Reportagem do Jornal Nacional, que apontou o uso
de um laranja no hotel St. Peter, é o pretexto usado pelo colunista para
que o juiz da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal negue o
direito ao trabalho e à prisão domiciliar (à qual foi condeanado) ao
ex-ministro José Dirceu; "juiz tem de proibir petista e trabalhar em
hotel suspeito", diz Reinaldo; ele só não explica o que Dirceu tem a ver
com a estrutura societária do hotel
247 - A sede de
sangue da extrema-direita brasileira não foi aplacada com a prisão de
José Dirceu, que está confinado desde o dia 15 de novembro na Papuda, em
Brasília, embora tenha sido condenado a um regime semiaberto de
prisão.
Agora, é também preciso negar a ele o
direito a uma oferta de trabalho, que permitiria justamente que a pena
fosse cumprida no regime ao qual ele foi condenado, o semiaberto, que
permitiria o trabalho durante o dia e a volta ao presídio apenas para
dormir.
O pretexto para negar mais um
direito a um condenado é a reportagem do Jornal Nacional sobre o uso de
uma offshore pelos donos do hotel St. Peter, que pretendem contratar o
ex-ministro. Prática comum no meio empresarial brasileiro, inclusive no
grupo Abril, que emprega Reinaldo, e no próprio Supremo Tribunal
Federal, uma vez que Joaquim Barbosa usou uma empresa desse tipo para
comprar um imóvel em Miami, a offshore é o argumento de Reinaldo para
pressionar a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal a negar o
emprego a José Dirceu. "O mínimo que o juiz da vara de execuções penas
pode fazer é dizer “não” ao emprego que Dirceu arrumou, apesar de sua
carteira assinada", diz ele.
Leia abaixo seu texto, que mostra que faca continua apontada para o pescoço de juízes:
Estarrecedora, para dizer pouco, a reportagem que
o Jornal Nacional levou ao ar na noite desta terça-feira sobre o hotel
St. Peter, do qual José Dirceu quer ser “gerente administrativo”. A
história já cheirava mal por várias razões. Na semana em que a carteira
do mensaleiro presidiário foi assinada, o suposto dono do hotel, Paulo
Masci de Abreu, foi autorizado a transferir de Franco da Rocha para a
Paulista uma antena de uma emissora sua. A Anatel disse “não”; o governo
disse “sim”. Tenho a certeza de que nem o repórter Vladimir Netto
imaginava que a coisa pudesse render tanto.
Resumo da obra para quem não leu o post a respeito (ver home) ou não assistiu à reportagem:
1: O tal Paulo Abreu não é o dono do hotel;
2: a dona, registrada no papel ao menos, é uma certa Truston International Inc, uma empresa com sede no Panamá;
3: o presidente da empresa, oficialmente, é um pobre-coitado panamenho chamado Eugênio Silva Ritter;
4: O repórter da Globo foi ao Panamá e encontrou o dito-cujo morando num bairro pobre. O “dono” de um hotel de luxo em Brasília, com mais de 400 quartos, estavam lavando carro…
5: O homem confirmou constar como sócio de centenas de empresas, mas disse mesmo trabalhar para uma certa Morgan y Morgan;
6: o procurador da Morgan y Morgan no Brasil é Raul de Abreu, filho daquele que se apresentava como “patrão” de José Dirceu;
7: por telefone, Paulo de Abreu assegurou que Ritter era mesmo um empresário e que já havia se encontrado com ele…
8: ninguém na Moragn y Morgan quis dar entrevista;
9: Ritter, na verdade, consta como mero auxiliar de escritório da empresa;
10: a Morgan y Morgan se diz uma empresa especializada em fundar outras empresas e em administrá-las;
11: a legislação do Panamá permite que empresas mudem de mãos sem qualquer informação às autoridades; o país pode, assim, atrair capital sem que precise saber a origem do dinheiro;
12: ao saber que a reportagem estava sendo feita, Rosane Ribeiro, advogada de Paulo Masci de Abreu, afirmou que a sócia majoritária da Truston International era, na verdade, a nora dele, a empresária lara Severino Vargas.
