5 de maio de 2014 | 12:38 Autor: Fernando Brito
Os últimos dias, afinal, têm sinalizado algo que, nos últimos meses, parecia perdido.
Porque o sentido de mudança foi transformado, pela imprensa deste país, num regressismo que não resiste a um sopro.
Então mudar o Brasil, retomar o desenvolvimento, combater a
corrupção, tornar eficiente a máquina pública, reduzir a inflação e
valorizar o salário é algo que a direita brasileira possa acenar ao
nosso povo?
Eles, que nos deram a recessão dos anos 90, a liquidação do
patrimônio público (vendido em condições obscuras), que entregaram o
país com inflação de dois dígitos, que acham “alto demais” o
salário-mínimo?
Mas, por paradoxal que pareça, começamos a aceitar o discurso da
mídia de que “aqueles eram os bons tempos” e que o governo Dilma não
iria “colocar em risco as conquistas do Plano Real”.
Aceitar o discurso do adversário é o primeiro passo para ser derrotado por ele.
Desde as manifestações de junho, embora Dilma tivesse ensaiado – e
executado, nos campo de quatro dos “cinco pactos” que propôs na ocasião –
uma reação, deixou-se de lado o combate político.
E quando se deixa o embate político perde-se um pouco a cada dia de nossa identidade.
Embora seja necessário – e demolidor – mostrar os números
comparativos, é preciso agregar a isso um sentimento – plenamente
presente em 2010 – de que este país tem futuro e que este futuro só não é
presente exatamente porque o passado foi como foi.
A memória que o tempo atenua, o discurso político precisa reacender,
para que o fluxo de informações entre as gerações fundamente o
julgamento do presente.
E isso tem um imenso poder, tanto que se nota, agora, que Eduardo
Campos começa a fazer ressalvas em sua identidade com Aécio Neves,
porque percebeu que a velha direita estará toda unida em torno dele, a
começar por FHC e um já não tão constrangido José Serra.
A eleição de 2014 não é um “passeio”, como se acreditou.
Nem é um desastre, como a mídia não cansa de apregoar.
Aécio não tem, a esta altura, o que Serra tinha.
Campos não tem- e nada indica que terá – aquilo que Marina Silva atingiu.
O problema do campo progressista é o de não ter, de novo, o que tinha.
Em parte, certamente, por parecer diferente do que foi, por não proclamar diariamente o que é.
Acaba-se, assim, negligenciando-se nosso próprio significado.
Nada deixa mais a direita irritada que Lula e Dilma romperem o seu
monopólio de informação e falarem fora da pauta que a mídia lhes impõe.
É na batalha da comunicação que se perde ou ganha esta guerra por corações e mentes.
E é nela que o Governo Dilma – até agora – vinha tendo o seu pior
desempenho. Não apenas por ser ruim, mas por achar que o ruim era o bom,
com o abandono da polêmica pública.
O desafio de Dilma não é o de ganhar votos, mas o de recuperar seu significado.Tijolaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário