Acima, reportagem do Jornal da Record do 31.03.2014
João Vicente, ao lado do pai e da irmã, nos anos 60
por Luiz Carlos Azenha
Cinquenta anos depois do golpe de 1964, ainda há muitas vozes a ouvir, documentos a obter e avaliar e tramas a desenrolar.
Da direita midiática podemos esperar, sempre, muita fumaça. Por que?
Porque ela, que se diz encarregada de informar a sociedade brasileira
pairando nas nuvens da neutralidade, participou tanto da conspiração
quanto do golpe — ou financiando, ou dando voz àqueles que derrubaram um
presidente constitucional.
João Vicente Goulart, o filho do líder deposto, é hoje um homem de 57
anos de idade. Tinha, portanto, apenas 7 quando tudo aconteceu. Porém,
talvez ninguém no Brasil tenha se preocupado tanto em entender a trama
quanto ele, em nome da memória do pai.
Hoje João Vicente está convicto de que o pai poderia sair candidato
nas eleições de 1965 e tinha forças políticas para fazê-lo. Ia enfrentar
dois candidatos muito fortes, especialmente o ex-presidente Juscelino
Kubistchek, mas também o direitista Carlos Lacerda. Enquanto este foi
golpista desde sempre, JK pairou sobre o muro, da mesma forma que
Eduardo Frei fez no Chile antes do pinochetazo que matou Salvador
Allende. Tudo por oportunismo político.
Porém, pesquisas da época demonstram que tanto Jango quanto sua
política econômica quanto as reformas de base propostas por ele tinham
alguma sustentação popular.
A direita brasileira, quando fala de 64, também costuma descartar a
importância do apoio dado pelos Estados Unidos, alegando que afinal os
norte-americanos nem precisaram intervir militarmente. O fato, porém, é
que os golpistas só agiram como agiram por terem plena consciência de
que contariam com o eventual apoio dos Estados Unidos.
Agora sabe-se que desde 1962 o presidente John Kennedy perguntava ao
embaixador dos Estados Unidos no Rio, Lincoln Gordon, sobre possíveis
ações contra Goulart. Fez isso, inclusive, em conversa gravada na Casa
Branca.
Quem conhece a política dos Estados Unidos tanto quanto conheço, com
20 anos de experiência jornalística por lá, sabe que o grande fantasma
de qualquer líder norte-americano, de qualquer partido, é ser visto como
“fraco” em política externa.
George Bush, o pai, sofria do chamado “wimp factor” até autorizar a
invasão do Panamá, mas nem isso nem a primeira guerra contra o Iraque
foram suficientes para garantir a ele um segundo mandato — por causa do
estado da economia, perdeu de Bill Clinton.
Harry Truman “perdeu” a China durante seu segundo mandato, mas não
tinha nada a provar a ninguém àquela altura: tinha jogado bombas
atômicas no Japão sob a alegação de que com isso o fim da Segunda
Guerra, no Pacífico, seria acelerada.
Porém, justamente por ter “perdido” a China, não titubeou um segundo
sequer na Coreia: despachou tropas norte-americanas para a Península sob
a cobertura de uma força internacional da ONU.
A pressão sobre John Kennedy, quando este assumiu a Casa Branca, era
enorme. Os generais queriam escalar a guerra no Vietnã — o que o
substituto dele, Lyndon Johnson, faria –, mas Kennedy relutou. O fato de
que não autorizou cobertura aérea dos Estados Unidos à má sucedida
invasão da baía dos Porcos, em Cuba, custou a Kennedy ódio entre alguns
falcões do Pentágono.
Perder o Brasil, para Kennedy, seria o mesmo que perder a China. Só
que o Brasil ficava no que os norte-americanos viam como seu quintal.
É preciso olhar desta perpectiva para entender o engajamento dos Estados Unidos no golpe de 64, de forma aberta e encoberta.
É preciso entender que a cadeia de comando da Casa Branca sobre o
Pentágono, indiscutível em público, é tênue nos bastidores. Oliver
Stone, em seu documentário Untold History of the United States, chega a dizer que Kennedy sugeriu que corria o risco de tomar um golpe. Acabou assassinado.
Ninguém sabe exatamente o que aprontou Vernon Walters quando era
adido militar da embaixada dos Estados Unidos no Rio, no mesmo período.
Walters era homem de inteligência. Foi o contato dos militares dos
Estados Unidos com Castello Branco quando este serviu à Força
Expedicionária Brasileira na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial,
sob comando do exército norte-americano.
Estive com Walters em Bonn, então capital da Alemanha Ocidental,
quando ele era embaixador dos Estados Unidos no país. Gravamos sobre a
FEB. O então diplomata fez muitos elogios a Castelo e contou causos
sobre nossos pracinhas, que chegaram despreparados para o inverno
europeu. Walters emprestou a eles os agasalhos usados pelos gringos.