Vamos ver
No debate que fizemos na VEJA.com, ironizei que, se o emprego de José Dirceu fosse para valer, ele finalmente teria a chance de trabalhar. Mas quê… É impressionante como não há uma só história envolvendo este senhor que seja reta, direta, transparente, sem caminhos oblíquos. E, não é preciso ser muito sagaz para concluir, sendo quem é, ele atrai para a sua órbita gente que tem caráter parecido.
Vejam o roteiro que vai acima. A legislação vigente no Panamá, obviamente, permite toda a sorte de lavagem de dinheiro. Inclusive — E NÃO FAÇO UMA ACUSAÇÃO, MAS APENAS UMA CONSTATAÇÃO LÓGICA — a do narcotráfico, que é quem mais movimenta somas sem origem que possa ser declarada.
Ritter é sócio de tantas empresas que nem mesmo se lembrava da tal Truston International Inc, a verdadeira dona do hotel St. Peter. Como a legislação panamenha não cobra registro de quem vende o quê para quem, a advogada de Paulo Abreu agora diz que a nora de seu cliente é que era a dona e que vendeu as ações para o sogro. Verdade ou mentira, isso, como se vê, não tem registro nem no Panamá. Ninguém quer saber. Para todos os efeitos, a dona da empresa no Brasil é a “Truston”, que passou a pertencer a Paulo Abreu só depois da reportagem do Jornal Nacional: ele a teria comprado da nora…
Se a empresa era mesmo de sua nora, por que Abreu não contou isso ao repórter Vladimir Netto quando conversaram? Um advogado do empresário acompanhava a conversa. Nada! Em vez disso, ele confirmou que a Truston pertencia ao tal panamenho.
Um caso para José Eduardo Cardozo
Nesta terça, José Eduardo Cardozo prestou depoimento ao Senado. Disse que a sua obrigação é mandar investigar denúncias de irregularidades que chegam às suas mãos. Sei. Mesmo as anônimas. Por isso ele enviou aquele papelório contra os tucanos para a Polícia Federal.
Eis aí um caso apetitoso para o ministro, não? Nem se trata de denúncia anônima. Os fatos gritam de maneira escandalosa. O ministro vai mandar investigar os eventuais braços dessa tal Morgan y Morgan no Brasil? Uma empresa com essas características pode ser uma verdadeira lavanderia.
Tanto emprego para o Zé…
Na minha coluna na Folha de sexta passada, escrevi isto:
Estava na cara que algo de muito errado havia com esse “emprego” de José Dirceu. Vamos ver, agora, se os órgãos competentes se encarregam de investigar essa história, que tem cheiro de lambança.
Que vocação tem esse José Dirceu, não é mesmo! Chega a ser espantoso. Tanto lugar para trabalhar! Tantas ONGs que cuidam de carentes, às quais ele poderia se dedicar. Tantas causas nobres há na praça, a requerer o entendimento superior de um homem com a sua estatura. Mas quê… Ele foi logo arrumar emprego num hotel, cujo sócio majoritário até ontem era um pobretão panamenho, que confessa ser laranja de uma empresa que pode atuar livremente num país cuja legislação permite a mais desbragada lavagem de dinheiro.
O mínimo que o juiz da vara de execuções penas pode fazer é dizer “não” ao emprego que Dirceu arrumou, apesar de sua carteira assinada. Dado ao ambiente, isso certamente não faria bem à sua reeducação. Afinal de contas, um dos objetivos da pena é ressocialização do preso, não é mesmo?
Não é bom que alguém como o Zé fique num ambiente tão cheio de tentações.
Brasil 247
Resumo da obra para quem não leu o post a respeito (ver home) ou não assistiu à reportagem:
1: O tal Paulo Abreu não é o dono do hotel;
2: a dona, registrada no papel ao menos, é uma certa Truston International Inc, uma empresa com sede no Panamá;
3: o presidente da empresa, oficialmente, é um pobre-coitado panamenho chamado Eugênio Silva Ritter;
4: O repórter da Globo foi ao Panamá e encontrou o dito-cujo morando num bairro pobre. O “dono” de um hotel de luxo em Brasília, com mais de 400 quartos, estavam lavando carro…
5: O homem confirmou constar como sócio de centenas de empresas, mas disse mesmo trabalhar para uma certa Morgan y Morgan;
6: o procurador da Morgan y Morgan no Brasil é Raul de Abreu, filho daquele que se apresentava como “patrão” de José Dirceu;
7: por telefone, Paulo de Abreu assegurou que Ritter era mesmo um empresário e que já havia se encontrado com ele…
8: ninguém na Moragn y Morgan quis dar entrevista;
9: Ritter, na verdade, consta como mero auxiliar de escritório da empresa;
10: a Morgan y Morgan se diz uma empresa especializada em fundar outras empresas e em administrá-las;
11: a legislação do Panamá permite que empresas mudem de mãos sem qualquer informação às autoridades; o país pode, assim, atrair capital sem que precise saber a origem do dinheiro;
12: ao saber que a reportagem estava sendo feita, Rosane Ribeiro, advogada de Paulo Masci de Abreu, afirmou que a sócia majoritária da Truston International era, na verdade, a nora dele, a empresária lara Severino Vargas.
