Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
Tratamento desigual para ex-ministro tucano e ex-deputado petista é mais escandaloso do que se imagina
Onze anos depois de receber R$
300 000 de Marcos Valério, o tucano Pimenta da Veiga, candidato ao
governo de Minas Gerais, foi chamado pela Polícia Federal para
explicar-se.
Ex-ministro das Comunicações no
governo de Fernando Henrique Cardoso, Pimenta recebeu uma quanta seis
vezes maior do que os R$ 50 000 que a mulher do deputado João Paulo
Cunha foi buscar no Banco Rural.
A quantia recebida
por João Paulo foi considerada uma prova de que ele havia sido
corrompido pelo esquema, elemento essencial para demonstrar sua culpa
num caso em que foi condenado, incialmente, a 9 anos e quatro meses de
prisão.
Mas o ex-deputado
recorreu de uma das condenações, aquela tese absurda de que a própria
mulher fora usada para lavar dinheiro – a denuncia da AP 470 foi
bastante criativa, nós sabemos – e conseguiu diminuir sua pena.
Hoje, em regime semiaberto, João Paulo trabalha num escritório de advocacia de Brasília.
A condenação de João Paulo só foi possível porque o STF desconsiderou as provas que apresentou em sua defesa.
Ele disse que havia
recebido os R$ 50 000 como ajuda para a campanha eleitoral de 2004 na
região de Osasco e municípios vizinhos, onde, antigo operário
metalúrgico, construiu a liderança política. João Paulo apresentou notas
fiscais que confirmavam gastos realizados com pesquisas eleitorais.
Mostrou planilhas e números. Levou testemunhas que deram depoimentos
para provar o que dissera.
Você pode achar que era tudo a
encenação de um conto da carochinha. Mas daí eu pergunto: como explicar
o que aconteceu com Pimenta da Veiga?
Ele não tinha notas
fiscais nem depoimentos para justificar os R$ 300 000. Disse na época
que havia prestado serviços de advocacia para a DNA e a SMP&B,
agências de Valério. A Polícia Federal registrou que queria alguma prova
de que havia feito algum trabalho de verdade, como um parecer escrito
ou coisa assim. Não havia. Pediu que Pimenta da Veiga apontasse empresas
ou pessoas envolvidas nos casos em que havia atuado em tribunais. Nada.
Alegou-se que eram casos internos.
Em 2002, não custa
recordar, as agencias de Valério tomavam parte na campanha de Aécio em
Minas Gerais. Cristiano Paz, um dos maiores publicitários do Estado,
chegava a despertar inveja entre os concorrentes pela facilidade de
transitar entre o PSDB mineiro. Seu sócio Ramon Hollerbach tinha cadeira
cativa no comitê de campanha do PSDB.
Hoje, condenados a mais de 20 anos, os dois vivem confinados na Papuda, cumprindo os rigores do regime fechado.
Com base no que
dizia ter acontecido e no que não poderia ser demonstrado, Pimenta da
Veiga foi liberado inteiramente de qualquer acusação. Não foi sequer
acusado pelo Ministério Público. Não foi denunciado. Sua investigaçao
permaneceu no laudo 2828, aquele que foi mantido em segredo dos próprios
ministros do Supremo até que eles julgassem a denuncia contra os 40
réus do PT.
Hoje, Pimenta da Veiga é
candidato ao governo de Minas Gerais na sucessão de Antônio Anastasia.
SE sua candidatura for confirmada, estará no palanque de Aécio Neves.
Enquanto isso,
graças a uma remessa equivalente a apenas 16% daquela que Pimenta da
Veiga recebeu, João Paulo Cunha dorme num estabelecimento penal. Não
pode candidatar-se a deputado e foi levado a interromper uma carreira
onde era realista cogitar uma candidatura ao governo de São Paulo.
O Globo de hoje noticia que em
2013 Pimenta da Veiga foi indiciado no mensalão mineiro. OIto anos de
atraso. Ou dez anos, se você quiser contar com o momento em que a
denúncia chegou ao gabinete de Carlos Ayres Britto, no STF.
Preste
bem atenção: ele recebeu o dinheiro em 2003; a Polícia Federal
descobriu o pagdamento em 2005; e apenas oito anos depois, quando João
Paulo Cunha e os demais condenados da AP 470 batalhavam para conseguir
os embargos infringentes e obter um fiapo de recurso, ,Pimenta foi
indiciado.
Nascido
em 1947, só precisa esperar três anos para atingir os 70 anos que
garantem a prescrição de suas penas caso venha ser condenado.
Tudo se torna ainda
mais escandaloso quando se recorda que a multa cobrada de João Paulo a
título de reparação – R$ 370 000 – é 25% superior aos honorários
recebidos recebido por Pimenta da Veiga junto as empresas de Valério.
(este texto foi refeito às 8hs)
Isto É
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