Porém, quando tentei conversar sobre o golpe de 64, Walters calou-se.
Falou generalidades. É óbvio que nunca admitiu que foi ele, Walters,
quem intermediou a benção dos Estados Unidos a Castelo, “confiável” aos
olhos de Washington.
Estou certo de que o nome de Walters se esconde nos documentos sobre o
golpe já divulgados nos Estados Unidos (alguns dados são encobertos por
tinta preta, por motivos de segurança).
É lógico que enquanto Gordon, o embaixador, cuidava do trânsito entre
os civis, publicamente, Walters trabalhava os bastidores, em segredo.
Dinheiro sempre foi uma arma poderosa e é certo que, se um dos dois
trabalhou pelo trânsito de dólares, foi o homem da espionagem.
Se alguma dúvida havia sobre a mudança do alinhamento internacional
do Brasil depois do golpe, ela foi desfeita em 1965. O país de Jânio
Quadros, que havia condecorado Che Guevara, ou de João Goulart, que
visitara a China, mandou soldados brasileiros para apoiar os fuzileiros
navais dos Estados Unidos que invadiram a República Dominicana. Foi para
combater a reforma agrária e a nacionalização de empresas estrangeiras!
Do ponto-de-vista de Washington, valeu ou não a pena ter investido no golpe?
Leia também:
Viomundo
01/04/14 - 19h1
Nos 50 anos do golpe militar, Lula recebe Hildegard Angel
(Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula).
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta terça-feira (1), Hildegard Angel, filha de Zuzu Angel, no Instituto Lula.
Hildegard veio convidar pessoalmente o ex-presidente para visitar a exposição Ocupação Zuzu, que será aberta hoje, no Itaú Cultural. Ela é a curadora da mostra e a filha mais nova da estilista Zuzu Angel, que ficou conhecida por sua luta contra a repressão da ditadura brasileira. O filho de Zuzu e irmão de Hildegard, Stuart Angel, era militante do MR-8 e foi preso e morto pela ditadura em 1971.
Exposição Ocupação Zuzu
A exposição reúne performances, mostras de cinema e encontros com estilistas que trazem à tona a multiplicidade da obra de Zuzu Angel e a legitimidade de sua luta contra a ditadura. A mostra inclui mais de 400 itens que retratam a história da estilista, inclusive algumas inéditas. A exposição estará aberta ao público até o dia 11 de maio, no Itaú Cultural. Mais informações: Itaú Cultural
(Instituto Lula)
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula).
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta terça-feira (1), Hildegard Angel, filha de Zuzu Angel, no Instituto Lula.
Hildegard veio convidar pessoalmente o ex-presidente para visitar a exposição Ocupação Zuzu, que será aberta hoje, no Itaú Cultural. Ela é a curadora da mostra e a filha mais nova da estilista Zuzu Angel, que ficou conhecida por sua luta contra a repressão da ditadura brasileira. O filho de Zuzu e irmão de Hildegard, Stuart Angel, era militante do MR-8 e foi preso e morto pela ditadura em 1971.
Exposição Ocupação Zuzu
A exposição reúne performances, mostras de cinema e encontros com estilistas que trazem à tona a multiplicidade da obra de Zuzu Angel e a legitimidade de sua luta contra a ditadura. A mostra inclui mais de 400 itens que retratam a história da estilista, inclusive algumas inéditas. A exposição estará aberta ao público até o dia 11 de maio, no Itaú Cultural. Mais informações: Itaú Cultural
(Instituto Lula)
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula).
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta terça-feira (1), Hildegard Angel, filha de Zuzu Angel, no Instituto Lula.
Hildegard veio convidar pessoalmente o ex-presidente para visitar a exposição Ocupação Zuzu, que será aberta hoje, no Itaú Cultural. Ela é a curadora da mostra e a filha mais nova da estilista Zuzu Angel, que ficou conhecida por sua luta contra a repressão da ditadura brasileira. O filho de Zuzu e irmão de Hildegard, Stuart Angel, era militante do MR-8 e foi preso e morto pela ditadura em 1971.
Exposição Ocupação Zuzu
A exposição reúne performances, mostras de cinema e encontros com estilistas que trazem à tona a multiplicidade da obra de Zuzu Angel e a legitimidade de sua luta contra a ditadura. A mostra inclui mais de 400 itens que retratam a história da estilista, inclusive algumas inéditas. A exposição estará aberta ao público até o dia 11 de maio, no Itaú Cultural. Mais informações: Itaú Cultural
(Instituto Lula)
Nenhum comentário:
Postar um comentário