12/03/2014
Mauro Santayana
(Hoje em Dia) - Toda
nação tem seus símbolos. Um dos mais
tradicionais símbolos russos, à altura
de Dostoiévski, e de Pushkin, são as Matrioskas, as bonecas de
madeira, delicadamente pintadas e
torneadas, que, como as camadas de uma cebola, guardam, uma dentro da
outra, a
lembrança do infinito, e a certeza de que algo existe, sempre, dentro
de todas as coisas, como em um infinito jogo de espelhos e surpresas.
Ao se meter no complicado xadrez geopolítico da Eurásia, que
já dura mais de 2.000 anos, o “ocidente” esqueceu-se dos russos e de suas
Matrioskas.
Para enfrentar o desafio colocado pela interferência
ocidental na Ucrânia, Putin conta com suas camadas, ou suas Matrioskas.
A primeira camada, a maior e a mais óbvia, é o poder nuclear.
A Rússia, com todos os seus problemas, é a segunda potência
militar do planeta, e pode destruir, se quiser, as principais capitais do
mundo, em uma questão de minutos.
A segunda é o poder convencional. A Rússia dispõe, hoje, de
um exército quatro vezes maior que o ucraniano, recentemente atualizado, contra
as armas herdadas, pela Ucrânia, da antiga URSS, boa parte delas, devido à
condição econômica do país, sem condições de operação.
A terceira, é o
apoio chinês, a China sabe que o que ocorrer com a Rússia, hoje, poderá
ocorrer com a própria China, no futuro, assim como da importância da
Rússia, como última barreira entre o Ocidente e Pequim.
A quarta Matrioska é o poder energético. Moscou forneceu, no
último ano, 30% das necessidades de energia européias, e pode paralisar, se
quiser, no próximo inverno, não apenas a Ucrânia, como o resto do continente,
se quiser.
A quinta, é a financeira. Com 177 bilhões de superávit
na balança comercial em 2013, os russos são um dos maiores credores, junto com
os BRICS, dos EUA. Em caso extremo, poderiam colocar no mercado, de uma hora
para outra, parte dos bilhões de dólares que detêm em bônus do tesouro
norte-americano, gerando nova crise que tornaria extremamente complicada a frágil
a situação do “ocidente”, que ainda sofre as consequências dos problemas que
começaram – justamente nos EUA – em
2008.
Finalmente, existe a questão étnica e histórica. Para
consolidar sua presença nas antigas repúblicas soviéticas, Moscou criou
enclaves russos nos países que, como a Ucrânia, se juntaram aos nazistas, para
atacar a URSS na Segunda Guerra.
Naquele momento, o nacionalismo ucraniano, fortemente
influenciado pelo fascismo, não só recebeu de braços abertos, as tropas alemãs,
quando da chegada dos nazistas, mas também participou, ao lado deles, de alguns
dos mais terríveis episódios do conflito.
Derrotados pelo Exército Soviético, na derradeira Batalha de
Berlim, em 1945, os alemães sabem, por experiência própria, como pode ser
pesada a pata do urso russo, quando provocado.
Jornal do Brasil
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