera sim
problemas com a Receita.
Mas jamais mostrou o darf, o recibo, para
comprovar que acertara as contas.
Se o enredo já não fosse sensacional, entrou depois em cena a notícia
– confirmada – de que uma funcionária da Receita tentara fazer
desaparecer a documentação do caso.
Uma história fiscal passou a ser policial também.
A funcionária escapou da prisão graças a um habeas corpus de Gilmar
Mendes. Para quem ela trabalhara? Teoricamente, basta buscar na lista
dos beneficiários de um eventual sumiço.
Não são tantos assim.
Estranhamente, ou não estranhamente, pensando bem, a mídia
corporativa – que tem exércitos de repórteres – não fez o menor esforço
para encontrar funcionária e tentar esclarecer um caso de dimensões
extraordinárias.
Isso atesta a miséria do jornalismo investigativo nacional.
Cenas bizarras vão aparecendo: um advogado da Globo disse não se
recordar do caso, como se estivesse falando da conta de um restaurante.
Um repórter do UOL entrou no caso, provavelmente sem conhecimento dos
donos, extraiu da Globo a admissão da multa e sumiu exatamente no
momento em que conseguira mostrar que tinha uma grande história.
O UOL – da Folha, sócia da Globo no jornal Valor – não deu mais nada.
O mesmo comportamento teve seu irmão, a Folha, que estampa na primeira
página a informação de que é um jornal a serviço do Brasil.
Sim, a serviço do Brasil – mas desde que isso não signifique investigar a Globo.
Fora todos os fatos comprovados, há especulações eletrizantes.
Exemplo: a justiça suíça, ao denunciar no ano passado a rede de
propinas comandada por João
Havelange e Ricardo Teixeira, denunciou a
propina milionária paga num paraíso fiscal para Havelange para que
garantisse a uma emissora de televisão que a Fifa venderia a ela, e não à
concorrência, os direitos da Copa de 2002.
Quanto a Globo ganha com futebol é uma enormidade: em 2012, foram
vendidas seis cotas a patrocinadores por 174 milhões cada. Isso dá mais
de 1 bilhão de reais.
O tamanho do negócio do futebol justificaria qualquer coisa?
Esta é uma das questões que deveriam estar sendo discutidas
publicamente, num regime de transparência urgente, dado o torrencial
interesse público do caso.
Mas não.
Há um silêncio abjeto que paira sobre este escândalo – exceto pela
luta heroica e solitária dos bravos Davis da internet contra o Golias e
seus amigos, ou cúmplices, se você quiser.
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