Vamos ver
No debate que fizemos na VEJA.com, ironizei que, se o emprego de José Dirceu fosse para valer, ele finalmente teria a chance de trabalhar. Mas quê… É impressionante como não há uma só história envolvendo este senhor que seja reta, direta, transparente, sem caminhos oblíquos. E, não é preciso ser muito sagaz para concluir, sendo quem é, ele atrai para a sua órbita gente que tem caráter parecido.
Vejam o roteiro que vai acima. A legislação vigente no Panamá, obviamente, permite toda a sorte de lavagem de dinheiro. Inclusive — E NÃO FAÇO UMA ACUSAÇÃO, MAS APENAS UMA CONSTATAÇÃO LÓGICA — a do narcotráfico, que é quem mais movimenta somas sem origem que possa ser declarada.
Ritter é sócio de tantas empresas que nem mesmo se lembrava da tal Truston International Inc, a verdadeira dona do hotel St. Peter. Como a legislação panamenha não cobra registro de quem vende o quê para quem, a advogada de Paulo Abreu agora diz que a nora de seu cliente é que era a dona e que vendeu as ações para o sogro. Verdade ou mentira, isso, como se vê, não tem registro nem no Panamá. Ninguém quer saber. Para todos os efeitos, a dona da empresa no Brasil é a “Truston”, que passou a pertencer a Paulo Abreu só depois da reportagem do Jornal Nacional: ele a teria comprado da nora…
Se a empresa era mesmo de sua nora, por que Abreu não contou isso ao repórter Vladimir Netto quando conversaram? Um advogado do empresário acompanhava a conversa. Nada! Em vez disso, ele confirmou que a Truston pertencia ao tal panamenho.
Um caso para José Eduardo Cardozo
Nesta terça, José Eduardo Cardozo prestou depoimento ao Senado. Disse que a sua obrigação é mandar investigar denúncias de irregularidades que chegam às suas mãos. Sei. Mesmo as anônimas. Por isso ele enviou aquele papelório contra os tucanos para a Polícia Federal.
Eis aí um caso apetitoso para o ministro, não? Nem se trata de denúncia anônima. Os fatos gritam de maneira escandalosa. O ministro vai mandar investigar os eventuais braços dessa tal Morgan y Morgan no Brasil? Uma empresa com essas características pode ser uma verdadeira lavanderia.
Tanto emprego para o Zé…
Na minha coluna na Folha de sexta passada, escrevi isto:
Estava na cara que algo de muito errado havia com esse “emprego” de José Dirceu. Vamos ver, agora, se os órgãos competentes se encarregam de investigar essa história, que tem cheiro de lambança.
Que vocação tem esse José Dirceu, não é mesmo! Chega a ser espantoso. Tanto lugar para trabalhar! Tantas ONGs que cuidam de carentes, às quais ele poderia se dedicar. Tantas causas nobres há na praça, a requerer o entendimento superior de um homem com a sua estatura. Mas quê… Ele foi logo arrumar emprego num hotel, cujo sócio majoritário até ontem era um pobretão panamenho, que confessa ser laranja de uma empresa que pode atuar livremente num país cuja legislação permite a mais desbragada lavagem de dinheiro.
O mínimo que o juiz da vara de execuções penas pode fazer é dizer “não” ao emprego que Dirceu arrumou, apesar de sua carteira assinada. Dado ao ambiente, isso certamente não faria bem à sua reeducação. Afinal de contas, um dos objetivos da pena é ressocialização do preso, não é mesmo?
Não é bom que alguém como o Zé fique num ambiente tão cheio de tentações.
Brasil 247
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