Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil
Edição: Fábio Massalli
A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro
(CEV-RJ) apresentou hoje (7) documentos que comprovam que os órgãos de
repressão do governo militar deram informações falsas sobre o caso do
ex-deputado Rubens Paiva, dado como desaparecido em 20 de janeiro de
1971.
De acordo com o presidente da comissão, Wadih Damous, o coronel
reformado Raymundo Ronaldo Campos, em depoimento à comissão em novembro,
informou que a versão oficial de que Paiva foi resgatado por
guerrilheiros no Alto da Boa Vista e desapareu na mata, não é verdade.
“O coronel Raymundo revela que lhe foi atribuída a missão de montar
esse cenário. O então comandante do [Destacamento de Operações de
Informações - Centro de Operações de Defesa Interna] DOI-Codi, o major
[Francisco] Demiurgo [Santos Cardoso], determinou a ele que levasse o
Volkswagen até determinado ponto no Alto da Boa Vista e lá fizesse o que
ele fez, com os dois sargentos que o acompanhavam: tentaram incendiar o
carro com tiros de pistola, não conseguindo, riscaram um fósforo e
tacaram no tanque de combustível, o carro pegou fogo e explodiu. A
partir daí montou-se a farsa que perdurou 43 anos”.
Segundo
o depoimento de Campos, o ex-deputado teria sido morto sob tortura.
“Essa farsa foi justificada pelo comandante, que interpelado pelo
próprio coronel Raymundo, disse que era preciso montar aquela história
porque um prisioneiro havia sido morto em interrogatório no DOI-Codi”,
informou Damous.
No depoimento, consta que o coronel não viu Rubens Paiva em nenhum
momento e só soube o nome do preso político que havia morrido quando
retornou da missão, sem ter recebido nenhum detalhe das condições da
morte nem do destino do corpo.
Segundo o presidente da CEV-RJ, as conversas com o coronel Campos
duraram dez meses, até ele concordar em prestar um depoimento formal. As
informações só foram reveladas agora porque poderiam atrapalhar as
investigações, além do coronel não ter autorizado, a princípio, a
divulgação das informações, mudando de ideia depois.
Damous diz que foram citadas pessoas ainda vivas, que poderiam
esclarecer aonde está o corpo de Rubens Paiva. “O coronel faz menção, no
seu depoimento, ao general reformado José Antônio Nogueira Belham e ao
então tenente Armando Avólio. O general Belham era comandante no
DOI-Codi e, pelas informações que temos, estava em serviço no dia do
assassinato de Rubens Paiva, e o tenente Avólio também é mencionado como
o autor da perícia no carro incendiado no Alto da Boa Vista, sob
alegação de que foi atacado por terroristas. Então, nesse sentido, são
duas pessoas chaves que podem esclarecer o que aconteceu com Rubens
Paiva e aonde ele está enterrado”.
A CEV-RJ pretende trocar informações com a Comissão Nacional da
Verdade para verificar se Avólio e Belham já prestaram depoimento e se o
caso Rubens Paiva foi tratado. A comissão também apresentou documentos
do acervo do Sistema Nacional de Informação (SNI) do Arquivo Nacional
que mostram que os filhos e a viúva de Rubens Paiva foram monitorados
até pelo menos 1984, data do último documento encontrado.
Agência Brasil

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